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domingo, 29 de outubro de 2017

As Travessuras de Tonhola - Lava Louças

Dona Rica, mesmo viúva, conservou a aliança no dedo. Sem saber porquê, ela a manteve.
Ela gostava de chamar o neto Tonhola para ajudá-la na pia quando ia lavar as louças. Não pela qualidade do serviço do menino, mas por mantê-lo por perto por aqueles preciosos minutos e poder conversar com ele assuntos diversos, era uma ocasião única. Ali ela ficava sabendo das travessuras do dia, do que ele havia aprendido na escola, quais eram as tarefas para o outro dia, se tinha saudades da mãe e também o que ele estava pensava em fazer.
O neto não reclamava e até gostava de passar aqueles minutos sendo de alguma forma útil à avó e ainda mais com aquela conversa agradável, sem broncas.
O barulho que a pesada aliança da avó, fazia quando batia na louça a cada vez que ela enxaguava um prato sobre a água corrente da torneira, nunca lhe saiu da memória.
Tonhola gostava daquele barulho enquanto enxugava os pratos com o pano e os arrumava sobre a mesa de madeira.

As Travessuras de Tonhola - Prova de Inglês

Tonhola quis dar uma de sabido e numa das provas do colégio foi ensinar um dos colegas a se dar bem na prova.
Justo na prova de inglês.
Ele disse como fazia antes da professora chegar e achou que o colega tinha entendido.
Lá pelas tantas, alguns dos colegas já estavam entregando as provas quando a professora foi direto ao colega de Tonhola e lhe puxando as orelhas com força, tomou-lhe a prova e disse pra sala toda ouvir: "- não tá encontrando não". Zero.
A sala assustada olhou para o colega. O infeliz levantou a prova para ler o que tinha escrito a lápis na carteira, tremenda vacilada.
Saiu puto dali dizendo que a culpa era do Tonhola.

As Travessuras de Tonhola - O Ouro do Tolo

Aquela fora a primeira viagem interestadual de Tonhola.
Era final de ano e ele foi de ônibus com a avó.
Foi aí que ele ouviu aquela música que falava no sujeito que devia estar contente mas se achava decepcionado porque ainda tinha muita coisa pra conquistar e não podia ficar parado pois já tinha um corcel podia ir com a família dar pipoca aos macacos e não queria ficar no trono do seu apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar vendo a sombra de um disco voador.
Era um jeito diferente de música.

As Travessuras de Tonhola - Saiu com a Professora

Final de ano na escola os alunos inventaram um tal de amigo secreto entre eles e a professora.
Tonhola foi premiado e saiu com a professora.
Sorte ou azar?
No início ele reclamou, mas depois, até que passou a gostar da ideia.
Marcaram a revelação dos presentes para a última semana de aula, assim, tinham tempo para a decisão sobre os presentes.
Alguns dos amigos, principalmente as meninas, trocaram entre si os bilhetes.
Tonhola não quis trocar o seu, seguiu com a professora.
Nenhum dos colegas ficou sabendo, apesar da pressão.
Alguns dias depois, com a indecisão sobre qual presente comprar, confidenciou à avó: - saí com a professora.
- E agora, que presente dar?
Por algumas semanas Tonhola carregou a dúvida. Pensou num livro, numa blusa, numa pulseira, mas nada decidiu.
Um dia, por acaso, numa papelaria, viu no balcão um estojo muito delicado com um conjunto caneta-lapiseira. A caneta e a lapiseira eram vermelhas, menores e mais finas que as canetas normais. Era aquele o presente, tinha decidido.

As Travessuras de Tonhola - O Rio Represado

Pescaria num Jeep Candango após o rio represado.
Eles saíram após o almoço naquele sábado tão esperado. Dona Rica exitou em deixar o moleque ir, mas, como o amigo Tonho, responsável pela aventura era conhecido de longa data, acabou cedendo, mesmo conhecedora de que sua fama não era lá essas coisas. Só que antes de permitir, ela disse ao neto para levar também o menino Erasmo que adorava uma pescaria. Foram os quatro, o Tonho ao volante, o amigo de nome Luiz no banco do passageiro na frente, que usava um boné muito puído com a aba virada para trás; e no banco de trás o Tonhola e o amigo Erasmo, o negrinho forte, que antes parecia mais forte, o tourinho, mas como tinha crescido, aparentava mais magro.
A pescaria foi uma festa.
Já na saída, assim que o Candango com capota de plástico preto caiu na estrada, o Tonho tirou a dentadura e guardou num embornal.
Imaginem como ele ficou para conversar com aquela boca murcha.
No mesmo embornal ele tirou uma garrafinha de vidro de guaraná caçulinha com tampa de rolha, só que o conteúdo não era guaraná e os meninos só foram perceber depois de ajeitados na margem do rio. Era aguardente pura.
O volante do Candango era todo cambaleado e parecia ter uma tremenda folga. Vira e mexe o jipinho dava mostras de querer investir no colonião e era contido pelo atento Tonho que o redirecionava no eito da estrada.
Apesar disso não correram perigo algum durante a viagem, o movimento na estrada era pouco naquela época e o estado do veículo não permitia velocidade de risco.
Os meninos riram o tempo todo das piadas e dos causos do Tonho contados com aquela boca murcha sem dentadura. Era um assunto emendado após o outro. Os causos eram confirmados pelo Luiz do boné virado que olhava para trás, sabem né, para dar maior veracidade aos fatos para os meninos.
Durante a pescaria, primeiro temos que lembrar a chegada, porque a fazenda ficava do outro lado do rio, por isso, era preciso soltar foguetes para o alto para avisar o caseiro que ia de canoa buscá-los. Não se enxergava a outra margem, de tão largo ficou o rio depois de alagado para formar a represa da usina.
Feita a travessia, depois de instalados na outra margem, o caseiro deixou todos à vontade e foi cuidar da lida.
Pescaram de canoa, ali, próximo à margem. A canoa fora amarrada nos feios troncos de árvores mortas, mas ainda de pé, semi submersas pelo alagamento, mas ainda expostas, mostrando resistência.
Tonhão e o Luiz do boné virado já conheciam o perigo daquelas águas quando o tempo mudava rapidamente, por isso não foram muito longe.
Com alguma pesca miúda, só dava isso, foram para a margem preparar o jantar. Tiraram do embornal uma panelinha pequena toda empretejada onde foi feito o arroz.
O gosto de fumaça daquele arroz Tonhola nunca mais esqueceu.
Os peixes foram abertos e limpos pelo Luiz do boné virado e fritos numa frigideira também pequena, do mesmo naipe da panela.
Tonhola perguntou onde estava a água para cozinhar. Tonho deu uma baita gargalhada e disse que ia buscar. Usaram aquela água barrenta do rio.
Era a primeira vez que Tonhola comia peixe fresco pescado na hora, fritinhos, na beira do rio. A carne era muito macia. Já Erasmo não reclamou de nada, mais acostumado que estava àquele tipo de empreitadas.
Fartaram. Com a fome nem deu tempo de pensar na água barrenta.
Mal haviam terminado o jantar, começou um vento mais forte que foi aumentando pouco a pouco, a ponto de fazê-los desistir de voltar ao rio na canoa. Em pouco tempo, ondas de quase um metro de altura se formaram e o rio ficou muito agitado. Escureceu rápido e a pescaria noturna já era.
Foram debaixo de chuva, levando os apetrechos de pesca e de cozinha, em busca de abrigo.
O céu era um breu só, não se enxergava nada, seguiram em fila, o Tonho na frente, o Luiz do boné virado, Tonhola e por último o Erasmo. Um na cola do outro.
Foram recebidos na sede por uma cachorrada barulhenta.
O caseiro saiu rapidamente com uma lamparina até o vão da porta e disse-lhes que podiam se ajeitar nos dois quartos com portas para o lado de fora que ele já tinha deixado destrancadas. Num dos quartos tinha duas camas de solteiro e nele ficaram os dois amigos, no outro tinha uma cama de casal pequena e foram instalados os dois meninos que dormiram do jeito que estavam, com as roupas molhadas, de botina, atravessados na cama com as pernas penduradas.

Ao amigo Elmo, onde quer que ele esteja.

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

As Travessuras de Tonhola - Jogando ping pong

Tinha somente uma mesa de ping pong na escola. Não se dizia tênis de mesa naquela época.
No horário do recreio a meninada se divertia jogando, ou até mesmo em volta, somente assistindo, ou na fila aguardando sua vez de jogar.
Alguns dos meninos se destacavam eliminando os demais e permanecendo mais tempo à mesa jogando.
O que não era o caso de nosso amigo Tonhola.
Meio grande e desajeitado pela pouca idade o menino era todo destrambelhado e demonstrava um tantinho de nada da coordenação necessária para conseguir jogar.
Provocava risadas por não conseguir se conter e no entusiasmo das raquetadas empurrar a mesa de jogo com a barriga.
Mas ele não se dobrava. Por maior que fossem as gozações ele perdia e voltava para o final da fila para jogar de novo.
Pena que o horário do recreio era curto e muitas das vezes ele nem conseguia jogar.

As Travessuras de Tonhola - Refrigerante de uva

Tonhola não era chegado em suco de uva, como já descrito em capítulo à parte.
Só que acabara de ser lançado um refrigerante com novo sabor dessa deliciosa fruta.
A curiosidade, essa capacidade nata do ser humano em procurar o novo, é muito mais forte quando se é adolescente e fez com que o menino não se conteve até experimentar o novo sabor.
As lembranças daquele fatídico suco não lhe saia da cabeça. Aquele gosto terrível do concentrado em quantidade elevada lhe vinha à ponta da língua só em pensar e ainda lhe revirava o estômago.
Mesmo assim, foi ter com o arroxeado líquido.
Naquele tempo o refrigerante era fornecido somente em garrafas de vidro e o conteúdo dava para encher dois copos.
Temendo o pior ele aguardou o momento certo e foi sozinho ao bar, certificou-se de não haver nenhum conhecido por perto e no famoso Bar Quitandinha, nosso amigo experimentou e gostou do novo suco.
Para sua surpresa a suavidade do líquido desceu-lhe macio e saboroso.
Foi-se ali o trauma do suco de uva.
Mais tarde ele passou a ser um grande admirador de vinhos.

terça-feira, 18 de julho de 2017

As Travessuras de Tonhola - Tudo culpa do Dirão

Dirão era um homem forte, alto, não muito gordo, tinha seu enorme peso muito bem distribuído em seu corpo. Era um amigo antigo da família e em especial de Dona Rica a quem ele muito admirava e respeitava. Rara era a semana que ele não passava na casa de Dona Rica, nem que fosse só para lhe pedir a bênção.
Dirão era um homem de meia idade, desquitado e que morava num conjunto habitacional. Um dos primeiros construídos na cidade, numa casinha simples, pequena, mas aconchegante. Moravam ele e sua velha mãe viúva. Vitima de um casamento infeliz, que pouco durou, ele não chegou a ter filhos, depois, desgostoso, não quis mais saber de se casar e levava a vida do trabalho para casa e da casa para o trabalho em sua velha bicicleta.
Ele era vendedor numa tradicional loja de utensílios domésticos no centro da cidade.
Solteiro e desiludido, Dirão gostava de tomar umas cangibrinas para suportar as "agruras da vida", como dizia ele.
Dona Rica sabia que ele bebia, pois era denunciado pelo cheiro. Só que, como lhe parecia pouco, ela não dava muita importância, mesmo assim o aconselhava a não seguir aquele caminho, para ela a bebida era um caminho sem volta. Tristes exemplos lhe vinham na mente do passado recente que vivera.
A coisa aos poucos foi piorando.
Dirão estava ficando cada vez mais ébrio. Chegava todo falante e animado puxando prosa, Dona Rica lhe enfiava goela abaixo um café amargo e o mandava direto para casa. Ele obedecia e ia cambaleando em sua bicicleta rua afora observado até sumir da vista da boa senhora.
Um dia Tonhola estava em casa se divertindo com o final da sessão da tarde vendo televisão quando chegou o Dirão. Chegou daquele jeito, o homem estava bebaço. Conhecido da casa, foi logo entrando e perguntando por Dona Rica. Ela não estava, tinha dado um pulo na casa de uma vizinha. Ele resolveu esperar por ela e entrou, ao se sentar no sofá, com aquele delicado peso de três dígitos, que ele, no estado em que estava, não conseguiu segurar e se soltou de uma só vez, lascou com o sofá individual de Dona Rica. Por pouco não se machuca. Naquele exato momento Tonhola ouviu o ranger do portão de ferro e deu um salto em direção à avó que voltava e foi logo dizendo:
- a culpa é do Dirão.

sábado, 4 de fevereiro de 2017