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quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Fria manhã de julho

Todos os dias pela manhã
encho o peito de esperança
e vou para o trabalho animado.
Abro as gavetas com entusiasmo
e um otimismo nato
que busco compartilhar.
Meu tapete é curto
sob meus pés cansados.
Sigo em frente.
As notícias do dia deprimem.

sábado, 10 de setembro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Traque de Salão

Dona Rica não gostava nenhum pouco daquela febre de fogos de artifício durante o período das festas juninas.
A meninada se reunia no final da tarde e soltava fogos de artifício na rua. A maioria era daqueles de se atirar ao chão e ouvir o estalinho. Eram chamados de traques de salão.
Alguns dos meninos, geralmente os maiores e mais atentados, soltavam as bombinhas de diversos tamanhos. Umas pareciam um palito e eram facilmente atiradas para estourarem antes de cair ao chão. Também eram as mais baratas vendidas em caixinhas.
As mais robustas, entortavam latinhas de molho de tomate, litros de óleo de cozinha e até galões de tinta vazios. Eram um perigo, fora o estrondo que era ensurdecedor.
Tonhola insistiu com a avó para que lhe arrumasse algum dinheiro para comprar uma caixinha das bombinhas mais fracas, do tipo palito, ou traques.
- De jeito nenhum! Respondeu rispidamente a avó.
E continuou aos resmungos: - Onde já se viu! Só me faltava essa, você comprar essas bombinhas e se misturar com essa molecada da rua assustando todo mundo. Nem pensar.
Mas, como avó é avó, acabou cedendo e alguns trocados foram liberados, depois de muita insistência e explicações do neto de que os traques eram fraquinhos e só faziam estalos, não ofereciam perigo algum.
Foi o moleque à venda com os trocados que lhe renderam uma caixinha de traques, do tipo palito e ainda alguns pacotinhos de estalos de salão.
Voltou todo contente às pressas para se juntar aos garotos e suas façanhas.
Encontrou os colegas concentrados em uma volta no meio da rua. Aproximou-se também curioso e um dos garotos estava preparando uma bombinha das maiores e sobre ela ia apoiar uma lata vazia de biscoitos. Era uma lata quadrada, bem maior que os litros de óleo que geralmente usavam. Tudo pronto, todos se afastaram e o fogo foi riscado. Tapados os ouvidos, o estrondo foi forte, mas a altura que a lata subiu foi decepcionante, somente alguns metros. Correram para ver e a lata ficou toda estufada, deformada pela potência da bombinha com o fundo todo arredondado.
Passado o susto, Tonhola exibiu orgulhoso aos colegas a caixinha de traques que trouxera. Rapidamente ele acabou com os estalos de salão, atirando aos pés dos colegas que saltavam aos risos.
Quando chegou a vez dos traques, poucos meninos ainda soltavam bombinhas. Tonhola riscou fogo no primeiro palito e o atirou para o alto e, como esperado, ele estourou antes de chegar ao chão e assim foi outro e mais outro. No entusiasmo e com o apoio dos colegas, cada vez ele atirava mais alto os traques até que numa dessas atiradas, o palito foi levado pelo vento que soprava mais forte e foi cair justamente no pescoço de um garoto menor que apenas assistia ao espetáculo se divertindo da calçada.
Final de festa.
O estrago até que foi pouco no pescoço do menino, apenas uma pequena mancha de queimadura. Mas o susto e o chororô foi grande. O menino foi correndo aos berros para sua casa e os demais se debandaram. Tonhola fechou a caixinha com os poucos traques que ainda lhe restavam e se mandou para casa e ficou quietinho no seu canto tentando disfarçar o espiritamento em que estava para a avó.
Passou o horário do jantar e avó percebeu o menino concentrado diante da televisão e pensou que ele devia de ter se cansado com a brincadeira e deixou que estar.
Mais tarde toca a campainha. O coração de Tonhola disparou e com a avó na cozinha, foi o menino abrir a porta.
- Chame sua avó! Falou forte o pai do garoto com o menino atingido seguro pela mão. Nem foi preciso chamar, ao ouvir a aflição do pai, Dona Rica foi ter com o vizinho, ainda enxugando as mãos no pano de prato.
- Dona Rica, olhe só o que seu neto aprontou no pescoço de meu filho. Por pouco não machuca mais grave. E se tivesse atingido o olho? Ser queimado com bombinha na rua, tem base? Só trouxe ele aqui para a senhora ver com seus próprios olhos a mancha de queimadura que ficou aqui no pescoço dele, olhe só, e também porque sabia que seu neto não ia lhe falar nada. Espero que isso sirva de lição e que não mais aconteça.
O queixo de Dona Rica foi ao chão.
Pediu mil desculpas, se ofereceu para cuidar da queimadura, no que foi recusado, a queimadura não foi tão grave.
- Que vergonha! Sinto muitíssimo, com o Tonhola isso não mais ocorrerá. Garanto!
Tonhola, de orelhas murchas, acompanhava tudo ali do lado. Nada podia fazer. Foi sem querer tentou explicar em vão e ainda levou um breque de fica quieto em seu canto.
Aquela foi a única vez que Tonhola comprou bombinhas.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Quereres

Querer
Eu quero.
Quero aquele querer.
Livre.
Aberto e solidário.
Amigo.
Quero dividir também.
O mais que posso,
minha alegria,
meus sonhos,
meus planos.
Quero paz nos ombros às segundas pela manhã.
Quero seguir ligado
na simplicidade do nada.
Sendo.
Sendo lembrado,
amado, odiado... lido!

quinta-feira, 7 de julho de 2016

Carinho

Um pai estacionou o carro
o filho de uns oito anos
desatrelou o cinto e desceu
bateu a porta com firmeza
um retoque no cadarço do tênis
vamos menino!
o filho deu uma corridinha
carinhosamente segurou a mão do pai
e foram à loja do outro lado da rua.

quarta-feira, 8 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - Emulsão Scott

Óleo de fígado de bacalhau é um dos remédios mais antigos do mundo. É um fortificante que combate a desnutrição.

Todos os dias após a refeição, uma colher de sopa pra ficar forte e acabar com a palidez. É também recomendado para tosse, catarro, bronquite.

A imagem daquele homem carregando um peixe nas costas, ficou gravada na memória de Tonhola. Qual menino naquela época não tomou desse remédio?

segunda-feira, 6 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Rebote

O Rebote foi uma lanchonete muito badalada.

Localizada numa esquina no térreo de um edifício vertical no centro da cidade.

Foi lá que Tonhola tomou sua primeira cerveja sozinho.

E tomou por acaso porque tinha marcado de se encontrar com o amigo Erasmo, o forte como um tourinho, que naquele dia se atrasou e quando chegou a primeira cerveja já tinha se ido.

Tonhola foi pra casa depois se embaraçando nas pernas.

Terminada a seção do cinema, a moçada ali se reunia. A calçada ficava tomada de gente.

Um garoto que tinha um Chevette, carro famoso na época, resolveu aprontar e fazer gracinha para as moças. Veio em disparada pela rua e deu um baita dum cavalo de pau na esquina. Por sorte não atingiu ninguém. Do mesmo jeito que chegou fazendo um barulhão assustador, manobrou rapidamente e saiu acelerado. Se não tivesse agido assim, certamente teria sido atingido pelos diversos elogios que lhe fizeram.

domingo, 5 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - Taça de Ouro

Taça de Ouro era o nome de uma sorveteria no centro da cidade.

Era famosa. Naquela época era difícil passar um final de semana sem saborear uma de suas delícias.

Foi lá que Tonhola conheceu e saboreou sua primeira banana split.

sábado, 4 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - Inseto no Ouvido

Nas noites quentes as famílias levavam as cadeiras para as calçadas e se reuniam para jogar conversa fora e ver a noite passar aguentando o calorão.

Dona Rica batia papo com as vizinhas enquanto os meninos brincavam nas proximidades.

As mariposas ficavam dando voltas em torno da luz no alto do poste de eucalipto de iluminação pública.

Numa dessas noites, um desses insetos, entrou no ouvido do marido de uma das amigas de Dona Rica que proseavam na calçada.

Foi um desespero.

O homem se desesperou com aquele bicho se mexendo em seu ouvido e sua reação assustou a meninada por perto. Tonhola ficou muito assustado.

Correram com o homem para o hospital.

Não demorou muito e voltaram.

O homem, muito tranquilo e sereno, contou que o médico do plantão foi muito prestativo e o orientou, depois de atendê-lo, que caso aconteça novamente, primeiro para não se apavorar e depois pedir que alguém coloque no ouvido um pouco de água morna. É tiro e queda, o bicho sai mesmo.

sexta-feira, 3 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Primeiro LP

O primeiro LP que Tonhola comprou foi Canta Canta Minha Gente, com Martinho da Vila.

Canta, canta, minha gente, deixa a tristeza pra lá, canta forte, canta alto, que a vida vai melhorar, que a vida vai melhorar.

Até hoje é considerado um dos melhores discos lançados no Brasil

Um disco de samba. O menino descobriu o samba e se apaixonou. Estava no sangue.

Em pouco tempo decorou o disco todo e não se cansava de ouvir. Era chegar da escola e ligar a vitrola. Os colegas diziam que ele ia furar o disco de tanto tocar.

quinta-feira, 2 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - Vitrola

Dona Rica comprou uma vitrola. Foi numa promoção de lançamento na inauguração de uma nova loja de eletrodomésticos da cidade.

Tonhola ficou deslumbrado com o novo equipamento. Convidava os amigos para mostrar a novidade. Um deles brincou que ele dali em diante também poderia fazer brincadeiras dançantes na casa da avó.

- Ficou louco! Disse ele.

– Nem pensar! Completou, depois de uma bela engasgada.

A vitrola era das mais modernas da época. Compacta, tinha rádio e o toca discos ficava embutido sob a tampa superior de plástico azul, a parte de baixo era preta. Era só levantar a tampa e colocar o disco no prato para rodar. Tonhola fuçou em todo o equipamento, passou o dedo na agulha do braço do toca discos e ouviu o arranhado que fazia. Sua avó deu-lhe uma bronca dizendo que ele ia estragar a vitrola antes de usar.

Só faltava comprar o primeiro disco.

quarta-feira, 1 de junho de 2016

As Travessuras de Tonhola - Garibaldo

Tonhola teve na escola, antes de sua inauguração no meretrício, um colega estranho de nome Garibaldo.

Tonhola o admirava.

Ele era magro, o mais alto e mais velho da sala. Meio brucutu, fechado em seu mundo.

Garibaldo não saia da zona. No horário do recreio, os outros garotos o rodeavam querendo saber notícias sobre as damas. Ele sempre se esquivava.

Mais tarde, Tonhola veio a saber que ele era filho de uma delas.

As Travessuras de Tonhola - Na Palha de Arroz

Depois que Tonhola passou a frequentar o meretrício, sua rotina mudou.

Seu tio Alfredo ficou sabendo, uma notícia daquelas corria longe e rápido.

Um dia, estavam os meninos reunidos na porta da casa jogando conversa fora, quando seu tio chegou. Cumprimentou a todos e fez uma gracinha qualquer com o sobrinho de modo que todos riram e perceberam que o tio soubera que ele tinha perdido a virgindade na zona.

Tonhola, muito sem graça, ficou primeiramente assustado, depois até que absorveu aos poucos uma aura de felicidade, sem saber o motivo.

Antes de seu tio entrar para ter com sua avó ele se voltou e deu um recado estranho. Disse que só não podia era fazer na palha de arroz porque poderia correr o risco do equipamento cair.

Os meninos riram. Tonhola não entendeu o recado.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Troca de Calções

Naquela mesma represa com uma casinha de madeira no meio Tonhola foi numa outra ocasião passear com alguns amigos.

Lá se enturmaram facilmente com algumas meninas.

Dessa vez, Tonhola, velhaco, não entrou na represa até a casinha. Ficou pela beirada se divertindo.

O calção de banho de Tonhola ficava bem apertado ao corpo. Era de um tecido sintético, azul escuro, parecido com tricô, como se tivesse sido fabricado à mão.

Na volta para casa, no final da tarde, um dos colegas, com o espírito do Joacir, era também daqueles que se divertia muito com um mal feito. Pegou de supetão na sacola de Tonhola o difamado do calção e fez graça mostrando aos demais, colocando-o na cabeça. Tonhola tentou tomá-lo de volta mas acabou por vencido. O calção foi parar nas mãos de uma das meninas mais assanhadinhas que, na frente de todos não penso duas vezes e ali mesmo, na rua, no caminho de volta da represa, vestiu o calção sob sua curta saia jeans.

No outro dia, na escola, os colegas zoaram Tonhola dizendo que ele tinha trocado o calção de banho com uma das meninas.

domingo, 29 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Corrida Noturna

Tonhola era dos mais novos da turma.

O chefe organizou uma corrida com toda a equipe. O trajeto era ir e voltar da sede na praça da matriz até o trevo da entrada da cidade.

Todos foram convocados a participar, a ordem era para ninguém ficar de fora e nada de corpo mole.

Dada a largada, começaram bem, o início era de descida até a ponte que dividia o primeiro bairro do centro da cidade. Alguns dos meninos dispararam na frente. Fazia muito calor naquele início de noite. Depois era uma subida íngreme até a avenida principal que terminava no trevo.

Essa primeira subida judiou com os menos preparados. Tonhola era o último da fila. Já no meio da subida ele chamou um dos organizadores com a mão na barriga reclamando de uma dor forte.

Sacanagem o que fizeram. É claro que os meninos menores não dariam conta daquele trajeto todo, ainda mais em ritmo de marcha acelerada.

As Travessuras de Tonhola - Tiro no Teatro

Aconteceu no anfiteatro do salão paroquial.

Foi a primeira peça de teatro que Tonhola assistiu.

Na peça tinha uma cena com uma espingarda. Buscaram uma e esqueceram de verificar se estava carregada. Estava. Tremenda vacilada.

Na cena em que foi usada, o tiro assustou a todos com o barulho e acertou a perna de um dos atores.

Foi uma correria. A platéia apavorada não entendia direito o ocorrido. Naquela época não tinha ambulância na cidade. Correram com o rapaz num carro para o hospital.

Que vacilada!

sábado, 28 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Primeira Televisão da Rua

Alfredo deu de presente para Dona Rica uma televisão marca Telefunken.

Era a primeira televisão da rua. Uma novidade.

No início da noite a meninada se ajuntava na sala de frente para a televisão. Se ajeitavam por ali no chão, porque não tinha cadeiras nem sofá para tanta gente.

Dona Rica deixava terminar a novela das oito e esparramava com todo mundo: - já para suas casas, vamos, vamos que vou desligar a televisão, amanhã tem mais.

A primeira novela que assistiram foi Legião do Esquecidos da saudosa TV Excelsior.

quinta-feira, 26 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Trabalho da Escola

Tonhola era caprichoso com os trabalhos escolares que fazia em casa.

Uma vez um dos professores falou em tom de brincadeira que a capa do seu trabalho estava parecendo uma porta de circo. Ficou chateado. Para aquele professor ele nunca mais fez capas nos trabalhos.

Uma vez ele fez um trabalho sozinho que ficou muito bom. O dever de casa podia ter sido feito em equipe, mas, perfeccionista, ele preferiu fazer sozinho.

Passado o final de semana, no primeiro dia de aula da semana era para o trabalho ser entregue. Antes do início da aula, um colega de sala pediu para assinar o nome também no trabalho, como se os dois tivessem feito juntos.

- De jeito nenhum! Gritou Tonhola ofendido.

- Não vai assinar de modo algum.

Mas o colega não tinha feito trabalho nenhum e insistiu e discutiram e o colega pegou o trabalho na mão de Tonhola que não soltou e puxa daqui e segura dali e um não desiste e o outro não entrega e acabou que o trabalho se partiu ao meio.

Tonhola ficou muito fulo da vida.

- Não converse mais comigo. Foi o que ele disse.

Nunca mais se falaram.

As Travessuras de Tonhola - Bola Fora

Numa das festas de exposição agropecuária que aconteceu no campo de futebol, Tonhola foi com alguns amigos. Ficavam dando voltas pelo parque, em volta do alambrado do campo de futebol. As barracas com o gado ficavam no gramado, protegidas pelo alambrado.

Um dos amigos de Tonhola estava muito a fim de uma garota que também estava no parque. Só que essa garota tinha dois irmãos mais velhos que ficaram sabendo do interesse do menino na irmã e não gostaram nenhum pouco. Mandaram recado para ele não se aproximar dela porque senão a coisa ia ficar preta para o lado dele.

A menina foi vista de longe com mais duas amigas caminhando pelo parque.

Os meninos ficaram apreensivos. Verifiquem se os irmãos dela estão por perto, pediu o apaixonado aos amigos.

Ninguém os viu.

As meninas vinham se aproximando, trocaram olhares e passaram como se não se conhecessem. Elas riram segurando umas nas outras. Os meninos perceberam que o colega tinha razão, a garota também estava interessada. O problema eram os irmãos.

Deram outra volta no parque, com os passos mais apressados para se cruzarem com elas de novo. No caminho, Tonhola se distraiu com alguma coisa no grande movimento de pessoas e não percebeu a aproximação das meninas. Quando elas já estavam bem próximas ele achou que os amigos também não as tinham visto e falou alto: - Olhe lá ela!

Ele falou alto porque o som da festa estava alto, mas foi justo na hora do intervalo das músicas de modo que todos em volta ouviram. As meninas fugiram apressadas. Os amigos ficaram muito bravos com ele. Ainda bem que nenhum dos irmãos estava por perto.

Tremenda bola fora de Tonhola.

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terça-feira, 24 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Conquistas

Tonhola era tímido nos relacionamentos com as meninas da escola. Quando se engraçava de uma estranha, a aproximação era a maior dificuldade.

Quando uma menina mais saidinha se engraçava por ele o avexamento o fazia se afastar com medo do perigo.

Por isso começou a ser alvo de mais um tipo de zoação dos colegas. Deixa de ser mole, a menina tá de dando a maior bola, vai lá, não perde tempo, não vê que ela está a fim, chame-a pra sair, se fosse comigo já tinha enchido ela de beijos, leve-a ao cinema, vá tomar um sorvete. A pressão dos amigos o deixava mais assustado ainda. Aí é que ele não ia mesmo.

Agora... quando uma dessas meninas chegava de mansinho, com carinho... aí era outra história.

segunda-feira, 23 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Os Cinco Antônios

A professora de desenho amanheceu arretada naquele dia.

Alguns alunos estavam inquietos aprontando durante toda a aula e ela, pacientemente, tolerando a molecagem.

Só que paciência tem limites.

Faltando poucos minutos para o término da deliciosa aula de desenho, ela não se conteve. A sala tinha cinco Antônios e a professora foi taxativa: os Antônios todos para fora.

Pela primeira vez naquele ano, ela expulsou da sala todos os Antônios. Tonhola foi o último a sair e de cabeça baixa, quando passou pela professora no batente da porta, ela não se conteve: - Mas você hein! Quem diria, até você hein!

domingo, 22 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bombinha no Asfalto

Na quadra de futebol que demarcaram no asfalto, não era só de futebol que os meninos brincavam.

Por ser o mês de junho, bombinhas e traques pipocavam pela cidade nas mãos dos meninos.

Tonhola quis brincar com uma bombinha no asfalto e se deu mal. Ele pegou uma das bombinhas mais gordas e a desembrulhou. Daquelas que eles estouravam com uma lata de extrato de tomate em cima para verem ela voar e ficar toda deformada. Desamarrou o gordo pacotinho e amontou a pólvora no asfalto. A ideia era bater com uma pedra sobre a pólvora para ouvir o barulho que fazia. Só que não foi como ele esperava. Com a pólvora amontoada ele se apoderou de uma pedra de meio-fio, um paralelepípedo grande, daqueles usados para o meio-fio. Quando foi apoiar a pedra no asfalto, sobre a pólvora para depois bater com força para o disparo, aconteceu o estouro. Caraca! Só o atrito com o apoio da ponta da pedra sobre a pólvora causou o estouro. Nem ele e também nenhum dos meninos que brincavam naquele momento esperavam por aquilo. Dona Rica deixou correndo seus afazeres em casa e saiu na rua para ver o que tinha acontecido. Tonhola estava branco de tão apavorado e ficou temporariamente surdinho da silva.

Foi um tremendo susto.

Valeu a lição. Fogos de artifício: nunca mais!

sábado, 21 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Carona ao Preto Velho

Na loja de armarinhos fazendo compras para sua avó, Tonhola presenciou um fato que muito lhe chamou a atenção.

Na loja tinha um preto velho conversando com algumas pessoas. O menino ficou de antena ligada. O nome dele era Seu Juvêncio, tinha 105 anos e demonstrava uma lucidez esplêndida.

Receitou alguns chás para os males questionados peles presentes: para os rins tome isso; para dores na coluna, isso; para inchaço nas articulações compressa com isso e tome chá de mais aquilo; para dor no estômago chá disso, se não encontrar a planta me procure que tenho lá no rancho. E assim foi. Para todas as doenças ele tinha a medicina alternativa na ponta da língua. Era benzedor famoso na região.

Precisava ir. Pediu carona. O rancho ficava na beira de uma estrada de terra a uns dez quilômetros da cidade. O dono do armarinho pegou as chaves do carro e chamou um sobrinho que por ali estava para levá-lo em casa, com muitas recomendações de cuidado com o benzedor e com o carro.

sexta-feira, 20 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - De Maverick na Churrascaria

Alfredo foi jantar numa churrascaria um pouco afastada da cidade a convite de um viajante.

Levou consigo os três meninos, seus dois filhos e o sobrinho Tonhola. Aquilo para eles era coisa rara, nunca tinham ido naquela churrascaria.

Os meninos ficaram apreensivos à espera do viajante que os levaria no carro dele. Passaram pela casa de Dona Rica, para pegar Tonhola, que já os esperava há tempos do lado de fora junto com a avó.

O viajante chegou de Maverick azul. Um baita carro, muito badalado na época. Na estrada, a churrascaria ficava na beira da estrada a alguns quilômetros da cidade, o carro parecia balançar no asfalto, tamanha a potência do motor. O desenho do carro era moderníssimo para a época e poucas unidades rodavam pela cidade.

Jantaram. Os meninos se divertiram muito enquanto os dois conversavam assuntos de negócios. De sobremesa, sorvete para todos.

Foi muito bom, mas o que ficou mesmo gravado na memória de Tonhola foi o balanço do Maverick pra lá e pra cá no asfalto, parecendo que com pouco mais de velocidade ele levantaria vôo. Foi emocionante.

As Travessuras de Tonhola - Helicóptero

Na fazenda onde Tonhola presenciou uma quantidade grande de cabras parindo houve outro episódio interessante que não poderia ficar de fora dessa série.

Em outro local da fazenda, fora da sede principal, tinha um outro curral onde foram vacinar alguns bois. Tonhola acompanhou o gerente da fazenda.

De cara, um boi encapetado, deu o maior trabalho, não aceitava o tronco de modo algum e a lida foi tanta que tiveram que sacrificá-lo. Um peão com uma espingarda chegou rapidamente e foi um tiro só bem no meio da testa. O danado do boi chegou a sair do chão com o impacto da bala.

A vacinação teve seu seguimento normal. Tonhola, ao lado do tronco acompanhava tudo e ainda ajudava os peões entregando os remédios e trocando os revólveres aplicadores das vacinas.

Lá pelas tantas, um novo alvoroço entre a boiada. Alguns presos haviam fugido do presídio da capital e poderiam estar por aquelas bandas. Um helicóptero da polícia dava auxílio às equipes em terra. Fizeram um razante na fazenda assustando a boiada. Foi um deus-nos-acuda. Aquele barulho tec-tec-tec-tec e os bois alvoroçados querendo arrebentar os cabos de aço que os seguravam no curral. Alguns cabos foram danificados, mas a peonada conseguiu controlar e o pior não aconteceu. O curral não arrebentou e a boiada não estourou. Foi por pouco.

Com tanta movimentação, Tonhola não se preocupou tanto com a boiada. Tinha muitos peões para dela cuidar. Sua curiosidade se concentrou no helicóptero. Como a maioria ali, eles nunca tinham visto tão de perto um helicóptero. Ainda mais com os policiais dos dois lados sentados nas portas com as metralhadoras prontas para as emergências em busca dos bandidos fugitivos do presídio. Bandidos que ali não foram localizados. O helicóptero se afastou, os bois se acalmaram e a vacina continuou até a última cabeça.

quarta-feira, 18 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Aula de Violão

O Violão que Tonhola ganhou da avó ficou por muito tempo encostado em cima do guarda-roupas.

Dona Rica viu de passagem numa rua próxima, uma placa onde estava escrito: "professor de violão". Não era muito longe e resolveu matricular o neto.

Na primeira aula o professor explicou uma posição de difícil execução. Tonhola com pouco esforço, aprendeu a posição já na primeira aula.

Bateu desânimo. Achou violão muito fácil.

Não era para ser.

terça-feira, 17 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Pescaria nos Patos

Tonhola foi outra vez numa pescaria com seu tio e os primos, só que dessa vez o lugar era bem mais longe. Ficava num ribeirão num lugar lindo, largo, em curvas e com mata alta e fechada nas margens.

Pouco tempo depois ele soube que aquele local fora alagado para formação do lago artificial de uma usina hidrelétrica.

Ribeirão dos Patos. Esse era o lugar.

De tão bonito e aconchegante o lugar, pescaria mesmo que é bom, nada. Não pescaram nada. Ficaram horas ali e só banharam as minhocas.

Na volta, pararam na casa do morador da fazenda. Ele estava em casa com a família. Ao ver que os pescadores foram infelizes em sua jornada, virem de tão longe para nada, convidou-os a olharem num freezer horizontal na cozinha. Caramba, quantos peixes!

Aquela foi a mais rendosa pescaria de Alfredo e os meninos. Ele negociou pouco mais de uma dúzia de peixes e foi embora satisfeito.

segunda-feira, 16 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Pescaria de Lobó

Tonhola foi num domingo de manhã numa pescaria com seu tio Alfredo e os primos Aramis e Aroldo.

Foram bem cedinho. Dona Rica preparou o lanche e colocou numa caixa de isopor com a tampa presa com uma tira de câmara de ar de bicicleta. O local não era muito longe, logo depois da última rua da cidade tinha uma descida longa que terminava numa curva e logo em seguida a ponte sobre o ribeirão. Era ali mesmo.

Alfredo estacionou o carro numa sombra. Os meninos curiosos correram para a beira do ribeirão, atraídos pelo barulho da água nas pedras. Sobre a ponte, o leito era pedra só, pedra preta basáltica. O tio alertou para que pegassem os apetrechos porque caminhariam um pouco pela margem até um poço.

O poço não era muito grande, mas surpreendeu a todos. A quantidade de peixes pequenos era tanta que a água quase parada do poço ficava em movimento, cheia de ondinhas dos lambaris na flor da água. O tio explicou que os lambaris faziam aquilo na água.

Num instante os meninos começaram a pescar, era só atirar o anzol na água e tirar os lambaris. Muito divertido. Um espetáculo. Aqui vamos pegar muitos peixes, vibraram. E realmente pegaram. Menos Tonhola.

As varas de pescar eram iguais para todos, o tio e os dois filhos tiravam um peixe atrás do outro e Tonhola nada. O tio colocava a isca de minhoca e era somente o prazo do menino colocar a vara na água e já retirava sem minhoca, os peixes haviam comido. O tio explicou o movimento que ele tinha que fazer com as mãos, quando percebesse que tinha peixe mamando a isca na ponta da vara. Mas nada, por várias vezes ele tentou e nenhum peixe conseguiu pegar. Começou a virar gozação dos primos que seguiam buscando um lambari atrás do outro. Até que Tonhola conseguiu pegar seu primeiro lambari. Aí é que virou gozação mesmo. Com o movimento rápido das mãos assim que colocou a vara na água, ele fisgou um lambari pela barriga. Todos riram muito. Foi a última tentativa de Tonhola naquela pescaria.

domingo, 15 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Curso de Dactilografia

Matricularam Tonhola num curso de dactilografia.

No começo ele não ficou muito feliz com a ideia. O instrutor era paciente e eram poucos alunos numa sala pequena.

Naquele tempo, Tonhola não percebeu a situação do prédio onde funcionava a sala de aula. A construção, com duas portas de enrolar numa sala comercial de frente para a rua, invadia a calçada deixando uma beiradinha mínima pouco maior que um palmo. Certamente era a mais estreita calçada da cidade e ainda lá está.

O curso de dactilografia durava algumas semanas. O tempo dependia do aproveitamento do aluno.

E começou o curso: primeira sequência com a mão esquerda - asdfg asdfg asdfg, asdfg e por aí foi. Ele tinha enorme dificuldade com os dedos mindinhos, mas com esforço foi melhorando. Algumas páginas para cada sequência, para memorizar o local das teclas e a destreza das mãos.

O teclado era duro nas máquinas Olivetti que eram a maioria. Algumas máquinas coloridas, mais modernas, Remington, tinham as teclas mais macias.

Tonhola passou a gostar do barulho das teclas cravando a letra no papel e foi se entusiasmando cada vez mais a cada aula. O instrutor percebeu e passou-lhe os primeiros textos para dactilografar, até que, pronto Tonhola, você terminou a apostila, agora que você já conhece bem o teclado, você treinará todos os dias copiando um texto como esse, mostrou a página em sua mão, que era cópia de uma página de livro. Assim que você atingir o número de toques mínimo em tantos minutos, estará concluído o curso. Pois pode começar, e passou ao animado garoto o texto.

Tonhola surpreendeu o instrutor e na primeira tentativa passou no teste.

Não voltou mais.

Aquele curso lhe serviu de base para tomar o gosto pela palavra escrita.

As Travessuras de Tonhola - Chuva de Desmamar Negrinho


- Vó, o que é chuva de desmamar negrinho?

- Onde você ouviu isso menino?

- Foi lá no Armarinho, quando fui comprar linha pra soltar papagaio. Tinha uns homens lá conversando aí entrou um fazendeiro e disse que lá pras bandas do Engenho da Serra deu uma chuva de desmamar negrinho.

- Ele quis dizer que foi uma chuva muito forte.

- Sim vó, mas por que de desmamar negrinho?

- Ah! Meu filho, isso é coisa do povo antigo.

- Então me conta.

- Dizem que certa vez uma negra que tinha um bebê de colo, que também era mama de leite.

- Mama de leite, como assim?

- Mama de leite é o nome que se dá para as mulheres que amamentam os filhos de outras mulheres. Antigamente, no tempo ainda da escravidão, as damas da nobreza, quando tinham filhos deixavam que seus filhos mamassem nas escravas, as mamas de leite.

- Entendeu?

- A mama de leite sim, entendi, mas o que isso tem a ver com a chuva?

Dona Rica riu da insistência do neto e continuou: - É que naquela época tinha uma mama de leite que todos os dias atravessava o ribeirão para ir do outro lado amamentar o filho da madame. Deixava o seu filho pequeno em casa com a família e ia, era só atravessar o ribeirão e voltar. Só que num daqueles dias, deu uma chuva muito forte, o ribeirão encheu muito, rodou a pinguela e ela não teve como voltar. Ficou do outro lado esperando até a água baixar. Só que a chuva não parava. Tiveram que dar leite de vaca para o seu filho. Com isso o negrinho foi desmamado. Daí ficou a expressão chuva de desmamar negrinho, mas isso é coisa do povo antigo. Tem cada coisa desses ditados populares que você nem imagina.

- Qualquer dia a senhora me conta mais alguns desses ditados, vó, parecem interessantes. Agora vou brincar.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Melancia na Lavoura

Num evento futebolístico na zona rural, dessa vez não vamos aqui destacar a categoria dos jogadores.

Como das outras vezes, eram dois jogos, um preliminar com os menores no time juvenil e por último o jogo dos adultos.

Ainda durante o jogo do juvenil aconteceu um fato muito intrigante com dois dos integrantes da equipe da cidade que foi escalada para enfrentar a equipe da roça.

Enquanto a bola rolava e era muito maltratada no meio de campo por Tonhola e companhia, apareceu um fazendeiro típico, a cavalo, com tudo de vestimentas que tinha direito, para um dia de domingo, tanto para ele como também para o animal. As moças nas laterais do campo ficaram impressionadas, mas aquela não era sua intenção. Pelo menos naquele momento. Chegou muito bravo, aos berros procurando pelo chefe da equipe da cidade.

Localizado o infeliz, o cavaleiro apeou com seu enorme bigodão grisalho, sem soltar das mãos a grossa rédea de lã de carneiro que conduzia o animal. Disse que era o dono da lavoura e mostrou ao chefe e grande parte da equipe que o acompanhou, os dois cabras ao longe estragando a roça de melancia. Eram da equipe, não tinha como negar. Antecipando à reação do fazendeiro, o chefe disse que mandaria chamar os dois e que o fazendeiro poderia acompanhar e conferir que eles pagariam pelas melancias colhidas.

quinta-feira, 12 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Um Naco de Salame

Depois daquela festa em que foram de penetra no salão paroquial, os meninos foram embora pela rua zoando com a dura que Tonhola levara do padre aniversariante.

Pelo caminho passaram por um empório que ainda estava aberto. Dois dos mais velhos entraram. O dono estava sozinho no estabelecimento se preparando para fechar. Pouco passava das dez horas da noite.

Alguns minutos depois os dois saem apressados, os colegas foram em sua direção.

Para surpresa dos demais, eles tinham surrupiado uma baita peça de salame. Atrás de um caminhão pararam para saborear o fruto do furto. Com um canivete dividiram o salame. Tonhola ficou assustado com a audácia dos colegas, mas também pegou seu naco de salame e foram comendo apressados pela rua rumo a suas casas.

quarta-feira, 11 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Professora de Desenho

Uma matéria que Tonhola não tinha nos anos anteriores no primário era desenho.

Novidade que ele adorou no colégio novo.

A professora era uma senhora muito simpática e atenciosa com os alunos. Brava, às vezes, porque nem todos os alunos levavam a sério suas aulas e ficavam aprontando pela sala no horário da aula.

Tonhola viu um caderno de desenhos antigo. Todos à lápis. Ficou fascinado pelo que viu. Os desenhos eram, em sua maioria, figuras geométricas desenvolvidas com régua e compasso, perfeitos. Era aquilo que ele queria fazer, pensou. Lembrou do puxão de orelhas que levou da professora anterior quando o pegou desenhando. Naquela escola, desenho era matéria escolar.

Ele só não entendia porque as matérias eram chamadas de disciplina. E além do mais, pra complicar mais ainda, era também parte integrante de uma grade, junto com as demais matérias que ele já conhecia, português, matemática, história, geografia. Tem também outras matérias novas que foram incluídas além de desenho, mas isso é outra história.

Para ele, disciplina era, depois de ter aprontado alguma, quando sua avó sentava numa cadeira na varanda e o gritava com uma vara de goiabeira nas mãos:

- Tonhola! Vem cááááááááááá!

Poucas coisas na vida o irritavam tanto como aquele grito arrastado da avó o chamando para entrar no relho.

terça-feira, 10 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Professora de História

Terminado o primário, Tonhola, passou na prova de admissão e iniciou os estudos num colégio particular. As instalações eram bem maiores e imponentes que o colégio estadual anterior, uma escola pública. O colégio ficava bem mais longe de casa e todos os dias ele atravessava o centro da cidade para ir à aula.

As salas de aula eram maiores, com um pé direito alto. A porta da sala era de madeira com vidro e tinha duas folhas com bandeirola. No quadro negro tinha uma plataforma elevada no piso onde ficava a mesa do professor. Tonhola adorava a escola, as instalações, os professores, os colegas, o lanche no horário do recreio que era pago na lanchonete, a música que tocava no início das aulas. Essa música até merece um capítulo à parte.

Dona Rica percebeu o entusiasmo do menino com a escola e agradeceu aos céus pois via ali um horizonte de calmaria nos estudos do menino.

Entusiasmado mesmo Tonhola ficou quando conheceu a professora de história. A mais nova de todos os professores. Uma moça loira, robusta, que ia dar aulas com vestidos coloridos e leves com os joelhos à mostra.

História passou a ser a matéria preferida de Tonhola.

segunda-feira, 9 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Festa Junina na Escola

Tonhola melhorou nos estudos.

Já estava chegando a hora das tão esperadas festas juninas na escola e o menino estava apreensivo, pois o castigo imposto pelo tio só seria abrandado com o resultado do próximo boletim escolar. Ele tinha medo que o tio não o deixasse participar das festas.

Com a pequena melhora das notas ele pediu à tia Suzete que intercedesse por ele junto ao tio, para que o deixasse ir, porque com a avó ele não via problemas.

Na sala de Tonhola, formaram os pares para a dança da quadrilha e ele ia dançar junto com a menina dos sonhos, a que recebeu as balas na porta. Por isso o entusiasmo do menino. Já pensou se ele não fosse? O tamanho do mico.

Marcaram um ensaio com os alunos na semana da festa: todo mundo dançando, cavalheiro segurando a mão da dama, olha a cobra, passando pelo túnel, olha a ponte, a ponte caiu...


domingo, 8 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Boletim Escolar

Tonhola não ia lá essas coisas na escola. Era início do ano e as notas do primeiro bimestre foram péssimas. Dona Rica pediu ajuda ao filho Alfredo.

Alguns dias depois do resultado das provas, Alfredo foi até a casa da mãe para conferir e dar a devida dura no sobrinho peralta.

Antes disso ele quis dar uma olhada no galinheiro que ficava atrás da casa para verificar o andamento das penosas. Pelo caminho sobre a calçada viu um papel de caderno embolado, achou estranho e apanhou para ver o que era. Ficou arara com o que viu.

Antes mesmo de ver as galinhas voltou para dentro chamando Dona Rica e o menino que estava no quarto apreensivo e veio todo assustado com o teor delicado do chamado.

- Que merda é essa aqui? Mostrando o papel todo amassado nas mãos.

Sabendo que o tio viria, Tonhola pegou de uma prova de matemática que fizera no dia anterior na qual tinha se saído muito mal e tirado zero. Embolou a prova bem miudinho e atirou pela janela basculante do banheiro. Ele não imaginou que o tio, que sempre vinha apressado, se interessaria por conferir as galinhas e que no caminho passaria pela prova amassada. Que vacilo.

Complicou a situação do nosso amigo.

Daquele dia em diante, até ver o próximo boletim, nada de cinema, nada de futebol na rua e nem de treinos, nada de festas dançantes e também o Alfredo ia pedir para sua mulher Suzete dar uma mão a Dona Rica. Pelo menos uma vez por semana, ela passaria por lá para conferir o andamento dos estudos do engraçadinho.

sábado, 7 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Quadra no Asfalto

Pouco tempo depois de asfaltada a rua na porta de Dona Rica, os colegas de Tonhola inventaram de demarcar uma quadra de futebol no asfalto.

Conseguiram uma tinta esmalte cor branca e com auxílio de umas linhas fizeram a demarcação direitinho, no comprido era do mesmo tamanho de uma quadra de futebol de salão, mas da largura da rua, bem mais estreita que a de futebol.

A pintura durou muitos anos e muitos rachas fizeram ali nos finais de tarde, depois que o sol ardente, que derretia o asfalto, se punha por detrás das mangueiras; qualquer chinelo de dedo servia para demarcar os gols; apontava um carro na esquina e a partida era prontamente interrompida.

Dona Rica aprovou a ideia desde o início pois era uma maneira de manter o neto por perto, bastava uma olhada pela janela para vê-lo e foram poucas as vezes que ela teve que sair correndo para apartar brigas entre a molecada. O futebol os acalmava.

Uma vez um garoto novo apareceu por lá, branco de apartamento e entrou no racha animado com a meninada, dizendo ser bom de bola. O sol já havia se escondido, mas o asfalto ainda estava quente e o menino forasteiro estava descalço. Sem muita tarimba com o jogo no piso áspero da rua o moleque foi dar um chute e bateu com o pé no chão preto arrancando um naco enorme de carne na sola do pé, não saiu sangue, mas o rasgo foi grande e assustou a molecada. Levaram-no amparado dali para os cuidados médicos. Aquele ia sofrer muitos dias para se recuperar.

sexta-feira, 6 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Jovens Tardes de Sábado

Ficaram sabendo que numa casa vizinha, alguns moços iam ensaiar numa banda de rock.

Era a casa de um leiteiro e o filho dele era um dos integrantes da banda. O ensaio era numa espécie de garagem coberta que ficava separada da casa nos fundos do lote.

Com o assédio da meninada, os músicos acharam melhor fechar o portão alto do muro de frente para a rua para não serem perturbados.

Os meninos ficaram de fora, ouvindo o ensaio, a bateria era forte, corria solto o iê-iê- iê com as músicas das jovens tardes de sábado.

A novidade do som agradou e foi juntando gente.

Tocaram até o final da tarde, com longas interrupções entre uma música e outra, talvez engrenando os acordes dos instrumentos e também os mecanismos do equipamento de som que por várias vezes deu pipiripaco e interrompeu o ensaio.

Os meninos esperaram até o final do ensaio para conhecer os integrantes da banda, eles só conheciam o filho do leiteiro. Saíram do ensaio uns oito garotos, só um mais velho e o mais espetaculoso deles. O cara era muito magro e feio de dar dó, cabeludo e com umas costeletas enormes. Usava uma camisa rosa, larga, de manga e aberta no peito destacando os cordões de ouro sobre o peito cabeludo; usava uma calça branca apertadíssima, destacando os seus volumes; calçava uma bota preta de verniz com salto alto, solado em plataforma, com alguns ilhoses e outros detalhes em metal no bico e nas laterais.

O cara podia não tocar e nem cantar nada, mas que chamava a atenção chamava, ah isso sim, chamava.

Aquela foi a primeira banda de rock que Tonhola e os amigos ouviram. A princípio acharam um som muito doido. Era muita zoeira. Mas depois, gostaram: maneiro, muito do maneiro.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Brincadeira Dançante

Nos finais de semana, os meninos andavam longe em busca de brincadeiras dançantes.

Por ser dos mais novos, Tonhola ainda não frequentava essas festas, mas, por ter estatura para se misturar entre os mais velhos, começou mais cedo na balada de tais festas.

Marcaram uma dessas que aconteceria num salão social de um dos clubes da cidade. Festa que foi comentada durante a semana pelos alunos da escola, você vai, vou, e você, meu pai não deixa, ah, eu vou, não perco essa festa por nada, vou dançar a noite inteira, ainda mais se alguém lá estiver também. Tonhola foi praticamente empurrado pelos colegas a ir também.

Dona Rica disse que ele podia ir até a loja escolher uma roupa. O menino foi e se entusiasmou por uma calça xadrez de fundo escuro, à noite, andando pelas ruas, nem se percebia que o pano era xadrez, ficou feliz, era aquela mesmo e uma camisa branca.

Chegado o dia, foram todos animados e contentes. Tonhola, tímido, ficou pelos cantos do salão, observando e tomando guaraná, pois ainda não sabia dançar. Via de longe as garotas dançando. A luz negra girando e piscando forte, num globo que colocaram no teto da pista de dança, lhe mareava as ideias. Lá pelas tantas, um dos meninos observou: - vejam lá, aquele não é o Tonhola? qual? aquele da calça brilhando, do outro lado da pista; caíram na gargalhada, era ele mesmo; vamos lá! vamos lá! cara! que calça maneira, olhe só ela brilha com a luz negra; eram as tiras finas e claras do xadrez da calça que tem efeito reflexivo quando bate a luz negra; cara, você arrebentou com essa calça, vamos lá para a pista, ah vamos sim, você vai dançar conosco, não vou não, vai sim quero ver se não vai, você veio conosco e vai dançar conosco sim senhor; e, um tanto assim meio que forçado, arrastaram o menino para o meio da pista e fizeram um círculo para observarem a calça que brilhava naquele corpo esguio de menino que não sabia dançar. As músicas dessa festa serão lembradas em capítulo à parte.

quarta-feira, 4 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Paixões

Algumas paixões do menino travesso Tonhola.

A colega de sala que visitaram a casa numa excursão escolar; a que levou o primeiro amasso peladinha da silva; a do nariz com nariz, que não foi lá uma paixão, mas foi; a paixão pra lá de proibida pela gostosa da mulher do soldado, essa foi homenageada por várias vezes; a paixão pela professora do catecismo e seu belo par de pernas; pela bandeirante Marilda; pela bela menina das balas atiradas à porta, que não correspondeu; a moreninha que andava com a colega de óculos, que também não correspondeu; a garota mais velha que lhe tascou um beijo roubado na boca, que só mais tarde ele veio a perceber que também se apaixonara por ela, mesmo ela já tendo partido há tempos.

Pois é! Algumas.

terça-feira, 3 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Primeiro Beijo

O primeiro beijo na boca de Tonhola foi roubado.

Bem assim mesmo. Uma garota, alguns anos mais velha que ele, brincava com outras meninas na casa vizinha à de Dona Rica. Ela liderava as meninas e numas das brincadeiras elas saíram à rua chamando alguns dos meninos ali mais de perto para também participarem. Tonhola e mais dois foram convidados.

Depois de algum tempo brincando, antes de se debandarem, a garota mais velha, esperou que os outros dois meninos saíssem, chamou por Tonhola e assim do nada, na frente das outras meninas, tascou-lhe um prolongado beijo na boca. Nosso amigo Tonhola, ficou por algum tempo boquiaberto, depois enxugou os lábios na manga da camisa e saiu dali apressado, todo sem jeito.

Mais tarde ele veio a saber pelas meninas que aquilo fazia parte de uma das brincadeiras entre elas, antes deles serem chamados a participar.

Apesar de no início ter achado aquele beijo roubado, molhado e meio nojento, não há de ver que ele até que gostou.

segunda-feira, 2 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Balas de Chocolate

Numa noite Tonhola saiu com alguns amigos medindo ruas pela cidade.

Passavam em frente à casa de uma das meninas que nosso amigo estava de olho. A casa estava toda fechada, com as luzes apagadas, dando a entender que não tinha ninguém.
Tonhola resolveu atirar na porta da casa algumas balas de chocolate que ele trazia no bolso. Só que ele não esperava que alguém ouvisse o barulho. O pai da menina estava na sala vendo televisão e abriu a porta para ver o que era. Os meninos se assustaram e num tiro se escafederam dali aos risos.
A menina não deu o ar da graça.
Os colegas zoaram com ele. No outro dia toda a escola soube daquela paixão. Menos a menina, que se fazia de durona e mesmo sabendo depois que as balas eram para ela, não deu a mínima.

domingo, 1 de maio de 2016

As Travessuras de Tonhola - Gol Contra de Canela

Não era só o Generoso que fazia gols de canela.

Num daqueles domingos de jogos amistosos numa cidade vizinha, Tonhola foi escalado para jogar no time infantil no jogo preliminar.

Colocaram-no de quarto-zagueiro. O técnico entendeu que lá, ele atrapalharia menos. O jogo foi duro. Duro de assistir. O time deles só tinha marmanjos com chuteiras de cravos de borracha com os pregos à mostra. Futebol que é bom mesmo, nenhum.

O jogo caminhava para um terrível zero a zero quando quase no final da partida, chutaram em direção ao gol um daqueles chutes malucos de bico, a bola vinha quicando forte e pela direção sairia pela linha de fundo, não fosse a interrupção do quarto-zagueiro, que voltava na corrida em direção ao seu goleiro e, imaginem só, com a perna esquerda tentou tirar a bola para longe, não deu outra, a bola quicou num buraco na hora do chute e ele bateu de canela. A jogada que não daria em nada acabou com a bola na gaveta de seu próprio time.

Um golaço contra de Tonhola. Um dos poucos em sua curta carreira de aspirante a jogador de futebol.

sábado, 30 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Generoso

Generoso era um mulato magro de quase dois metros de altura, que chegou a treinar no mesmo time de futebol do nosso amigo Tonhola.

O treinador já vinha trabalhando os meninos há algum tempo e observando os atletas que tinha em mãos com algumas experiências, só que ninguém se firmava no centro do ataque até que surgiu o Generoso. Esse era o seu apelido.

Esguio, da pele bem morena e do cabelo liso que a princípio pareceu todo desengonçado, sem nenhuma habilidade no trato com a bola, mas que aos poucos foi se revelando um artilheiro nato. As bolas altas eram o seu forte, tinha um ótimo tempo de bola e apesar da altura, tinha também boa impulsão, o que era coisa rara para aquele biotipo excêntrico, mas que, por outro lado, lhe dava uma vantagem enorme contra seus marcadores. Tinha treino em que ele metia quatro, cinco gols de cabeça em poucos minutos. Com os treinos e as orientações que recebia ele foi aprendendo aproveitar melhor as suas vantagens físicas e também evitar seus piores defeitos e dificuldades, por isso, evitava tentar dominar a bola e procurava bater de primeira, do jeito que ela vinha ele batia, daí o faro de gol e com isso veio a fama. A rapidez do raciocínio não dava tempo aos defensores de se prepararem. Saia cada gol esquisito de canela que só vendo. Claro que nem sempre ele acertava o gol, na maioria das vezes a bola ia pro mato, bem longe. Com ele era nos extremos, fazia gols impossíveis de se fazer e errava gols impossíveis de se errar também.

Uma vez num jogo amistoso ele tentou um gol de quadril. Isso mesmo, a bola foi rebatida pela defesa e quicou muito próxima ao seu corpo, não tinha tempo nem espaço para se virar e arrematar, de dentro da pequena área a poucos metros do gol, com o goleiro já caído, num lance de puro reflexo ele deu uma rebolada e com o quadril bateu na bola que entraria no gol não fosse um zagueiro bem colocado que tirou a bola com um chutão em cima da linha. Aquela bola não entrou, mas a jogada ficou marcada por todos que a viram.

Generoso também era conhecido entre os zagueiros por ter as canelas duras, o que incomodava muito seus marcadores. Na época não tinha chuteira de plástico, macias como as de hoje. As chuteiras eram artesanais, com cravos de plástico duros o bastante para serem presos aos solados com pregos. Com o desgaste do plástico dos cravos, pelo uso nos campos de terra, os pregos ficavam à mostra arrebentando com as canelas dos atacantes. Esse era mais um dos motivos para ele se livrar rápido da bola e escapar da fúria dos marcadores.

Por outro lado, Tonhola, como já vimos, em matéria de futebol, era um verdadeiro cabeça-de-bagre. Os treinadores que passaram pela infeliz experiência de tê-lo como integrante de seus elencos, não perderam tempo em orientá-lo a melhorar o seu futebol para fazer as jogadas da maneira certa.

Já Generoso, não era um craque, mas tinha controle de suas limitações e sabia o que fazer e na hora certa. Um artilheiro que fez muitos gols e abusava de seu porte físico, por isso seguiu a carreira jogando futebol amador e fez história como exímio cabeceador e artilheiro dos gols impossíveis.

Já nosso amigo Tonhola...

sexta-feira, 29 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Picolé de Cinquenta

Um vendedor de picolé ficou na memória da criançada.

Apelidaram-no de "picolé de cinqüenta". Até aí nada de anormal. Fora do normal era a reação do picolezeiro quando os meninos passavam e numa distância segura gritavam: - Picolé de cinquenta!

O homem virava o bicho, abandonava o carrinho e aos berros saia pelos cantos da rua à cata de algum objeto que pudesse ser atirado nos meninos levados que se debandavam em disparada fugindo.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Balcão de Vidro

Numa tradicional loja de armarinhos da cidade trabalhavam três moças e mais o dono da loja. A loja tinha um balcão de madeira com algumas gavetas em sua parte superior com algumas repartições de madeira onde ficavam umas missangas, aqueles detalhes para enfeites de roupas ou para bijuterias. O tampo do balcão era de vidro sobre as gavetas para os clientes verem a variedade dos produtos.

Era vizinho da loja um senhor já sessentão, viúvo, agente da receita aposentado, magro, estatura mediana, que pintava os cabelos lisos e o bigode de preto e se achava o ó. Apesar da aparência extravagante, era muito simpático e estava sempre por ali a passar alguns minutos com a agradável companhia das vendedoras. O dono da loja não se importava, pois eram amigos de longa data, torciam pelo mesmo time de futebol, e no passado ele tinha uma certa admiração pela viúva, manter o amigo por perto lhe trazia boas recordações.

Certo dia, estavam todos bem animados, a prosa corria solta com muitos sorrisos, inclusive com a presença de alguns clientes que também participavam da conversa. Num rompante de entusiasmo o vizinho, encostado de costas no balcão, após uma piada que devia de ter sido muito da engraçada, firmou as mãos no balcão e num impulso jogou o corpo para cima e sentou no tampo de vidro sem se dar conta de que estava justamente em cima de uma das gavetas. Coitado. O vidro se quebrou e o estrago estava feito, no balcão e na buzanfa do menos avisado. Os cacos de vidro causaram estragos num lugar sensível, mesmo sendo pouca a carne na região, o sangue escorreu sujando sua calça cinza de tergal.

Justo nessa hora Tonhola se adentrava na loja para comprar uns carretéis de linha para soltar papagaios. Parado num mal-feito, o menino não via a hora de chegar na escola no outro dia e contar para a galera.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chocolate Prestígio

Como vimos em episódios anteriores, bolachas Maria, suco de uva e jatobá foram alguns dos alimentos que arrebentaram com o delicado paladar de nosso amigo Tonhola em sua infância.

O chocolate Prestígio foi lançado no início dos anos sessenta e é sucesso até hoje.

Certa vez Tonhola pegou o dinheiro do lanche para a semana e comprou na mercearia que o Joacir trabalhava, o que conseguiu de barras de chocolate Prestígio, só que ele achou que precisava comer todas ao mesmo tempo. Tinha que dar merda. Por muitos anos ele ficou longe de comer chocolate com coco, só o cheiro já lhe causava embrulhos.

terça-feira, 26 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Presentes Para Todos

Alfredo conseguiu um emprego de aprendiz para o filho mais velho Aramis numa oficina mecânica para ele aprender o ofício. O dono da oficina era um amigo de infância de Alfredo e conhecia os meninos desde que nasceram.

Tonhola quando ficou sabendo sentiu um calafrio.

O amigo não aceitou que o menino, mesmo sendo aprendiz, trabalhasse sem receber e combinou com o pai que pagaria tantos dinheiros por mês para o menino trabalhar com ele no período da tarde. Assim foi feito.

Naquele tempo era um fato comum as famílias pedirem para os profissionais em varias profissões admitirem seus filhos como aprendizes sem remuneração, até digamos, darem conta do recado. Alfredo teve um primo que trabalhou um ano inteiro como aprendiz de mecânico quando menino, sem ser remunerado. Hoje ele não se arrepende, até agradece e chegou a ser reconhecido como um dos melhores mecânicos da cidade. Só que nem sempre foi assim, um patrão bom, muitos abusavam dos meninos e por isso foram criadas leis para protegê-los. Hoje é crime grave empregar menores.

No primeiro mês de Aramis no trabalho, correu tudo bem e ele correspondeu, quando chegou o primeiro pagamento, o menino surpreendeu a todos. Com o valor recebido de seu primeiro mês como aprendiz ele comprou presentes para todos da família, até para a avó e o primo Tonhola, apesar de achar que ele não merecia, mesmo assim, deu-lhe um par de meias, o irmão mais novo Aroldo, ganhou um calção de jogar futebol, a mãe um cinto de couro, o pai uma caixa de lenços e para a avó um chinelo de couro. Ainda sobrou alguns trocados para lanches na escola e também para outras guloseimas em suas idas ao cinema.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - As Chaves da Loja

Com o passar do tempo o Joacir, que trabalhava na mercearia, foi ganhando a confiança do patrão e assumindo algumas responsabilidades, algumas até muito altas para sua pouca idade.

Num final de semana, o patrão teve um imprevisto e ligou orientando para que Joacir fechasse as portas da mercearia, os outros funcionários já tinham ido embora, era o início da tarde de sábado.

Como aquela era a primeira vez que Joacir trancava a mercearia sozinho, ele tomou todos os cuidados para seguir o ritual e não se esquecer de nada. Trancou as portas e janelas uma a uma, desligou a chave geral de energia elétrica e trancou a porta da frente, a principal, se certificando que tinha feito tudo de forma correta. Saiu dali com o peito erguido e cheio de satisfação, não foi direto para casa almoçar, passou antes na casa de Tonhola para, todo orgulhoso, contar que tinha trancado a mercearia pela primeira vez sozinho, tirou do bolso o molho de chaves e mostrou ao amigo. Conversa vai, conversa vem e se entusiasmaram com outro assunto e o responsável menino Joacir esqueceu as chaves no sofá que era daqueles com almofada para assento e outra separada para o encosto, de modo que no encontro entre elas cabia muito bem escondido um molho de chaves que deu muita canseira para ser encontrado. Antes de ir embora, cadê as chaves? Procura daqui e procura dali, Dona Rica percebeu e veio ao encontro saber o que estava acontecendo e reviraram a sala e o quarto de Tonhola, os dois ambientes que estiveram e nada de chaves, o menino começou a ficar desesperado, já imaginando a bronca do patrão, justo na primeira vez em que lhe pedia para executar tarefa tão importante, calma, acudiu Dona Rica, vamos procurar direito, se vocês só estiveram aqui e não entrou ninguém as chaves têm que estar por aqui, vamos arrastar o sofá e arrastaram o sofá grande e nada e arrastaram um dos sofás pequenos e nada e arrastaram o outro sofá pequeno e nada de chaves. Dono Rica disse para ele ir, ela ofereceu almoço, mas ele não quis, tinha perdido toda a fome, ela disse que ele podia ir embora que continuariam procurando, caso encontrassem, Tonhola levaria para ele. E assim foi feito. Descansaram. Mais tarde Dona Rica voltou sozinha e mexeu no sofá entre as almofadas e até se assustou com a quantidade de bugingangas que encontrou, mas como é possível? limpo esse sofá todos os dias, tinha carta de baralho amassada, figurinha de álbum, tampa de guaraná, pipoca, bilocas, bolas de ping-pong e outras coisinhas que ela tirou tudo e deixou aquele sofá limpinho, passou para o outro pequeno e idem, no segundo e último dos sofás, adivinhem o que ela encontrou entre outras coisitas? o molho de chaves da mercearia e gritou satisfeita: - achei Tonhola! achei as chaves! - corre aqui e leva lá para o Joacir. Que alívio!

domingo, 24 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Primeiras Paixões

Tonhola já em sua pré-adolescência teve algumas paixões.

Aquela visita que sua sala de aula fez à casa de uma das alunas que ele considerava sua namorada, foi uma das primeiras.

Depois teve uma garotinha que ele conheceu no curso preparatório para a admissão ginasial.

Naquela época os alunos que concluíam o primário, tinham que passar por uma prova que era o Exame de Admissão ao Ginásio. Tem base! Já pensou alunos de nove, dez, onze ou doze anos tendo a obrigação de fazer uma prova terrível para ser admitido e seguir nos estudos ingressando no ginásio. Um funil para ter o direito de continuar estudando. Ainda bem que isso acabou faz tempo. Não é de se admirar o Brasil ter tido sua primeira universidade no início do Século Vinte, o Perú teve a primeira da América do Sul quatrocentos anos antes.

Pois é, Dona Rica, precavida, inscreveu o neto num curso preparatório para esse exame, já prevendo futuras dores de cabeça e foi lá que ele conheceu e se encantou por essa garota, uma de suas primeiras paixões.

Essa garota não desgrudava de uma outra magrela e feia que usava óculos. Como as duas estavam sempre juntas e nosso amigo tinha muitos olhos para a garota do encanto, a companheira, dada a proximidade, achava que aqueles olhares eram também para ela e por isso passou a meio que corresponder aos olhares e se derretia toda para ele. Talvez por isso a garota do encanto, percebendo o interesse da amiga, não correspondeu do jeito que ele esperava. A paixão ficou por ali mesmo.

Mais tarde ele veio a saber que a garota do encanto casou-se muito jovem, ainda cursava o ginásio, com o filho de um fazendeiro.

Ah! Tonhola ingressou no ginásio.

sábado, 23 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cartão Postal de São Vicente

- O que foi vó?

- Preocupada meu filho, preocupada com sua mãe que não dá notícias. A última notícia dela foi aquele cartão postal de São Vicente ali em cima da cristaleira e mesmo assim foi só para mostrar que está viva. Só disse um oi curto e grosso. O Alfredo é que teve notícias de um viajante que a viu com um grupo de artesãos vendendo bugingangas numa praça da capital, mas isso foi bem antes do cartão postal da praia chegar. Depois disso, nunca mais. Hoje amanheci assim, com o coração apertado, quando isso acontece fico pensando que vai vir notícia ruim. Custava aquela ingrata enfiar a cabeça num orelhão e ligar a cobrar pra nos tranquilizar, mas não, parece que ela tem prazer em nos fazer sofrer e faz isso de propósito. Só me resta rezar e ficar torcendo para que esteja tudo bem. Passa. Sempre passa. Mesmo que não chegue nenhuma notícia. Essa semana vamos ficar mais atentos ao carteiro, talvez chegue outro cartão postal. E trate de se arrumar para a escola que você vai chegar atrasado.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Prima

Brincava Tonhola sozinho no quintal com seus carrinhos fabricados de litros usados de óleo de cozinha quando percebeu que alguém com voz feminina chamou por sua avó. Não deu importância e continuou a brincar. Alguns minutos depois ele foi até a cozinha tomar água e ouviu que a conversa estava boa e ia longe entre sua avó e a visita. Estranhamente não se importou e voltou aos carrinhos.

Um pouco mais tarde, sua avó o chamou da varanda, Tonhola venha conhecer nossa prima, lave as mãos no tanque. Quando o menino viu a prima distante de Dona Rica, lamentou por ter ficado tanto tempo brincando com carrinho de litro de óleo debaixo das mangueiras. A prima de Dona Rica era bem mais jovem que ela e estava com um vestido colorido assim meio curto, pouco acima dos joelhos com aquelas lindas pernas à mostra. O moleque engasgou e não conseguia desgrudar os olhos das pernas da ilustre visita. Sua avó percebeu e tentou afastar o moleque, em vão. Mesmo sujo de brincar na terra ele deu um jeito de se acomodar no sofá de frente para as duas enquanto elas continuavam a agradável conversa.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Os Dois se Afogando

Tonhola foi convidado por uma amiga de Dona Rica a passar o domingo num tradicional clube da cidade. Com eles iam também dois sobrinhos dela.

A piscina do clube era bem maior que a do clube campestre, que ele já conhecia e lhe avisaram para tomar cuidado. Dessa vez ele se certificou de que o calção de banho estava na sacola. Só que não chegou a nadar, se entreteve com outros afazeres.

A grade de ferro que separava a piscina era um pouco mais alta que ele, por alguns minutos ele ficou encostado na grade com a cabeça entre os tubos de aço que ele segurou com as duas mãos e ficou observando o movimento das pessoas na piscina e talvez pensando, porque raios não aprendi a nadar.

Nisso ele percebeu que um senhor, certamente o pai, trouxe dois meninos, tinham quase o mesmo tamanho e demonstravam não ter nenhuma intimidade com o lugar, como uma certa pessoa que a cena observava. Enquanto o pai se afastou um pouco para guardar as toalhas no vestiário, os dois meninos, ao mesmo tempo foram direto para a piscina e pularam na parte mais funda, ainda bem que foram vistos fazendo aquilo, eles ficaram se remexendo no fundo, sem saber nadar, um outro senhor de cabelos grisalhos que estava dentro da piscina, foi avisado por uma moça próxima a Tonhola que viu quando os meninos pularam. Um deles foi puxado pelos cabelos e o menino saiu chorando e assustado, pois havia engolido muita água, o outro foi tirado com a ajuda de outros rapazes que também viram e foram em socorro aos dois principiantes. Nisso o pai, quando voltou do vestiário, não encontrou os meninos e no meio daquela gente toda saiu louco procurando quando a mesma moça na grade mostrou com gestos onde eles estavam, o pai apavorado viu aquele alvoroço e tinham tirado da piscina funda seus dois filhos que estavam se afogando, nenhum deles sabia nadar, aquela era a primeira vez que iam ao clube pois ele acabara de adquirir a ação remido. Que merda!

Enquanto isso, alheios a tudo, a moça brincava com os sobrinhos numa outra piscina pequena e separada, exclusiva aos pequenos.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bunda de Fora

Tonhola foi num domingo passear com os amigos num clube da cidade. Era um clube campestre bastante badalado na época, hoje infelizmente está desativado.

Foram de Kombi. O menino foi colocado no banco de trás e as curvas e o chacoalhado do veículo no caminho o fez ficar mareadinho da silva. Tonto mesmo e também com o estômago embrulhado.

Nenhum brinquedo o apetecia, futebol nem pensar, ping-pong, sinuca, esmurrar a bola no pushing também não, ficou por ali a observar o movimento dominical no clube.

Os amigos o convidaram para cair na piscina, que estava tomada, com muita gente se divertindo. Bom, ele pensou, pelo menos a piscina acho que posso ir e também tem as meninas. E foi, pegou sua sacolinha e foi com os colegas ao vestiário para se trocar e surpresa, não tinha calção de banho em sua sacola, ou ele ou sua avó se esqueceram de colocar a sunga azul que ele tinha para nadar, mas pra tudo dá-se um jeito, um colega disse que tinha um calção de jogar futebol que talvez lhe servisse, vestiu, serviu e foram para a piscina, como o garoto Tonhola não é muito chegado em natação, como vimos antes, ele desceu calmamente pela escadinha de tubo cromado num dos cantos da piscina, no lado oposto da piscina também tinha uma dessas, só que os amigos o avisaram que a piscina era mais funda do outro lado, claro que ele foi pela escadinha mais próxima mesmo, brincaram um bom período, Tonhola a seu jeito, no raso, sem pular muito, com a água agitada pela quantidade de gente, batendo em sua barriga, que era o máximo de profundidade que ele arriscava, o que em nada ajudava em seu estado de mareamento, o estômago continuava embrulhado, e ainda tinha a preocupação com o calção, pra quem já era avexado, com um calção daqueles, improvisado, mais avexado ainda ficou, apareceu uma bola de plástico e ele entrou na brincadeira, a bola veio para seu lado e ele foi pular para alcançá-la e percebeu que algo aconteceu e teve que segurar o calção com uma das mãos, a presilha que suportava o calção se soltou na água, ele continuou sem graça a brincadeira, segurando o calção com uma das mãos, ora uma, ora outra, a bola ao seu alcance parou fora da piscina a uma distância que ele podia buscar se esticando um pouco sem sair de todo da água e quando foi tentar esticar o braço, ao dar o salto, na empolgação, achando que impressionava as meninas, o calção ficou para trás deixando a mostra toda aquela bunda branca, que vergonha, que vexame, depois daquilo ele não quis mais saber da brincadeira, todos riram e ele saiu da piscina pela escadinha mais rasa segurando o calção com uma das mãos em direção ao vestiário.

terça-feira, 19 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Mentira de Bang-bang

Apareceu entre os meninos da rua, um garoto de outra cidade que era parente de uma amiga de Dona Rica. Ela não tinha filhos e de vez em quando esse garoto vinha passar umas temporadas com ela. Eles já o tinham visto pelas redondezas, mas aquela foi a primeira vez que o forasteiro tentou se aproximar.

O menino, por ser de uma cidade maior, se achava o ó do borogodó. Muito metido para os garotos que se entreolhavam fulos da vida a cada tirada ou mesmo mentiras que o bestinha aprontava.

A pior delas foi a dos três saquinhos de ouro. O moleque devia ter assistido a um filme de bang-bang daqueles com índios, ferrovias, soldados da cavalaria, mocinhos e bandidos em volta de uma mina de ouro.

Pois não é que ele teve a petulância de dizer que tinha guardado em seu quarto três saquinhos de ouro.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Obra do Século

Teve início na cidade a construção da canalização de um dos principais córregos da cidade.

A canalização era encoberta, na época era permitido.

Por ser uma obra de grande porte e que envolvia muita movimentação de terra, era um fascínio para a molecada que adorava escalar aquelas montanhas enormes de terra mexida, para desespero dos operários da obra, criança em obra é um perigo. Tonhola não podia ficar de fora. Apesar de a obra ser praticamente do outro lado da cidade, a meninada dava um jeito de aparecer por lá. Num sábado foram em bando visitar a obra, por coincidência naquele dia uma equipe de reportagem estava por lá filmando, foram vistos quando subiram no morro para apreciar a vista panorâmica daquele enorme canteiro de obras. Um dos encarregados que acompanhava a equipe, quando viu os meninos, gritou a acenou de longe para que eles saíssem de lá, não podiam aparecer na filmagem, aquilo podia comprometer a imagem de organização do canteiro. Nenhum operário trabalhava na obra naquele horário. As máquinas estavam estacionadas num patamar, na beira do córrego, do lado contrário ao dos meninos. Mais que depressa os meninos meio que assustados atenderam ao pedido e desceram.

Depois desse ocorrido, alguma coisa deu errado e a obra empacou, andou por muito tempo em ritmo lento e por isso foi carinhosamente apelidada pela população de "obra de um século". Depois a obra que ficou pronta e deu origem a uma das mais belas avenidas da cidade.

As leis ambientais não permitem mais canalizações fechadas de córregos, somente a céu aberto.

domingo, 17 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Filme do Sabão em Pó

Uma marca de sabão em pó patrocinou uma sessão de cinema para os alunos da escola de Tonhola.

Foi uma sessão especial, no período da manhã, no horário das aulas. Uma verdadeira festa, os alunos foram entusiasmados, de ônibus e na entrada do cinema receberam balas e guloseimas também patrocinadas pela marca de sabão em pó.

Foi um filme de aventura que não foi lá essas coisas. Tanto é que ele não se lembra mais do filme.

Mas se lembra muito bem do ator principal, que na época era um garoto da mesma idade dele. Esse ator ainda está na ativa e já fez vários filmes, muitos deles de ação. Seu nome: Kurt Hussel. Norte-americano, começou no cinema com dez anos de idade e nunca mais parou.


sábado, 16 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Primo Ângelo

O primo Ângelo tocava o hino nacional no berrante. Era um artista, ninguém fazia aquilo, só ele.

Na vida, ele teve um desgosto muito grande que o fez encontrar alívio na bebida, tornou-se alcoólatra.

Levou uma vida errante até o fim.

Um dia, quando Alfredo foi tirar o carro na garagem para levar os meninos na escola, o primo Ângelo estava dormindo dentro do carro. Foi o maior susto. Não entenderam como ele conseguiu entrar no carro, o Alfredo olhou feio para o filho mais velho Aramis como se a culpa fosse dele não ter fechado o carro direito.

Ele era assim, sumia por muito tempo e depois aparecia todo sujo, sorridente, tocando seu berrante.

Alguns anos depois, numa noite de muito frio ele foi encontrado num posto de gasolina, morto. O berrante apagou.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cemitério dos Heróis

Na volta da viagem a Monte Alegre depois de feita a campanha e distribuídos os adesivos, a bandeirante Marilda pediu para visitarem o Cemitério dos Heróis, um monumento no caminho e próximo à estrada, pouco mais de um quilômetro.

É o Monumento aos Heróicos Retirantes da Laguna da Guerra do Paraguai.

As Travessuras de Tonhola - Botina Amarela

Tonhola ganhou um par de botinas da mesma loja onde trabalhava o Seu Chico Risada.

Dona Rica disse para que ele fosse lá escolher e experimentar a botina que já estava paga pelo tio Alfredo.

Claro, todos queriam que ele escolhesse uma da cor preta que serviria para ir tanto para a escola como à missa aos domingos, além de poder ser engraxada e com isso durar um pouco mais, ainda que o menino esteja em fase de crescimento e em pouco tempo o pé não caiba mais no calçado.

Enganaram-se.

O moleque se encantou com uma botina amarela daquelas de jeca tatu mesmo, com elástico e presilhas salientes para ajudar a calçar

Sua avó levou um susto quando viu, depois riu e deixou por isso mesmo, se era o gosto dele, fazer o quê?

O menino não cabia em si de ansiedade para chegar o domingo e poder estrear a botina nova no cinema com os amigos.

Os colegas riram e o coretaram, mas, satisfeito, ele dava de ombros e seguia todo todo com sua botina amarela, com as presilhas para fora se destacando sob a calça curta e o que é pior, as botinas de sola ainda chiavam a cada passo.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Jogo de Argolas na Pecuária

A maior festa da cidade que se iniciava por aqueles tempos, atraia gente de toda a região. Para a maioria das pessoas quase tudo ali oferecido era novidade, o carrinho de trombada, o tiro ao alvo de chumbinho e de rolha dentre outras atrações, mas uma das que mais fazia sucesso com a garotada era a barraca do jogo de argolas.

Acertar as garrafas de refrigerante que ficavam dispostas no centro da barraca ao lado das prendas era o ponto alto do jogo. Tinha prenda pra tudo quanto era gosto, ursos de pelúcia de mais de metro, bolas plásticas coloridas de vários tamanhos, carrinhos de plástico e de madeira, refrigerantes, barras de chocolate, chicletes e outras guloseimas.

Acertava a argola e levava o prêmio.

A maioria se enganava direitinho. O jogo parecia muito fácil, poucos acertavam.

Tonhola torrou todo o dinheiro disponível para uma noite na pecuária só com as argolas de plástico e não acertou nenhuma. Novidade.

terça-feira, 12 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Badeirante Marilda

Na viagem que Tonhola fez à cidade vizinha para distribuição de adesivos, eles tiveram no fusca, a agradável companhia da bandeirante Marilda. Os três meninos foram apertados no banco de trás sem nenhuma reclamação, muito pelo contrário.

Marilda era uma morena de cabelos pretos e compridos de estatura mediana, não era magra nem gorda, simplesmente tinha tudo no lugar, era alguns anos mais velha que os meninos e de pronto caiu nas graças dos três pentelhos, com todos eles ela distribuía muita animação e simpatia.

Aquela viagem foi bem mais divertida que a primeira que fizeram, a do posto de abastecimento e serviços no entroncamento da estrada onde foram somente homens.

Alguns anos mais tarde Tonhola ficou sabendo que o pai de Marilda era bancário e fora transferido para outra cidade, nunca mais tiveram notícias dela.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chapéu de Escoteiro

Tonhola ganhou de presente um chapéu de escoteiro.

Era um chapéu usado, já um pouco surrado, com as largas abas caindo tipo o do Santos Dumont, mas que ainda dava um caldo. Tonhola agradeceu o presente e gostou, mesmo não sendo muito de usar, guardou o chapéu e zelou dele por algum tempo.

Um dia um amigo da turma do futebol na roça pediu um boné emprestado para uma pescaria, Tonhola não tinha nenhum boné em bom estado mas se lembrou do chapéu. Pra quê? O amigo colocou o chapéu que encaixou em sua cabeça feito uma luva e foi pescar.

Nunca mais Tonhola viu aquele chapéu de lebre cor cáqui, de escoteiro, ainda em bom estado de conservação, que certamente duraria muitos anos protegido numa caixa de papelão.

domingo, 10 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Brincando na Água da Chuva

Essa chuva de granizo trouxe à tona um outro episódio passado alguns anos antes, quando Tonhola ainda não estava na escola.

A rua de Dona Rica ainda não era asfaltada e quando chovia forte o volume de água formava uma enxurrada que fazia verdadeiras crateras nas laterais da rua. Assim que a chuva passava, a água seguia escorrendo rua abaixo, a meninada saia de suas casas e ia brincar naquela água barrenta para desespero das mães, entravam nas crateras, sentiam a água passando por suas pernas, era perigoso, podiam se machucar, mas não estavam preocupados com isso naquela idade, eles só queriam saber de brincar na água suja.

sábado, 9 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chuva de Granizo

Era novembro. Caia a tarde e o céu estava sendo assustadoramente coberto por umas nuvens muito escuras anunciando que chuva forte estava para cair em minutos.

Alguns meninos brincavam com Tonhola no quintal e Dona Rica saiu na porta da cozinha e gritou, já pra suas casas, não estão vendo o toró que vai cair, pra dentro Tonhola e nada de chuveiro agora, espere a chuva passar.

E choveu.

Uma chuva muito forte, com ventos assustadores, parecendo querer arrancar as telhas de barro da casa, caiu por um longo período até a noite se mostrar por completo. Choveu granizo e Tonhola brincava com as pedrinhas que escorriam pra dentro da varanda da área de serviço. Como estará o telhado do galinheiro? se perguntava fazendo o sinal da cruz a assustada Dona Rica. Tonhola não estava nem aí, passado o medo dos relâmpagos e trovões ele só queria saber de brincar com as pedrinhas de gelo do tamanho de suas bilocas que caíam no piso da varanda da área de serviço.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Disparo do Cavalo

Num domingo, Tonhola foi com Leopoldo e Joacir passear numa chácara perto da cidade, dava para ir a pé de tão perto. Foram de caminhonete com outros garotos, amigos de Leopoldo. Entre eles, duas garotas, uma delas era prima de Leopoldo e morava noutra cidade, a outra era uma amiga que a acompanhava.

A prima de Leopoldo era gordinha e queria que queria andar a cavalo, desde que subiu na carroceria da caminhonete, ela não falou em outra coisa.

Na chácara tinha um cavalo, um pangaré que passava os dias tranquilo pastando, sem muito esforço, o chão era pequeno e por isso seus serviços eram raramente solicitados.

Assim que chegaram, foram buscar o pangaré para a menina cavalgar, agora imaginem só, um pangaré que vivia naquela maciota diária, como que ficou, com aquele alvoroço de gente agitada à sua volta, o bicho ficou todo agitado também e não podia ser diferente, mas conseguiram arreá-lo e depois foi uma luta para a menina montá-lo, gordinha e pesada, ela não tinha altura suficiente e trouxeram uma cadeira de madeira para ela subir, na primeira tentativa não deu certo, o pangaré não ficava quieto e seguraram a menina para ela não cair, tentaram de novo segurando mais firme o coitado do pangaré, até que deu certo, ufa, a menina conseguiu montar e o bicho sentiu o peso da amazona, aquilo não estava certo, assim que soltaram a rédea na mão da menina, o pangaré se sentiu solto, deu um relincho tipo como se tivesse atendendo a um grito de aiôusilver e saiu em disparada com a menina em cima e o cavalo corria e era menina gordinha pra lá e era menina gordinha pra cá e o pangaré corria em disparada alucinada e o corpo da menina era atirado para um lado e para o outro no arreio surrado mas ela com as mãos firmes na rédea por um verdadeiro milagre de um deus separado que protege as crianças e as meninas gordinhas que montam em cavalos estranhos a menina não caiu para um alívio muito grande da moçada que de longe observava apreensiva e já começava a preparar o motor da caminhonete para sair correndo direto para o hospital mais próximo porque naquela época ainda não tinha pronto socorro na cidade, ufa de novo, respiremos, por sorte, nada aconteceu, o pangaré cansou com o excesso de peso que carregava aliado à sua má preparação física e voltou bufando e com a língua de fora e trouxe a assustada menina de volta sã e salva. Aquela deve ter sentido dores no corpo todo por muitos dias e certamente não mais ia querer saber de cavalgadas.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Travessia do Trator

Tonhola foi até a casa do tourinho Erasmo para brincar. A casa dele ficava a algumas quadras de distância, uma boa caminhada.

No caminho tinha uma oficina mecânica que consertava veículos grandes, caminhões e tratores. Estavam desembarcando um trator de esteiras na oficina e Tonhola parou, do outro lado da rua, para observar a operação.

Enquanto isso ele se lembrou de um fato quando ainda era pequeno e sua avó foi passear com o filho Álvaro numa fazenda, o menino Alfredo estava com ele e o Aramís ainda nem tinha nascido. Tinha na fazenda um trator de esteira muito antigo, apresentando ferrugens e vazamentos de óleo em algumas partes do motor. Um operador estava preparando o trator para sair e os meninos se aproximaram, conversaram com o operador e por ele foram orientados a ficarem mais afastados quando ele fosse sair com o trator em movimento, o bicho demorou a funcionar, depois de algumas tentativas ele funcionou com um barulho muito alto e dava alguns tiros no escapamento assustando os meninos, o operador riu nos primeiros tiros, deu uma manobra radical virando o trator no próprio eixo e saiu pela estrada, os meninos foram atrás numa distância segura; pouco adiante a estrada passava por um córrego que tinha uma pontezinha de madeira daquelas que suportava somente um carro de passeio por vez, ficaram intrigados de como o trator passaria ali, observaram de longe; o operador desviou o trator e passou ao lado da ponte atravessando o córrego, que não tinha muita água, sua passagem deixou um caminho de terra que durou algum tempo até a água encher um poço e voltar a completar o seu curso, nesse tempo, os meninos atravessaram o córrego por essa passagem de terra sobre o córrego sem tocar na água, aquilo ficou na memória de Tonhola e veio à tona ao ver o desembarque daquele trator, aliás, muito mais novo e maior do que atravessou o córrego sem passar pela frágil ponte de madeira de sua infância.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cabras

Certa vez Tonhola foi com os primos Aramís e Aroldo passar uma semana, durante as férias escolares do início do ano, numa fazenda que era de um primo de Dona Rica.

O primo mesmo não estaria na fazenda, o gerente, que tinha assuntos a realizar na cidade, fora orientado a avisar Dona Rica para preparar os meninos que ele passaria para pegá-los no outro dia bem cedinho e que no início da outra semana os traria de volta.

Dona Rica estava muito apreensiva em permitir, mas seu filho Alfredo deu a palavra final permitindo que os filhos fossem, o que facilitou para Tonhola também ir.

A fazenda era distante meio dia de viagem, numa caminhonete com capota de lona, os meninos foram na carroceria porque naquele tempo era permitido.

Chegaram debaixo de um tempo chuvoso.

Acomodados, não tinha mais crianças na casa. Só um casal de idosos que tomava de conta. O gerente, que levou os meninos morava em outra casa, mais distante e não tinha filhos, era somente ele e a mulher, que aliás, quase nunca saia de casa.

A fazenda era de criação de gado. Tinha um curral enorme, muito bem feito com mourões de madeira e cabos de aço no lugar das tábuas convencionais. Os cabos estavam novinhos, devia ser um curral novo.

Além do gado na fazenda também tinha uma criação de cavalos e de cabras, muitas cabras.

Num dia também chuvoso, caia uma garoinha fina o bastante para não desanimar os meninos que saíram bem cedinho e foram por uma estradinha sinuosa caminhando até uma barragem, orientados pelo caseiro, é só seguir direto que vocês chegam na barragem, mas não demorem, voltem antes do almoço, recomendou.

No caminho os meninos ficaram espantados com a quantidade de cabras.

De longe viram o gerente a cavalo cuidando de algumas que pariram naquela manhã. Ele veio até os meninos e disse que estavam esperando que muitas delas parissem por aqueles dias. Dito e feito. Na volta para casa passaram por outras em trabalho de parto e ficaram de longe. Era muita cabra parindo.

Choveu praticamente todos os dias em que estiveram na fazenda e pariram cabras também em todos os dias.

Chegado o dia da volta, um imprevisto fez o gerente levá-los até a estrada de terra que passava pela fazenda e eles voltaram de ônibus. Viagem que também foi uma diversão, estrada de terra, muita chuva e atravessaram o rio numa balsa, ficaram com muito medo quando o ônibus foi descer a rampa do barranco escorregadio para entrar na balsa, eles não queriam sair do ônibus, mas o motorista, depois de estacionar na balsa, convidou todos a sair e ficar do lado de fora do ônibus durante a travessia, por segurança, mesmo debaixo de uma garoa fria.

terça-feira, 5 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Violão

Dona Rica inventou de dar um violão ao neto.

Certo dia bateu em sua porta um vendedor ambulante com alguns instrumentos musicais e de acordo com o vendedor, estavam com os precinhos da hora, muito convidativos. Dona Rica se encantou com uma cítara, um instrumento de cordas lindo e delicado, mas que ela achou que não se encaixava com os padrões de organização do neto. Preferiu um violão.

Ela até imaginou o neto concentrado num banquinho dedilhando aquelas cordas. Era muito bom para ser verdade, pensou com seus botões. Mesmo sabendo que poderia dar com os burros n'água, resolveu tentar, pediu ao vendedor que aguardasse, foi até o quarto e numa caixa de sapatos no guarda-roupas, separou o dinheiro e comprou o instrumento.

Quando Tonhola chegou da escola, viu o violão no sofá e ficou todo entusiasmado. É seu, disse a avó, pode começar a treinar. Só que isso é uma outra história.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Torneio nos Três Coqueiros

Findo o campeonato de futebol infanto-juvenil, os meninos foram convidados por uns garotos que conheceram durante o campeonato, a participarem de um torneio que eles organizavam todo ano num campinho próximo ao Beira-Bosta, conhecido como Três Coqueiros.

O campo era parcialmente coberto com uma grama rala, era nivelado e menor que o do Beira-Bosta. Ficava numa esquina, e bem de frente tinha uma venda, num prédio muito antigo, daqueles com vigas e colunas salientes em madeira de aroeira com paredes de adobe e o telhado em quatro águas com aquelas telhas coloniais que eram feitas uma a uma. Uma construção baixa e feia que deve de estar lá até hoje. Era o dono da venda que fornecia os refrigerantes para o torneio.

Antes do início fora tudo combinado, o vencedor ganharia tantos litros de refrigerantes, pagos pelo time perdedor. O refrigerante de litro acabava de ser lançado na cidade em garrafas retornáveis de vidro.

Para esse torneio Tonhola foi convidado, não por sua categoria como jogador, mas porque sua participação era imprescindível na hora de pagar os refrigerantes, caso perdessem.

Só que daquela vez, para surpresa deles próprios, saíram vencedores e até o Tonhola jogou.

Se empanturraram de tanto refrigerante.

domingo, 3 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Treino no Campo de Terra

Ia começar na cidade um campeonato de futebol nas categorias infantil e infanto-juvenil. Os meninos se alvoroçaram: - eu vou jogar no time tal; e eu no tal; lá perto de casa estão organizando no bairro o time tal e vocês vão ver, os treinos serão no terrão, aquele campinho de terra próximo ao córrego, tem um bocado de moleque bom de bola que os pais vieram trabalhar na usina e moram no bairro, o time promete, ainda não foi definido o nome, mas será definido antes de se confirmar o início do campeonato.

Tonhola ouviu e ficou atento a tudo que os meninos diziam quando souberam do campeonato, só que nenhum dos times o convidou. Também!

Só que o menino não se fez de rogado. Poderia ser de zagueiro, volante, atacante, o que fosse, a não ser de goleiro ou lateral, em qualquer outra posição ele treinaria, daquele campeonato é que ele não ficaria de fora.

Leopoldo foi convocado para a associação esportiva, um dos times mais tradicionais e antigos da cidade e principal organizador do campeonato, o Joacir e os demais colegas já tinham confirmado presença em algum dos demais times previamente cadastrados.

Ainda faltava o Tonhola e o corajoso do time que o aceitasse.

Sobrou o time do terrão. Tonhola ficou sabendo que o treinador era de fora e assim não era tão exigente com a garotada no início dos treinamentos. Procurado, não durou muito a conversa e o garoto foi inscrito elenco.

Confirmaram o Tonhola como quarto-zagueiro na ficha de inscrição.

O primeiro treino seria num sábado a tarde.

Naquela época não havia coletes para separar a molecada, era um time com e outro sem camisas. Tonhola fora escalado num time sem camisas para o treino inaugural, para o treinador conhecer o potencial que tinha em mãos. O treino começou até que bem, com muita correria, os meninos querendo se mostrar ao treinador, menos Tonhola, ele não tava nem aí para isso, só queria dar chutão pra onde o nariz apontasse, onde fosse que estivesse no campo, até que num desses chutes ele estava meio que de lado e não viu um dos garotos se aproximando para disputar a bola, no que ela veio meio que do escanteio ele foi encher o pé e o menino entrou na frente, tocou a bola primeiro, mas claro, não deu tempo e o quarto-zagueiro Tonhola acertou-lhe um chute nas costas pela altura do rim que fez o moleque se estatalar no chão clamando de dor e buscando o fôlego com falta de ar; foi um corre corre, o treinador apitou forte interrompendo o treino e veio socorrer o menino atingido; ainda bem que tudo não passou de um susto, o moleque se restabeleceu bem, não deu conta mais de seguir no treino, mas já tinha seu lugar assegurando. Já o nosso zagueiro foi convidado a aguardar o restante do treino do lado de fora cedendo o lugar a outro garoto que aguardava a vez de ser chamado.

Não chamaram mais o pobre Tonhola para treinar, sua participação no tão esperado campeonato não passou daqueles poucos minutos do primeiro treino no campo de terra batida.

sábado, 2 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Pastel no Café da Manhã

Naquela época, as aulas de educação física eram duas vezes por semana com início às seis da manhã, o início das aulas era as sete horas.

A molecada começava a malhar uma hora antes do sinal tocar para o início das aulas em sala, por isso tinham que madrugar duas vezes por semana para os exercícios físicos.

Acabada a aula de educação física, os meninos tinham alguns minutos para se refrescarem até o início das aulas. Dava tempo de ir até um bar próximo, que abria às seis da manhã, para tomar um café da manhã. O que não era o costume de Tonhola pois ele levava o lanche de casa, preparado com capricho por sua avó. Mas um dia, um dos colegas de sala o convidou para comer um pastel quentinho feito na hora. Aquilo era novidade para o nosso amigo, pastel com café? Ele não conhecia, mas, curioso, aceitou o convite e foi e comeu e gostou e elogiou, muito bom um pastel de carne quentinho com café ao raiar do sol.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bar Quitandinha

Uma outra situação aconteceu com o nosso amigo Tonhola, em condições semelhantes, só que dessa vez não era com sorvete, com café.

Foi no Bar Quitandinha.

O Quitandinha era um bar minúsculo, um retângulo de um metro e meio de largura e comprido de fundo que só cabia o balcão e o pessoal ficava em pé sem bancos pois não tinha espaço.

O Quitandinha, como o nome dizia, servia café e lanches, quitandas.

Certa vez, Tonhola, por impulso, depois de comer um bolo de chocolate com refrigerante, se apossou de uma daquelas colherzinhas de café que estava dando sopa sobre o balcão. De súbito ele colocou uma no bolso e foi pra casa.

Alguns dias se passaram. O filho de Dona Rica, o Alfredo, foi até a casa dela no final do expediente numa de suas visitas rotineiras e viu sobre a mesa a dita colherzinha. Quis saber de onde era e Dona Rica chamou o neto que veio todo avexado e explicou a situação tim tim por tim tim. Mas o Alfredo ficou muito bravo, fez o moleque ir no outro dia bem cedo devolver a colherzinha, pedir desculpas e explicar que havia levado por engano, onde já se viu, o dono do Quitandinha era conhecido dele.

A colherzinha foi devolvida.

A lição foi entendida.

quinta-feira, 31 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Sorveteria Columbia

Sorveteria Columbia, era o nome do bar onde se fabricava um sorvete e picolé de creme, cujo sabor era único.

Para o picolé eram duas formas, uma de formato redondo e outro quadrado com o pauzinho de madeira.

Uma vez, Tonhola foi comprar um picolé e o atendente estava sozinho no balcão com outros clientes e disse ao menino, que já lhe era conhecido, entre e pegue você mesmo.

Tonhola entrou e ao abrir a tampa de vidro do balcão frigorífico, notou que um dos picolés redondos estava sem pauzinho. Alertou o atendente que numa exclamação de culpa, disse que ele poderia pegar aquele para chupar, não precisaria pagar.

No outro dia, com o atendente ocupado, a mesma coisa, pode entrar e pegar o picolé, tem outro sem pauzinho aqui, pode pegar pra você de novo, só que aquele não estava sem pauzinho, Tonhola quebrou o pauzinho de propósito.

Tonhola chupou alguns outros mais depois daquilo, da mesma forma.

quarta-feira, 30 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Pensão de Monte Alegre

Tonhola foi numa outra viagem até a cidade de Monte Alegre, uma das mais antigas da região, um pouco além do Trevão também para participar de uma outra campanha.

Dessa vez, por ser mais longe, saíram de manhã bem cedo.

A viagem foi muito boa. Aquele trecho com buracos na estrada não existia mais, já haviam sido feitos os reparos, tá certo que de forma improvisada, mas buracos não tinham mais.

Chegaram, o carro foi estacionado na praça da cidade e as orientações foram passadas aos três garotos que se esparramaram um para cada lado com o compromisso de se encontrarem tal hora na pensão em frente à praça, onde almoçariam.

Cada um, de posse de seu material, saiu de casa em casa oferecendo os adesivos e divulgando a campanha. O tratamento que receberam daquela vez, foi bem melhor que o do Trevão. Mesmo as pessoas não comprando, ficavam atentas ao motivo da campanha e tratavam bem os meninos, ofereciam água e alguns até os entusiasmavam a seguir adiante, vai lá no fulano que ele contribui, diziam.

Na hora marcada, encontraram-se famintos na pensão para o tão aguardado almoço. A comida era caseira, muito bem preparada, inesquecível e tinha um suco de graviola que fez a diferença no almoço. Os meninos não conheciam e adoraram o refrescante suco natural.

Continuaram com a campanha até o meio da tarde, precisavam voltar antes do escurecer. A campanha foi melhor dessa vez, arrecadaram mais.

terça-feira, 29 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Adesivos no Trevão

O convite feito a Tonhola e os outros dois colegas foi para ajudar numa campanha que se iniciava. A tarefa deles era oferecer adesivos com a estampa da campanha para serem fixados nos vidros dos carros. O Trevão ficava no cruzamento das duas estradas principais da região, uma norte-sul e outra leste-oeste, era o cruzamento de maior movimento da região.

Não foi de muito sucesso a empreitada.

A maioria dos carros que paravam para os serviços no posto de gasolina e no restaurante, faziam cara feia para os meninos e não compravam nada. Muitos eram até grossos e nem deixavam eles terminarem de explicar do que se tratava a campanha. Foi tempo perdido. Um insucesso. Para a campanha, mas não para os meninos. Eles estavam mais era se divertindo, apesar das broncas que levavam, principalmente das madames, as esposas dos que viajavam em família, para espanto dos meninos.

Somente alguns caminhoneiros contribuíram com a campanha e permitiram a colagem dos adesivos em seus caminhões.

No final não haviam arrecadado quase nada, mal deu para o lanche, mas divulgaram a campanha.

Ficaram de voltar mais vezes.

segunda-feira, 28 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Primeira Viagem

A primeira viagem de Tonhola foi de fusca.

Ele fora convidado com mais dois amigos e participar de uma campanha num local de grande movimento de veículos, não muito distante da cidade.

Almoçaram mais cedo naquele dia e partiram com o compromisso de voltarem até o final da tarde. O motorista era um membro da paróquia local, amigo de Dona Rica.

Eles não sabiam direito o que teriam que fazer, mas foram animados. Animados com a viagem, com o novo, com o que veriam pela frente, tudo era novidade. Pararam num ponto na beira da estrada para chupar abacaxi, fruta da hora. Admiraram pelo caminho as lavouras de milho e de algodão que se perdiam de vista na distância. Passaram por um trecho delicado da estrada, com muitos buracos, os carros passavam devagar em ziguezague escolhendo os melhores caminhos. Algumas vezes o fusquinha chegou a arranhar o soalho no asfalto, tamanho os buracos, por maior que tenha sido os cuidados do motorista, foi uma passagem tensa. Alguns carros aguardavam na beira da estrada por socorro com os pneus estourados.

Daquela vez, deu tudo certo, cumpriram as tarefas determinadas e voltaram um pouco antes do horário previsto, devido o estado da estrada.

domingo, 27 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Caminhada Ecológica

A professora de Tonhola convocou os alunos para uma caminhada ecológica.

A caminhada seria no sábado pela manhã com saída do pátio da escola. Era para cada um levar o seu lanche e uma garrafa com água, suco ou refrigerante.

A criançada adorava aquele tipo de evento. Saíram caminhando pelas ruas, em blocos, pela calçada, até a avenida que margeava o córrego que atravessa a cidade. Seguiram até o final da avenida e se adentraram na mata no final da rua. Por cada bicho ou planta que passavam a professora perguntava se alguém poderia dizer o nome. Dos bichos, quase todos sabiam, até mesmo o nome de quase todos os pássaros, mas o nome das plantas, só os alunos que vinham da roça, sabiam alguma coisa. Para todos foi um aprendizado aquele passeio, cansativo, mas muito útil, todos aprendiam mais sobre os animais, as plantas. Também aprendiam mais sobre os colegas e o convívio com eles e os professores. Antes do meio dia já estavam todos de volta à escola.

As Travessuras de Tonhola - Susto no Ribeirão

No acampamento daquele episódio anterior, teve uma passagem que marcaria para sempre a vida de Tonhola.

Foi o susto no ribeirão.

O poço que se formava na curva depois da queda d'água onde a molecada se divertia nadando, não era muito grande, mas tinha profundidade o bastante para encobrir um adulto.

A moçada do acampamento se divertia no poço todos os dias no final da tarde, depois de concluídas as tarefas do dia. Os que sabiam nadar, aproveitavam, os que não sabiam, aproveitavam também, a seu modo, se divertindo na parte rasa do poço. Só que menino dessa idade, já viu, cada um quer ser mais que o outro, brincadeira que acabou dando no susto que o nosso herói se tornou vítima: um dizia ao outro, você não tem coragem, eu tenho, você não vai, eu vou, e um ia, e outro ia, e outro não ia e chegou a vez de Tonhola e ele não foi, passou a vez de todos e de novo ele não foi, não tinha coragem de atravessar o ribeirão como a maioria fazia; um dos monitores da turma contrária à de Tonhola, ao saber que ele foi o único a não atravessar o poço, avisou aos colegas que insistissem para ele ir, que assim que ele entrasse no poço tentando atravessá-lo ele próprio ia num mergulho mais profundo dar aquela ajudazinha; insistiram tanto, que Tonhola se encheu de coragem e resolveu atravessar o poço a nado; toda a parte mais profunda do poço dava em torno de umas dez braçadas a travessia, muito para quem não sabia nadar, mesmo assim, cheio de coragem ele se atirou na água e foi rumo à outra margem; quando estava quase no meio do poço, o monitor, que era um bom nadador, mergulhou e foi no sentido transversal de encontro ao assustado Tonhola, que mesmo em sua concentração total no tremendo esforço para efetuar as desajeitadas braçadas, percebeu quando alguém se atirou nágua, justo naquele sacrificante momento, o que é claro, só aumentou o seu desespero; o menino entrou em pânico antes do monitor alcançá-lo para a triste brincadeira, parou com as braçadas e tentou buscar o fundo do poço e nada de fundo alcançou, bebeu água; os meninos que acompanhavam a aventura do lado de fora, como uma brincadeira, se assustaram, alguns entraram na água para ajudar ao perceberem que o negócio estava ficando sério e que o menino estava mesmo era se afogando e dando braçadas e coices e bebendo água naqueles segundos de pavor; o monitor alcançou a perna de Tonhola, não para assustá-lo como era sua intenção inicial e sim para salvá-lo; tentou puxá-lo sem sucesso, o susto foi grande e não era mais só do afogado, todos ficaram muito assustados; quando o monitor percebeu que aquilo não era mais uma brincadeira e que o menino estava mesmo se afogando, deu um jeito de arrastá-lo para fora d'água com a ajuda dos colegas que entraram no poço, os demais assistiram a tudo do lado de fora e ficaram muito sem graça com o que tinham feito. Tonhola saiu branco da água, chorando apavorado e quando deu por si ainda chorando, gritou aos berros xingando todos. Passado o susto, depois do menino restabelecido, caíram na gargalhada. Ufa! Aliviante!

Aquele susto marcou Tonhola para o resto da vida. Ele não mais aprendeu a nadar.