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sábado, 23 de abril de 2011

Senha 559

Sexta-feira, último dia útil da semana e também do mês, dia de quitar compromissos fiscais. Mas aquele era especial, somente ele poderia resolvê-lo, pediu a um auxiliar que passasse no banco após o almoço e lhe retirasse uma senha para ir ao caixa, pedido atendido, alguns minutos antes do banco fechar, ele entrou se certificando antes que a senha 559 estava no bolso da camisa de mangas. Mal passou pela porta giratória de vidro, ficou surpreso, a agência ainda estava lotada, conferiu no painel informativo digital e sua senha ainda estava longe de ser atendida. Entrara em vigor uma lei estadual proibindo o uso do telefone celular no interior das agências bancárias, é pra acabar mesmo, pensou, e, sem falar com ninguém de fora da agência e tentar resolver outros assuntos, não tinha outro jeito a não ser esperar. Circulou entre os clientes, conheceu alguns, trocou comentários, a maioria reclamando da demora no atendimento, pensou em procurar o gerente e quem sabe, um atendimento especial, lembrou-se da última vez que tentara e desistiu depois de ver o gerente atendendo e uma meia dúzia de outros sentados aguardando a vez. Passados meia hora do horário de fechamento bancário e para piorar a situação, um dos funcionários, avisou em voz alta que o sistema bancário de informática estava fora do ar e que poderia demorar alguns minutos para voltar. Era o fim da picada, pensou, a chiadeira foi geral, alguns desistiram e foram embora. Em pleno Século XXI e ainda sujeitos a tais caprichos, mas aquilo não demorou muito e logo o sistema voltou ao normal, o que não era normal era o tanto de documentos que a maioria dos que estavam sendo atendidos levavam para resolver e demoravam tanto. Sem falar no número de caixas de atendimento que os clientes achavam insuficientes e reclamavam em silêncio; um dos caixas era para atender clientes especiais, mulheres grávidas ou com crianças no colo ou idosos ou deficientes físicos ou seja, daquele caixa podia desistir, os outros que sobravam demoravam demais; um dos caixas era só para atender quem tinha mais de três documentos, no seu caso era só um documento e a senha que pegara também era para um atendimento como a maioria dos clientes em espera. Ôpa! um fiozinho de esperança de sair mais cedo dali, três senhas foram chamadas em seguida e ninguém apareceu, certamente desistiram com a demora. Fazia calor e com a sala cheia o ar condicionado não tinha o efeito desejado, um senhor obeso passou mal e teve que ser atendido ali mesmo, chamaram a ambulância que não demorou muito, veio uma enfermeira loira robusta com os bombeiros e levaram o sujeito na maca diante os olhares curiosos. Olhou no relógio fixo da parede, duas horas se passaram, que perda de tempo, mas com a espera, a ira se vai porque dá tempo para pensar e acabar aceitando pois em nada adianta se irritar. O que importa mesmo é realmente resolver o motivo de ali estar, portanto, só resta mesmo aguardar sua vez. Pronto, senha 559 no painel, foi direto ao balcão, fez umas gracinha sem graça com o moço do caixa pra quebrar o gelo. Naquela altura o caixa já expressava um cansaço irritante, recebeu os papéis e colocou-os sobre o balcão, ainda sem lê-los deu umas golfadas numa garrafinha d'água que mantinha sobre a mesa, ajeitou rapidamente os dinheiros na gaveta do caixa, fechou-a rapidamente e foi ao atendimento. Verificou os papeis apresentados, certificou-se do propósito do cliente e infelizmente foi aí que sua situação piorou depois de tanto tempo de espera; um dos números do beneficiado da operação não conferia, tentaram de todas as formas e nada, até o telefone fixo da agência foi colocado à sua disposição para tentar consertar os dados, mas pelo adiantado da hora, talvez, nada conseguiram. O moço do caixa disse-lhe então que infelizmente nada podia fazer sobre o assunto e já com o dedo no botão chamando a nova senha pediu que voltasse na outra semana com os dados corretos e meio que levantou-se um pouco da cadeira apoiando os cotovelos no balcão e falou por cima do ombro do cliente olhando para os demais: próximo!

sexta-feira, 22 de abril de 2011

A Encomenda

O pedido era somente para ela passar na loja e trazer a encomenda, mas no caminho, muitas coisas passam na cabeça de uma adolescente e daquela vez não fora diferente, ela ia totalmente distraída pelo caminho e tropeçou numa tábua na calçada, restos de obra, alguns peões a cortejaram sem muito exagero, ela pareceu gostar, encontrou com uma colega de escola que fez algum comentário sobre um trabalho que teriam que fazer juntas, disse que não havia esquecido mas que tinha pressa e tratariam daquilo depois, alguns minutos depois, chegou à loja, o pedido já estava prontamente empacotado, identificou-se, tomou posse, agradeceu e voltou ao que parecia ser direto para casa, ledo engano, alguns rapazes do colégio, mais velhos que ela e que tinham no carro a companhia de uma de suas amigas passaram e a convidaram para dar umas voltas e ela sem pensar atendeu ao pedido, que bestagem, ela nenhum pouco pensou no problema que havia se metido, os rapazes partiram em disparada, tinha latas de cervejas esparramadas no carro e o cheiro de cerveja derramada no banco de trás era forte, ela não bebia, ainda, insistiram para que ela bebesse também, principalmente sua amiga que àquela altura já estava alta e sorria sem parar, um dos garotos meteu a mão em suas pernas, ela tomou um susto e deu um salto no carro, só faltou gritar, resolveu experimentar a cerveja, achou horrível e cuspiu, aquilo irritou os rapazes, pra quê, insitaram o que dirigia a ir mais rápido e sair da cidade, entraram num descampado, desceram, a colega ria sem parar, ela não queria, disse que tinha que voltar, estava atrasada, sua mãe a esperava e que teria problemas, nada os fazia desistir naquela hora, beijaram sua amiga na boca, primeiro um, depois o outro e ela ficou espantada em ver aquilo e amiga aceitar e ainda continuar rindo, tentaram segurá-la, ela não deixou, tentaram beijá-la, ela não deixou, começou a chorar, percebeu o tamanho da encrenca, não sabia o que fazer, do nada, apareceu o filho de um fazendeiro dirigindo um trator, os rapazes se assustaram e saíram correndo deixando-a para trás, para seu alívio, o tratorista a levou para casa e explicou o ocorrido à mãe que perdoou a filha, que acabou ficando sem a encomenda esquecida no carro.

Cardápio

Ele chegou ao restaurante poucos minutos antes da hora marcada, escolheu a mesa e sentou-se de frente para a porta de entrada, pediu uma dose, aos poucos as demais mesas foram sendo ocupadas, alguns casais comportados saboreavam seus jantares, numa mesa mais ao fundo alguns rapazes do tipo brutalhões tatuados falavam muito alto e recebiam os olhares desaprovadores das mesas vizinhas mas pareciam não dar a mínima, numa outra mesa um senhor grisalho falava alto ao celular, também incomodando, incrível as pessoas não terem educação para usar o telefone em público, o garçom lhe trouxe outra dose, cada moça que passava a porta de entrada lhe causava apreensão, e o tempo passava e nada dela aparecer, ele tirou o celular do bolso, procurou um número no discador, mas desistiu e não fez a ligação, bebeu aquela dose bem mais rápido e pediu outra, indagado, disse que esperava alguém e que faria o pedido depois, foi atendido, notou que alguns casais haviam terminado seus jantares, certamente alguma coisa devia ter acontecido para ela não aparecer daquele jeito, mas ele não sabia o quê e nem imaginava, com o efeito das doses, começou a demonstrar irritação, olhou feio por cima do ombro para os quatro brutalhões que falavam e davam gargalhadas sem parar, mas eles não pereceberam e continuaram se divertindo, ele pediu outra dose de forma grosseira ao garçom que o atendeu com rapidez, mas percebeu a alteração no tom da voz do cliente e alertou o chefe ao voltar ao balcão, ficaram de olho, mas de nada adiantou, o cliente nervoso e bêbado foi ao banheiro, passou pelos quatro rapazes e os encarou de frente, caçoaram dele, que passou devagar, continuaram rindo, na volta do banheiro sacou de uma arma e atirou nos quatro rapazes com a rapidez e a coragem do efeito do álcool, para surpresa de todos, não saiu correndo, guardou a arma, sentou-se e calmamente pediu o cardápio.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

Par ou ímpar

Ano par é ano par.

Nasci num dia par, num mês par, num ano par, numa década par e num século par.
O que não significa nada, só parecem mais bonitos os números lado a lado nos documentos.

Oito do oito de sessenta.