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segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Porta do Tabaris

Joacir, por ser o mais velho da turma e já familiarizado com as casas do meretrício, quis dar uma de bonzinho e compensar pelas peraltices que já tinha aprontado com os amigos, não só com o Tonhola no caso da bicicleta, mas com todos os demais. Para tanto, combinou de levá-los à zona.

A princípio Tonhola não queria ir, mas, pensou na gozação que enfrentaria depois entre eles, se fosse o único a ficar de fora, e acabou topando. Disse para a avó que iriam numa festa na casa de um menino da escola.

Na zona tinha uma boate com um letreiro iluminado na vertical destacando o nome: Tabaris. Passavam os garotos pela rua, com medo da polícia aparecer e terem de sair correndo dali, quando se aproximando da porta da boate, um corre corre aconteceu e muitos homens em disparada saíram apressados da boate. Os meninos voltaram para trás e correram até um ponto seguro, distante o bastante onde podiam respirar e observar de longe o que tinha acontecido. Souberam por um dos homens que vinha pela rua que um bêbado lá dentro tirou de uma faca e partiu para cima de outro, mas que foi contido a tempo pela turma do deixa disso e nada aconteceu. Só o susto. Os meninos foram embora e combinaram de voltar outro dia.

Aquela boate, nunca mais.

domingo, 28 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Vizinha Safada

Era uma safada a mulher do soldado.

Próximo à casa de Dona Rica foram construídas no mesmo lote, três casas pequenas geminadas, todas com saída por um corredor estreito até a rua.

Foram morar numa dessas casas um soldado com a esposa. Eles não tinham filhos e vieram transferidos de outra cidade.

O soldado trabalhava o dia todo e a esposa ficava em casa. Ela era uma morena bonita e fogosa que usava umas roupas provocantes com os peitos estufados e apertados à mostra.

Em pouco tempo a mulher do soldado ficou conhecida da vizinhança. Era motivo de prosa certa entre a turma de Tonhola. O Joacir, o Napoleão e até o Erasmo faziam comentários sobre a morena.

Um dia, Tonhola combinou com os amigos de ir ao cinema, ficaram de se encontrar na bilheteria. Tonhola se arrumou e saiu todo engomado e perfumado de casa. No caminho, encontrou com a mulher do soldado na esquina, já era noite e ela se aproximou e com a voz toda manhosa fez algumas piadas com ele. Quis saber onde ele estava indo daquele jeito, se ia encontrar com a namorada e foi se aproximando e pegou no braço do menino que àquela altura já se tremia todo dentro das calças. Ele só conseguia pensar no soldado chegando e vendo os dois daquele jeito naquela prosa. Aquilo não estava certo, de um salto, se encheu de coragem e empurrou o braço dela e a deixou falando sozinha, disse que estava com pressa e se mandou. Pela rua, apressado, foi embora com um tiquinho de arrependimento, podia ter aproveitado mais.

Depois ficou quieto, daquela vez, não teve coragem de contar aos amigos.

sábado, 27 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Faxineira do Sobrado

O colega traíra de Tonhola, Joacir, que trabalhava na mercearia, notou que passados alguns meses, a presepada da bicicleta sem freios já havia sido deixada de lado. Dona Rica pediu ao neto que fosse até a mercearia buscar alguns produtos.

Dessa vez Joacir estava na loja trabalhando, empilhando produtos nas prateleiras com outro colega de serviço. Tonhola disse a que fora e o funcionário, mais antigo na casa, tomou a lista e foi separar os produtos. Enquanto isso, Joacir chamou Tonhola para saírem um pouco. Ele ficou apreensivo, mas se deixou levar e já do lado de fora - o que foi? Perguntou curioso, espere um pouco, Joacir sabia que quase todos os dias naquele horário pela manhã, a empregada que trabalhava no sobrado do outro lado da rua, limpava a sacada. A sacada tinha uma mureta com grades na parte de baixo e um peitoril grosso de concreto na parte superior, tudo revestido com um azulejo amarelo, muito feio por sinal. Pronto, lá vem ela, fique olhando, a faxineira parecia não perceber, ou, o que parecia mais provável, fazia de propósito para assanhar os meninos. Agachada na sacada e de saias, abria as pernas toda distraída enquanto esfregava os azulejos, os meninos embaixo viam e admiravam aqueles fundos. Mesmo com a distância, era a visão. Joacir se ria todo da cara de estupefação que o pobre do Tonhola fez.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Freada da Kombi

Um dia de domingo Alfredo, o filho de Dona Rica, que era fiscal da prefeitura, pai de Aramis e Aroldo, os dois filhos que não gostavam do Tonhola, apareceu bem cedo numa Kombi com um amigo, convidando-o para uma pescaria.

Coisa rara. Era a primeira vez que aquilo acontecia. Dona Rica concordou de pronto. Arrumou o moleque, fez várias recomendações e deixou que fossem ao passeio. Faria bem aos meninos e a ela também, já imaginou? Um domingo inteiro sem se preocupar com o neto?

Já estava tudo arrumado na Kombi, levavam pão, refrigerantes e latas de sardinhas. Hummm, pão com sardinha! A Kombi estava sem os bancos intermediários, os três meninos iam no banco de trás e no espaço do meio ficavam as tralhas de pesca e também alguns rolos de arame farpado que levavam de encomenda para a fazenda onde iam pescar.

Antes mesmo de saírem da cidade, numa esquina, um carro veio em velocidade e obrigou o motorista da Kombi a dar uma freada brusca. Não chegaram a bater, mas discutiram um bocado, sem saírem de seus carros e cada um seguiu seu caminho. O motorista da Kombi foi esbravejando caminho a fora, dirigindo com mais cuidado.

No instante da freada, Tonhola estava por puro acaso e sorte, segurando no braço de alavanca que abre o vidro da janela da Kombi, na outra extremidade do banco estava o Aramis, o menino maior que também deu um jeito e se segurou, mas o garoto do meio era o Aroldo, o filho mais novo, que não tinha onde se segurar e foi jogado para frente indo bater direto com os joelhos nos rolos de arame farpado. Coitado. Foram cortes pequenos, mas o moleque se machucou todo e nem queria ir mais pescar. Mas foi.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Primeiro Livro

O primeiro livro que Tonhola ganhou foi o de uma estorinha que tinha um avião na capa.

Era um livro colorido e a capa em sua parte superior, tinha o recorte concordando com as robustas formas do aviãozinho.

O livro fora um presente que a escola distribuía aos alunos como forma de incentivar a leitura, para gostar de ler.

Tonhola gostou do presente. A magia de virar a página e descobrir em cada uma delas um desenho novo do aviãozinho o fascinou.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Sua Mãe Foi Uma Ótima Aluna

Pelo visto no episódio anterior, deu para se notar que nosso amigo Tonhola não era lá o que pode se dizer de um garoto muito esperto.

Na escola, até que ele era um bom aluno, querido pelos professores, mas tirava péssimas notas no procedimento.

Algumas aulas ele não suportava e sua maneira de demonstrar isso, sem que o professor o importunasse era desenhando.

Só que um belo dia, numa dessas aulas, distraído que estava, quase já concluindo uma paisagem rural numa das folhas de seu caderno, a professora o surpreendeu com um tremendo puxão de orelhas: "sua mãe foi uma ótima aluna".

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Litro de Uísque

Um dia Dona Rica recebeu um recado para dar um pulo na mercearia, a mesma da bicicleta cargueira, e buscar um presente para o seu filho, que, lembremos, era fiscal da prefeitura.

Compenetrada com seus afazeres, ela esqueceu por completo do recado. Alguns dias depois ela se lembrou e chamou o neto para ir correndo lá buscar o presente, antes que seu filho aparecesse por ali para buscar.

Tonhola foi, torcendo para que seu colega traíra Joacir, que ainda lá trabalhava, tivesse saído para alguma entrega. Menos mal, o colega não estava. Procurou o dono da mercearia e recebeu a encomenda para o seu tio.

O presente era uma caixa com um litro de uísque. O dono da mercearia o orientou de como ele devia segurar a caixa, presa ao corpo, com a mão firme assim, para que nada acontecesse. Embrulhou num papel de pão e o despachou, pronto, pode ir.

Tonhola saiu rua afora com o pacote preso ao corpo conforme a orientação. Só que, distraído feito uma toupeira, o menino seguiu pela calçada indo pela sombra. No meio do caminho tinha uma calçada em ladrilho hidráulico com desenhos coloridos que se destacava das demais. O menino se distraiu com os desenhos da calçada e andando muito próximo ao muro, bateu com o braço numa saliência da alvenaria, bem na divisa onde terminava a calçada colorida e a outra em cimentado que se iniciava. A caixa de uísque, tão recomendada, foi ao chão. O líquido se escorreu entre os seus pés, mas o pacote ficou intacto na forma da caixa com o papel de embrulho todo molhado. Ele se abaixou, pegou a caixa, balançou um pouco para se certificar de que o líquido se acabara, retirou o molhado papel do embrulho e seguiu com a caixa, bonita, novinha, abraçada ao corpo com a mão firme como o dono da mercearia recomendara.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Nariz com Nariz

Tonhola estava se descobrindo.

Depois de deixar a sobrinha da vizinha pelada e dar seu primeiro amasso, nosso herói teve outra aventura com uma garotinha. Na mesma rua da queda no patinete, morava uma garota que também estudava na mesma escola que ele e vejam só o que aprontaram dessa vez.

Essa garota o convidou para estudarem juntos em sua casa e nosso amigo foi animado. O novo provocava isso nele e o danadinho ficava todo ouriçado. Estudaram um pouco, numa comprida mesa de madeira na varanda dos fundos, saborearam o delicioso lanche que a mãe da garota preparou e não se sabe por que cargas d'água, depois do intervalo nos estudos para o lanche, foram os dois parar atrás da casa, sobre a calçada estreita de piso cimentado, na sombra do beiral do telhado. Foi quando rolou uma química que eles que ambos ainda não conheciam. Ficaram bem juntinhos e foram se chegando até encostarem nariz com nariz. Ficaram assim, por um tempo, e sem nenhum deles entender direito o que acontecia, deram risadas, se afastaram e voltaram a juntar os narizes algumas vezes. Nada de anormal aconteceu com nosso amigo, ele gostou.

domingo, 21 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Amasso na Vizinha

Uma vizinha de Dona Rica hospedara por uns dias uma sobrinha que morava em outra cidade. Era uma menina com a mesma idade de Tonhola, era gordinha e tinha a pele muito branca.
Tonhola ouvia a voz dela por sobre o muro e ficava intrigado. A vizinha era muito rígida e quase não deixava a menina sair de casa. Um dia ele subiu no galinheiro e viu a menina brincando sozinha na varanda dos fundos da casa, ela viu e o chamou para brincarem juntos. Em dois tempos ele lá foi sem medo.
- Meu nome é Fátima.
- E o meu Tonhola.
- Isso é nome ou apelido?
- É apelido, meu nome mesmo é Antônio, mas todo mundo me chama de Tonhola e é assim.
Brincaram, brincaram um pouco e antes que a tia da menina o visse, pulou o muro de volta. E assim repetiram no outro dia e no outro, até que foram descobertos por Dona Rica que o flagrou pulando o muro, deu-lhe uma bronca, contou à vizinha e lhe disse que ela podia deixar a menina ir brincar com seu neto em sua casa. A vizinha confiava muito em Dona Rica e deixou a neta ir. Os dias foram passando e o tempo que brincavam juntos aumentava um pouco a cada dia. Os dois se entenderam tanto brincando que nem a avó nem a vizinha se preocupavam com eles enquanto estavam juntos. Um dia Tonhola inventou uma brincadeira diferente e no final a menina ficou peladinha, sem nenhuma roupa. Tonhola não sabia direito o que estava fazendo, abraçou a menina pelada e foi o seu primeiro amasso.
As duas senhoras não entenderam o motivo, mas, daquele dia em diante, a menina não quis mais ir brincar com ele.

sábado, 20 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Galho da Goiabeira

Com alguma semelhança com o episódio anterior, sobre medo de altura e coragem, temos o caso do galho da goiabeira que vergou com o peso de Tonhola.

Estavam os meninos brincando de esconder e na casa ao lado da de Dona Rica tinha na parte da frente uma grande goiabeira, os galhos invadiam os fundos do lote vizinho, cuja frente dava para a rua transversal, era um lote de esquina e ainda não tinha construções. Justo nessa goiabeira que o nosso herói resolveu se esconder na brincadeira, ali seria difícil de ser encontrado, pensou. E subiu o mais alto que pode, se ajeitou no galho e esperou pela procura escondido que ficou no meio da folhagem. O que ele não esperava foi que o galho da goiabeira, com o seu peso, cedeu e começou a vergar mansamente até que se embodocou de vez e o menino ficou dependurado, agarrado ao galho com os braços e as duas pernas. Com o barulho fora descoberto pelos colegas que ficaram embaixo observando e o orientando para ele sair de lá. Nada adiantava, nada o fazia soltar aquele galho, o menino estava travado. Se naquela época tivesse corpo de bombeiros na cidade, certamente teriam sido chamados para tirar o moleque de lá.

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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Torre da Catedral

A igreja da matriz tinha somente uma torre alta, contígua à nave.

A torre tinha uma escada interna estreita, mal dava para uma pessoa se equilibrar, era de concreto e até o terceiro piso, tinha laje, também de concreto que formava um patamar, dali para cima não tinha mais patamar, eram somente os degraus presos na paredes laterais que iam contornando as entranhas da torre e a escada seguia até o topo, onde ficava o sino, alguns metros acima do telhado da igreja. Alguns anos depois ele soube que os outros patamares foram feitos, mas não voltou lá para conferir.

Pouco antes do meio da altura da torre, uma portinhola se abria em direção ao telhado da nave, um pranchão de madeira fora colocado, para permitir acesso até o telhado. Os meninos subiam até lá por puro atrevimento, para mostrar que eram corajosos e também para se divertirem. Você não tem coragem, provocavam, até que num belo dia, nosso amigo se encheu de brios e subiu pela escada contornando o perímetro da torre. Subiu se agarrando às paredes, feito lagartixa, até a portinhola que dava acesso ao pranchão; lá chegando, foi outra etapa cruel, mas, para quem já havia chegado até ali, o jeito foi alcançar o telhado, o que de pé, nem pensar, foi de gatão, firme no pranchão de madeira, sem olhar para o chão, enquanto alguns dos colegas o aguardavam do outro lado, já sobre o telhado com a proteção da platibanda em alvenaria que o contorna, vamos, coragem, você consegue, incentivavam e ele seguiu, mansamente, passo por passo arrastando os joelhos pela prancha até que conseguiu superar a travessia que devia ter uns quatro metros e pouco de distância e mais que o dobro disso de altura. Os meninos comemoraram o sucesso do colega, deram uma olhada panorâmica lá de cima, admiraram a exuberância da praça que se abria à frente da igreja e voltaram. Aí é que o bicho pegou: quem disse que Tonhola tinha coragem de voltar, o menino travou do outro lado e se tremia todo e não conseguia encarar a prancha de volta, todos os meninos atravessaram e ficaram aguardando por ele que não saia do lugar, até que um dos meninos, mais experiente, voltou andando e conseguiu trazê-lo também engatinhando sobre a prancha. Depois ainda tinha a escadinha estreita com vãos sem laje até alcançar o primeiro patamar com laje de piso; foi um sacrifício, os degraus da escada além de serem estreitos, eram independentes e cravados na parede da torre, o menino se tremia todo, mas conseguiu. Que alívio pisar sobre aquela laje, o mundo renascera para ele ali naquele momento. Enquanto isso, entre os colegas ele seguia fazendo e espalhando a sua fama.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Três Pontos na Testa

Certa vez Tonhola foi convidado a acompanhar uma turma de escoteiros mirins num passeio em uma fazenda.

Os meninos que já conheciam o lugar, mal chegaram e já saíram gritando, chamando os companheiros numa corrida frenética até o ribeirão, que ficava alguns metros abaixo descendo o morro, dava para se ouvir o barulho da água nas corredeiras. Muitos saíram em disparada e Tonhola não podia ficar para trás, saiu correndo também.

A descida era muito íngreme e o nosso amigo correu morro abaixo. Com o peso de seu corpo puxando mais para baixo, em velocidade maior do que suas despreparadas pernas podiam mudar os passos, estava escrito que aquilo ia dar num tremendo tombo. De fato, foram algumas espetaculares capotadas, terminando com uma séria batida de cabeça numa pedra. Brincadeira de mau gosto que fez o monitor, que tinha ido ao passeio numa lambreta, pegar o moleque e levar de volta à cidade para o hospital. Prontamente atendido o menino levou três pontos na testa. Perguntado se queria que o deixasse em casa, que nada, voltou para o passeio na fazenda e Dona Rica só ficou sabendo do acidente quando voltaram, já estava anoitecendo.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Festa no Salão Paroquial

No tempo de sua aprendizagem religiosa, Tonhola foi levado pelos colegas de turma a invadir de penetra uma festa que aconteceu numa sala, no pavimento superior do salão paroquial.

Era aniversário de um dos padres, ou era uma festinha que as religiosas prepararam para a despedida do padre que fora transferido para outra paróquia, ele não se lembrava direito e também o motivo da festa aqui não importa. Só se lembrava que tinha muita gente e os salgados eram poucos. O padre mesmo, em sua batina preta, ao ver a invasão daquele bando de meninos famintos, tomou em suas mãos uma bandeja de salgadinhos e levou aos pestinhas, amontoados num dos cantos, antes que eles se dirigissem à mesa porque o estrago certamente seria maior. Tonhola, quase invisível entre os invasores, enfiou a mão entre os colegas e tentou pegar mais de um salgado da bandeja. Pobre infeliz, já não queria ter ido, arrastado foi pelos colegas mais espertos e acabou sendo o único sacrificado. O padre percebeu aquela esperteza e deu-lhe um tremendo tapa nas mãos. No ato, ele ficou muito assustado, largou os salgados, ficou sem comer nenhum e saiu dali de fininho debaixo da zoação dos colegas.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Coroinha

Tonhola foi convidado a participar da celebração da santa missa.

Quase tomou bomba no catecismo e depois de receber a primeira comunhão, foi contemplado com um convite desses.

Devido o bom comportamento, vejam só que ironia, o menino fora selecionado, com outros dois, a ajudar o padre nas funções do altar durante a celebração da santa missa de sábado.

Tonhola ficou entusiasmado e contou a novidade para a avó que ficou muito contente e o parabenizou, afinal, não era qualquer um que escolhiam para tão honrosa missão, era preciso merecimento. Quem dera aquilo não servisse para ajudar um pouco a melhorar o rumo do moleque, pensou, a pobre e iludida coitada.

Uma hora antes do início da missa era para eles chegarem na igreja para receber as instruções, Tonhola ficara encarregado de tocar o sino; aquele sininho pequeno e dourado que era tocado durante a cerimônia, segundo a orientação ele deveria tocar o sino por três vezes. Como esse ato só acontece na parte final da cerimônia, durante a celebração , o moleque se distraiu e viajou e viajou: analisou todas as menininhas de sua idade, os detalhes da decoração imponente da igreja, viu uma de suas professoras da escola num dos bancos. Quando chegou sua vez de tocar o sino, o padre ergueu o cálice e nada de sino, o padre disfarçou e olhou para o pequeno, toque o sino, murmurou, foi aí que o moleque se deu conta, cadê o sino? E apavorado olhou para um lado e para o outro, o sino não estava ali, os outros meninos ajudaram a procurar sem perderem a compostura diante a igreja lotada e nada, deve estar na sacristia, murmurou o padre, que já estava no segundo ato que pedia o toque do sino. Quando Tonhola encontrou o danado do sino, viu que o Padre já estava erguendo a hóstia e tocou o sino lá de dentro da sacristia mesmo, para mais ainda irritar o padre. Foi a única missa que ele ajudou.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Reserva na Pelada

Tonhola gostava muito de futebol. Era ruim no futebol de botão e também no de pilhas, imaginem no futebol mesmo.

Ainda assim, para completar o time, os colegas o inscreveram, mas é claro, para ficar na reserva.

Os meninos souberam que na quadra de baixo na avenida, fizeram um campinho de futebol de terra batida, tinha até trave feita de bambu. Foram conferir, o terreno era inclinado para os fundos e tinha timbete nas beiradas, mas era melhor que jogar no asfalto.

Receberam o desafio de participar de uma pelada contra o time da garotada que morava na avenida, que também participaram na construção do campo, o pai de um deles cedera o terreno emprestado.

O campinho permitia sete jogadores para cada lado, mais o goleiro. Completaram o time e dessa vez não teve jeito, dois garotos que eles chamaram não compareceram e tiveram que colocar, ainda que contrariados, o Tonhola de titular. Não deu outra, o time da casa era bem melhor, mais preparado e o jogo deu em goleada e muita gozação. Os garotos saíram de cabeça quente, danados da vida com o desempenho de Tonhola. Da próxima vez, só na reserva, disseram.

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domingo, 14 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bicicleta Cargueira

Joacir, um dos colegas de Tonhola, trabalhava numa mercearia que tinha uma bicicleta cargueira para as entregas dos pedidos.

Era uma bicicleta muito antiga sem freio dianteiro e o freio traseiro era improvisado, não tinha alavanca no guidão. Para parar a bicicleta era preciso pisar na barra do freio que ficava embaixo do quadro.

Com o improviso no freio, direto a barra se soltava da trava e a bicicleta ficava sem controle, quem já estava acostumado sabia como se virar e tomava os cuidados para não se acidentar, até o freio ser reparado.

Um dia a bicicleta estragou o freio e o Joacir, que não era tão colega assim de Tonhola e gostava muito de um mal feito, aprontou pra cima dele. Avisou aos demais meninos da rua o que ia fazer e chamou o pobre do coitado para lhe prestar um favor. Para parecer mais sério disse que era para a mercearia e que ele tinha que ficar cuidando de outros afazeres, no que foi prontamente atendido; o favor era dar um recado num endereço alguns quarteirões acima. Como na ida era só subida, nosso herói foi no maior entusiasmo pedalando rua acima. Recado dado, na volta soltou a bicicleta rua abaixo e desceu curtindo o vento na cara; na primeira esquina, o semáforo fechou e ele foi frear com o pé a danada da cargueira e sentiu a barra do freio toda solta balançando; caraça, baixou o desespero no pobre, o que fazer; por sorte do outro lado da rua, na outra pista, não vinha nenhum veículo em sentido contrário, ele tentou virar a bicicleta quebrando a esquina à sua esquerda, com o semáforo fechado, mas como vinha em velocidade, não deu tempo de virar e se escafolou no chão. Foi socorrido por pessoas que viram a queda, até um copo d'água com açúcar lhe deram. Foi também por muita sorte, que não sofreu nada demais, podia ter se machucado com mais gravidade, mas sofreu apenas alguns arranhões no braço e um ralado maior na perna, a calça foi pras cucuias. Com a bicicleta, praticamente nada aconteceu, também, nela não devia ter mais canto nenhum a ser arranhado e a grade da carga protegia a roda dianteira que ficou intacta com seu pneu careca. Restabelecido do susto, ele empurrou a bicicleta até a mercearia e lá foi surpreendido pelo traíra do Joacir, grande amigo, que já o esperava dando risadas com os demais colegas Napoleão, Erasmo e o Garibaldo. Tonhola ficou danado e chegou a chorar de raiva quando percebeu que tinha sido vítima de uma armação: - Cê me paga!

sábado, 13 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Patinete

A criançada passava horas nas garagens ou nos fundos dos quintais fabricando seus brinquedos. Na época as ofertas de brinquedo nas lojas não eram muitas e a molecada se divertia inventando moda, cada um queria o seu brinquedo mais bonito e melhor que os dos colegas.

Dos brinquedos mais famosos que faziam a cabeça da meninada, os carrinhos de rolimã para se descer ladeiras, eram os que faziam mais sucesso. A sensação da descida em velocidade provoca nos meninos um fascínio inexplicável. Os tombos e ralamentos no asfalto eram inevitáveis.

Entre os carrinhos de rolimã, o patinete era especial: com somente dois rolamentos, unidos por uma tábua estreita de madeira e um guia também de madeira para se conduzir o brinquedo ladeira abaixo, era só subir na tábua e se equilibrar segurando firme o "guidão" com as mãos.

Nesse quesito, Tonhola era muito molenga. Ele ajudava os colegas a fabricar os brinquedos, mas na hora de mandar ver, ficava sempre por último, era o que mais caia e estava quase sempre escafolado nos braços e pernas com os tombos no asfalto.

A última vez que Tonhola se animou a descer a ladeira, digo última porque foi a última mesmo, depois daquele tombo ele nunca mais quis saber de patinete. A descida era de uma esquina a outra na parte mais íngreme da quadra e ele não foi muito feliz. Era num sábado já para o final da tarde, os colegas estavam reunidos na rua sobre a sombra de uma mangueira preparando seus carrinhos. Dos quatro que tinham os patinetes preparados, num deles o rolamento travou e não tinha como participar, ele implorou ao Tonhola, que não era muito chegado no brinquedo, para lhe emprestar o patinete, somente daquela vez. Tonhola não se fez de rogado, bateu o pé e não emprestou, disse que ele mesmo iria junto com os outros três e ainda se gabou dizendo que não ficaria para trás, que não ia fazer feio. Foram. Prepararam-se na esquina e ao som de "já" do colega sem patinete, deram a partida, os três se mandaram na frente e Tonhola, dono de si, atrás, ali pelo meio do caminho, a tábua do patinete de Tonhola se partiu e ele levou um tombo magnífico e saiu rolando pelo asfalto; se ralou todo, rasgou a camisa nas costas e o ombro direito ficou em carne viva. Os colegas voltaram se rindo em gozação e o colega que ficara sem participar veio dar socorro e foi o primeiro a chegar: - vi quando a tábua se partiu, foi foda, seu pé deve estar doendo, olha o jabro que fez no kichute, sua avó vai ficar uma fera.

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sexta-feira, 12 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Estilingada

O quintal de Dona Rica, como já vimos em outros episódios, era grande, atravessava a quadra indo até a avenida, nos fundos, tinha várias plantas, muitas delas grandes como mangueiras e abacateiros.

Era época de mangas, um dos pés era de manga roxa, de muito boa qualidade, muito saborosa.

Uma amiga de Dona Rica, tia da moça da torta, aquela que acabou ficando noiva, apesar do estrago da torta. Pediu para que ela, se não fosse incômodo, tomasse conta de sua filha pequena, enquanto ela ia ao centro resolver alguns assuntos. A demora seria pouca e a menina não dava muito trabalho, foram as recomendações.

A menina realmente não dava trabalho nenhum e Dona Rica já tinha tomando conta dela outras vezes, mas ainda quando era bebê de colo.

Só que tinha o Tonhola.

A menina era uma garotinha com seus de três para quatro anos, moreninha e bem fortinha, com muita saúde. Como fazia muito calor, Dona Rica deixou a menininha somente de calcinha brincando no quintal enquanto cuidava do almoço na cozinha. Tonhola, entretido na área de serviço, fabricava um estilingue com um barrote novo que conseguira de um amigo que fazia entregas numa farmácia. Dava os últimos retoques com uma faca de mesa na forquilha de galhos de goiabeira que ele mesmo arrancara. Sentia-se orgulhoso da forquilha perfeita que estava fazendo. Era o primeiro estilingue que fabricava sozinho, daí o tamanho do empenho e a satisfação da obra feita. Concluída a atiradeira, era hora de testar. Com a quantidade de manguinhas verdes pelo chão, munição era o que não faltava. Faltava sim o alvo.

Não faltava mais, viu a menininha na distância, perto do tronco da mangueira, abaixada catando manguinhas e se preparou, apontou e atirou; a primeira passou longe, mas ele percebeu que a máquina atiradeira ficara perfeita; armou de novo a segunda linha de tiro e errou também; assim não dá, pensou consigo, levantou, ajeitou-se direito com o joelho no chão, pegou uma das manguinhas bem arredondadas e esperou o movimento da menininha, quando ela se virou de costas para ele e se abaixou para apanhar mais manguinhas ele atirou e pimba, bem no alvo.

Que chororô! A mangada pegou na popa da menininha, do lado direito, pouco abaixo da calcinha e fez uma marca roxa imediatamente. Dona Rica veio correndo acudir o choro da pobre menina que fora alvo do neto que dali se escafedeu, num outro tipo de tiro, se rindo todo por dentro e se achando o rei da cocada preta, pois era muito bom de mira.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Um Susto no Gato

Uma, às vezes duas vezes por semana, Dona Rica fervia roupas com anil na fornalha.

Quando o tacho com as roupas era retirado, as brasas em fogo ficavam ainda ardendo por um bom tempo até virar aquela cinza clarinha que os meninos usavam para demarcar o campinho de futebol de pilhas.

Uma vez apareceu por lá um gato malhado manso que foi chegando devagar, miando baixinho, pedindo comida, um leitinho aqui, um pedacinho de peixe depois e foi ficando. Sumia por um tempão, mas sempre voltava, quando apertava a fome.

Dona Rica não era muito chegada em ter gatos ou cachorros em casa, mas tolerou aquele por pena e também porque achava que o neto gostava do bichano. Fazia bem vê-lo colocar as sobras de comida para o gato.

Um belo dia, já no final da manhã, as brasas ainda ardiam na fornalha, apareceu o gato miando baixinho bem próximo de Tonhola que estava a poucos passos da fornalha em brasas, agachado, preparando o terreno para jogar bilocas com os colegas mais tarde. Hora ruim foi aparecer aquele gato. Nosso amigo não estava muito de bom humor naquele dia, vendo o gato miando, lhe enchendo os pacovás, de um salto, pegou o bichano pelas costas e atirou na fornalha ainda em brasas. O coitado se esperneou e com uma rapidez felina, com muito miado, sumiu dali com o pelo todo tostado e nunca mais apareceu.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Donzelo

Em toda escola de ensino primário, os meninos mais velhos aprontaram e sempre vão aprontar com os mais novos. Faz parte da hierarquia escolar. Alguns dos mais velhos, principalmente os que repetiam o ano, porque naquela época tinha repetência, eram os piores, os mais atentados da escola e também eram, em alguns casos, erroneamente tachados de retardados. Aquilo sim marcava o aluno, por pior que ele fosse no comportamento, muito mais do que as zoeiras que eles aprontavam em brincadeiras com os colegas mais novos.

Os mais sabidos zoavam com os mais tímidos, os mais gordos, os mais magros, os maiores, os menores, os escurinhos, os branquelos, os molengas, os mais feios. Motivos é que não faltavam para a zoação. E ninguém morria por causa disso.

Um dos meninos ficava pelos cantos, quase sempre sozinho e o chamavam de donzelo. Aquilo intrigou nosso amigo Tonhola. Ele não sabia o que era aquela palavra e porque a turma não deixava o menino quieto. No horário do recreio era só juntar alguns dos mais atentados e iam atrás do pobre coitado gritando: donzelo, donzelo, donzelo. O coitado morava numa fazenda, era alto e desengonçado; usava uns trajes muito simplórios com a camisa rasgada, calça remendada com tecidos de outra cor; não usava meias e a botina sempre suja e bicuda com as presilhas de calçar se destacando para fora; tinha o cabelo crespo e grande, mal cortado, difícil de ali entrar um pente; um típico jeca. Tonhola tinha pena do moleque, mas não podia fazer nada, os agressores eram muitos e bem maiores e mais velhos que ele. Sentido com aquilo, ele não via a hora do jeca se enfezar e sair dando porrada naquela cambada, físico para aquilo ele tinha.

Naquela noite Tonhola perguntou para a avó o que significava a palavra donzelo. A velha engoliu seco, arrepiou-se, deu voltas, disse que ele não tinha entendido a palavra direito e fez o que pode para o moleque deixar daquilo e foi se deitar mais cedo naquele dia.

A avó percebera que seu neto estava crescendo e que outros tipos de problemas estavam por vir. Ela precisava ter uma conversa urgente com o Alfredo, seu filho, e pedir ajuda.

terça-feira, 9 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Desfile

Em todos os anos, nas datas cívicas de independência e aniversário da cidade, a prefeitura organizava o desfile comemorativo pelas ruas. Participavam as escolas com a maioria dos alunos e professores, a polícia militar, o tiro de guerra, o grupo de escoteiros, a banda de música e também algumas das máquinas da prefeitura. Naquela época ainda não tinha corpo de bombeiros.

A maioria das escolas tinha sua fanfarra, seus carros alegóricos, cada qual mais enfeitado que o outro e os alunos desfilavam uniformizados de forma muito ordenada em fileiras se arrastando pelas ruas.

Tonhola fora escolhido para desfilar com uma fantasia de índio num carro alegórico da escola. A fantasia era botar o menor calção de banho possível; algumas penas amarradas nos punhos; uma pintura vermelha no rosto e no peito, que a professora fez com os dedos breados numa tinta lavável; e pra finalizar, na cabeça, um cocar improvisado que teimava em cair, ele teve que ficar segurando o cocar por todo o trajeto. O menino se sentiu abestalhado, muito envergonhado de desfilar quase pelado para aquela multidão que das calçadas aplaudia. Principalmente quando vinha da platéia aquele grito indígena colocando a mão na boca. Que ódio!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bem Feito

Naquela época o país recebera um grande número de imigrantes e em toda a região e não só a cidade de Tonhola, recebera muitas famílias vindas de longe, principalmente do oriente. A primeira atividade que praticavam era a de comerciantes, qualidades nas quais eram muito hábeis. Eram mascates, vendedores ambulantes que saiam pelas casas e fazendas oferecendo seus produtos e que também montavam seus comércios esparramados por toda a cidade. Só próximo à casa de Tonhola, três vendas novas foram abertas. Eram e são até hoje erroneamente chamados de turcos, sendo que na realidade, em sua maioria, são sírio libaneses.

Numa dessas vendas, a maior e mais próxima à casa de Dona Rica era mais um mercadinho, pois vendia de tudo um pouco. A loja era grande, tinha um balcão com tampo de madeira comprido, muito bem envernizado, disposto de forma a separar os clientes dos produtos que ficavam em prateleiras atrás, distribuídas de forma que pudessem ser vistas aos olhos de todos. Um produto de nome mais complicado, era só apontar com o dedo e o Seu Isaac buscava fácil. O balcão tinha duas prateleiras e a frente era de vidro liso para destacar os produtos. No início do balcão ficavam as guloseimas que faziam os olhinhos das crianças brilharem. O doce sírio era o ó.

Certo dia, ao receber algumas caixas de madeira com mercadorias, um entregador mais descuidado, deixou uma das caixas bater no vidro do balcão que quebrou um pedaço, mas não chegou a estilhaçar o vidro todo, ficou um buraco grande o bastante para caber uma mãozinha mais atrevida. Seu Isaac ficou bravo, mas achou o buraco pequeno e se acostumou a ele, não trocou o vidro.

Um dia, Geraldo, um dos garotos amigos de Tonhola, foi no boteco fazer algumas compras para a mãe e notou que na prateleira do balcão, no rumo do buraco do vidro, colocaram umas balas brancas com umas listinhas azuis e vermelhas embaladas em plástico transparente. Uma tentação de leite de coco e açúcar refinado, seu nome: "bala delícia".

No outro dia Geraldo contou seus planos ao Tonhola, que ficou muito apreensivo afinal aquilo não era do seu feitio, mas a tentação das delícias o convenceu e topou participar do ardiloso plano.

Esperaram Seu Isaac ficar sozinho no boteco e foram os dois já preparados. Tonhola tremia. Geraldo, bem malandro entrou na frente, disse que queria comprar algum produto que ficava nos fundos e acompanhou o paciente do Seu Isaac para conferir. Enquanto isso Tonhola, que ficara na entrada da loja analisava o buraco no vidro. O plano era para, enquanto Geraldo desviava a atenção do Seu Isaac no fundo da loja, Tonhola enfiava a mão no buraco e enchia os bolsos de balas. Só que não foi bem assim. Tonhola se tremia todo e não teve coragem, mal tirou as mãos do tampo do balcão. Seu Isaac, muito cortês e prestativo, disse o preço da mercadoria que Geraldo queria, mas o dinheiro não dava, ele disse que voltaria depois para buscar. Tonhola, percebendo que a prosa havia terminado, saiu às pressas sem coragem de cumprir sua parte no plano.

Dobraram a esquina longe das vistas do Seu Isaac. Quando Geraldo percebeu que Tonhola tinha "quiabado", ficou muito bravo. Sobraram cascudos, empurrões e por muito pouco não bateu mais forte, disse que ele era um frouxa, um molenga e que daquele dia em diante não era para Tonhola nunca mais contar com ele para nada. Bem feito!

domingo, 7 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Um Litro de Bilocas

A senhora que morava em frente à casa de Dona Rica, a que era muito estranha, morava sozinha e nunca abria as janelas de madeira da casa que davam de frente para a rua, a mesma que jogou a bola de vôlei na fornalha, se chamava Dalva. Uma vez ela transformou a pequena sala que tinha na casa e que dava para o alpendre, também pequeno, em quarto de aluguel. Certamente para melhorar as rendas. Seu primeiro inquilino foi um sujeito moreno e estranho, que ficava sempre por ali, a observar o movimento da rua e da molecada a brincar. Parecia que fora orientado para vigiar a casa, dos perigos da molecada. Sujeitinho mais estranho, os meninos o evitavam.

Naquela época estava na moda entre os garotos colecionarem bilocas, quanto mais bilocas tinham, mais poderes. Jogavam, cada um levava seu estoque e passavam horas jogando; ou de casinha, cinco buracos, quatro nas extremidades de um quadrado riscado no chão e um exatamente no meio do quadrado, o jogo era acertar as casinhas com as bilocas; ou no urte, uma biloca era colocada num ponto, geralmente ao pé de uma parede ou muro e os meninos ficavam a uma certa distância, cada um jogava sua biloca mirando no urte, o que acertasse primeiro, ficava com as bilocas que tinham sido atiradas e iam se acumulando em volta do urte. Tonhola era dos que tinha menos bilocas. O que tinha mais e era também o mais velho da turma, se chamava Alex e mais tarde foi para a aeronáutica na capital, era irmão de outro amigo da mesma idade de Tonhola e que veremos em outros episódios.

Um dia, nosso amigo não fora muito feliz no jogo com o urte e perdeu quase todas as bilocas, sobraram algumas no fundo do litro de óleo de cozinha, que na época era retangular e por ser de lata e portanto resistente, servia para armazenar as bilocas. O sujeito estava observando e ouviu a gozação dos meninos no final do jogo em cima do derrotado Tonhola, ele não perdeu a chance e se aproximou, depois de ver que os outros meninos iam se afastando. Foi se chegando de forma muito meiga do garoto e perguntou se ele não gostaria de ganhar um litro daqueles cheinho de bilocas, tinha até das brancas de leite e também daquelas maiores, as preferidas. Os olhinhos inocentes do menino se antenaram: - Claro que queria, cadê elas? Perguntou apressado. - Estão ali no meu quarto, quer ir lá para ver? - Quero. E foram, o malando conduziu o menino pela mão, aquilo, esse ato melindroso, chamou a atenção de Alex, o que tinha a maior quantidade de bilocas, que voltou para ver o que estava acontecendo, prevendo que aquilo não podia ser coisa boa pois ninguém entrava lá. Foi quando Tonhola, que já estava entrando na sala improvisada de quarto do sujeito, viu aquele piso estranho com ladrilhos em tabuleiro preto e branco e bem conservados pois não eram usados e até ele chegou a ver as bilocas, parado na soleira da porta de madeira entreaberta, realmente elas estavam lá. Quando o sujeito tentou se aproximar mais ainda do menino Alex, que vinha chegando, percebeu e gritou lá de fora: - Tonhola! O que você está fazendo aí? O menino se assustou com o grito e saiu correndo de lá, o sujeitinho, também se assustou, é claro, e, aquilo não ficou por rogado. O sujeito mal encarado se mudou rapidinho dali e nunca mais foi visto.

Tonhola não contou a ninguém. Passou o tempo, Alex foi para a capital e ficou por lá. Nunca mais se viram.

sábado, 6 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Carrinho do Bebê no Timbete

Um dos amigos de Tonhola, Napoleão, o magricela de olhos verdes que se lascou no abacateiro, tinha uma irmã com alguns meses de vida, que se chamava Marilda. Napoleão ajudava a pajear a irmã. Um dia ele apareceu na casa de Tonhola empurrando um bonito carrinho de bebê com a irmã toda enrolada em panos, só se via o rostinho rosado. Saíram os dois a caminhar empurrando o carrinho, hora um empurrava, hora outro. Caminharam até onde ia o asfalto, duas quadras abaixo da casa de Dona Rica, mas não se deram por satisfeitos, decidiram dar a volta no próximo quarteirão com as ruas ainda não pavimentadas. Marilda ainda não tinha chorado. A rua na parte de baixo da quadra era mais inclinada e por isso fora mais castigada pelas chuvas, as enxurradas fizeram verdadeiras crateras nas laterais da rua, só o meio estava transitável com o cascalho que dá acabamento à pista de rolamento ainda firme. Aquilo mexeu com as cabecinhas dos meninos e o irmão começou a passar o carrinho em velocidade desviando já bem próximo das crateras. Tonhola quis mostrar que manobrava o carrinho melhor que o amigo e numa virada em velocidade, perdeu o equilíbrio e para não cair na cratera, que não era muito funda, mas tinha lama no fundo, deu um salto, deixando o carrinho seguir sem controle ladeira abaixo, o trajeto foi pouco porque a rodinha dianteira do carrinho bateu numa reentrância do terreno e mudou a direção indo direto para dentro de um matagal. Dessa vez Marilda chorou. Que susto e que lambança. O carrinho capotou e lançou a pobre coitada, toda enrolada nos panos, naquela saroba. Os dois foram correndo em socorro e Napoleão pegou a menina toda manchada com a lama que estava respingada no capim e com os panos breados de timbetes, uma erva daninha que gruda na roupa da gente e que é uma verdadeira praga. Cada uma que esses moleques aprontam.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bola de Vôlei na Fornalha

Naquele tempo, vôlei era jogo só para as meninas.

Uma vizinha de Dona Rica tinha um casal de filhos, o menino, um pouco mais velho que o Tonhola e a menina, alguns anos mais nova.

Um dia um tio deles que morava numa cidade longe, trouxe de presente para a menina uma bola de vôlei. Para todos os meninos uma grande novidade, pois só conheciam bolas de futebol, de capotão e pesadas.

A menina saia com a bola na rua somente para mostrar para as colegas, não deixava ninguém brincar com a bola para não sujar nem estragar. Era uma bola branquinha, muito leve e delicada com os gomos retangulares, diferentes do formato das bolas de futebol dos meninos que tinha gomos de cinco lados.

Num belo domingo a menina fora à missa com os pais e o irmão ficou dormindo até mais tarde. Acordou, pegou a bola da irmã e gritou da rua para o Tonhola ir brincar com ele, num instante já eram meia dúzia de meninos a chutar a bola nova, branca e leve.

Do outro lado da rua morava uma senhora solteirona, já idosa também, mas muito fechada, turrona, tachada de doida pela molecada, ninguém sabia muito sobre a vida dela e a casa era a coisa mais estranha, a porta da frente ela nunca abria. Do lado direito pela entrada havia uma parreira de uvas num vigamento de madeira e arames de modo que suas folhas formavam a cobertura de uma espécie de garagem. Nos fundos da casa havia uma fornalha, a maioria das casas tinha uma, que era usada principalmente para ferver roupas. Só aquela solteirona mesmo para ferver roupas num domingo pela manhã, se indignaram todos, depois do ocorrido.

Na rua os meninos brincando com a bola, no entusiasmo, justo o Tonhola, deu um chute mais forte e a bola subiu, passou por sobre a parreira de uvas e foi cair no quintal da solteirona. Quando ela viu a bola já saiu gritando com os capetas de meninos, correu esbravejando, pegou a bola e aos berros saiu lá fora dizendo que ela havia caído na fornalha sobre a brasa quente justo na hora que ela tinha tirado o tacho. Foi aí que os meninos perceberam que a bola não era de capotão como as de futebol e sim de um material sintético que imitava o couro, isso porque a bola havia se queimado toda de um a lado: adeus bola. Num instante a molecada deu no pé. O irmão ainda ficou lá, já com a bola murcha e semi queimada na mão, esbravejando que aquela velha doida tinha colocado a bola no fogo de propósito, só para acabar com a brincadeira deles; o que fazia sentido pelo histórico da velha, mas também, aquilo não ia dar em nada. O que importava mesmo é que a bola já era.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Máquina Fotográfica

O marido de Dona Rica deixou de lembrança uma máquina fotográfica que era uma verdadeira relíquia. Em vida ele zelava dela com todo capricho e deixou motivos de recordações daqueles bons momentos eternizados em muitas de suas revelações.

Vez ou outra Tonhola surpreendia a avó toda chororô com as fotos antigas esparramadas sobre a cama.

A máquina fotográfica era uma Kodak preta com uma capa de couro marrom muito bem feita, com uma correia também de couro para se dependurar no pescoço. Sim porque a máquina era de um plástico duro, pesada. O fotógrafo via a imagem a ser retratada por um orifício na parte superior, a máquina ficava firme, segura com as duas mãos, na altura do umbigo.

Dona Rica guardava a máquina sobre o guarda-roupa, um lugar bem alto, fora do alcance de certas pessoas. Ela cuidava da máquina com carinho e raramente era usada.

Num certo dia, ao fazer a limpeza ela retirou os objetos que guardava em cima do guarda-roupa; algumas caixas de sapatos cheias de bugingangas, envelopes pardos grossos com papéis antigos, e outros de menor importância. Limpou e tornou a colocá-los de volta ao lugar, inclusive a preciosa máquina. Só que ela ficava mais na beirada de modo que a máquina podia ser vista quando ela se deitava na cama. Na correria, não prestou a devida atenção e colocou parte da máquina apoiada também sobre a ponta superior da porta do guarda-roupa. Deu-se por satisfeita com a tarefa concluída, foi cuidar de outros afazeres e se desligou do assunto.

No outro dia, despachou o menino para a escola e passou a manhã tranquila. Sem visitas a importuná-la, cuidou da casa e das criações, fez o almoço e aguardou o neto que chegou esbaforido de fome como sempre. Ela adorava vê-lo assim. Rapidamente ele almoçou. Saiu da mesa já tirando a camisa do uniforme, os sapatos e meias ele foi deixando esparramados pelo caminho e por isso já ouvindo da avó o que não precisava. Deu de ombros e foi ao quarto de Dona Rica pegar uma camiseta mais fresca.

Procurou pelos cantos, sobre a cama e não viu nenhuma, ao abrir o guarda-roupa, justo naquela porta, a máquina fotográfica veio abaixo. Foi um barulhão e ela espatifou-se em dezenas de cacos de plástico duro e preto. A maioria dos pedaços da máquina ficou dentro da capa de couro que não estragou um nadinha, somente alguns cacos menores se espalharam pelo piso. O menino tomou o maior susto e a avó veio correndo também assustada com o barulho. Olhou a cena e quase teve um troço, colocou a mão no peito e sentou-se na cama para absorver melhor a situação enquanto o neto já se restabelecendo do susto juntava os cacos esparramados colocando todos juntos dentro da capa de couro. Nada podia ser feito. E pior, daquela vez, ele não fizera por maldade. O descuido fora dela mesma. Coitada. O finado marido, que Deus o tenha, deve ter se revirado no túmulo. Outra máquina daquelas, nunca mais.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Abacateiro

Erasmo, um negrinho forte que parecia um tourinho, era bem robusto para sua pouca idade, e Napoleão, um magricela de olhos verdes, dois garotos amigos de Tonhola disseram que iam subir no abacateiro.

Duas quadras na direção do córrego, depois da casa de Dona Rita tinha uma chácara abandonada onde ficava o famoso abacateiro. Era enorme e os meninos apostavam entre eles quem subia mais alto. Naquele dia os garotos provocaram o Tonhola dizendo que ele não tinha coragem de acompanhá-los. Que nada! Vamos lá que vou subir com vocês também e vou até as grimpas. Foram, antes combinaram que não podiam demorar muito para não preocupar ninguém em casa. O início da subida era até que fácil, tinha umas galhadas grossas esparramadas no início do enorme tronco, só que dava medo, claro que dava medo, quanto mais subiam, mais medo tinham e o pior é que mais no alto os galhos balançavam com o vento. Deixa estar, Tonhola acompanhou os companheiros, Napoleão, o magricela, disparou na frente como um acrobata, Tonhola tentou acompanhá-lo, mas à medida que ia ganhando altura, percebeu que sua coragem não era tanta assim como sua vontade de chegar no topo. Erasmo vinha logo atrás nos calcanhares do nosso já trêmulo amigo, quando de repente o magricela dá um grito e vem de volta com rapidez assustando os colegas. Na pressa de subir ele não percebeu e deu de cara com uma caixa de marimbondos, que perigo, levou ferroadas no rosto e aos gritos, quando os colegas de baixo perceberam, desceram em debandada o mais rápido que conseguiram, mas não sem antes, todos os três serem picados. Conseguiram sair correndo com o magricela num choro desencabido de dor e já com o rosto todo inchado, por pouco não se machucam seriamente. Em disparada foram para a casa de Tonhola pedir socorro à pobre avó que prontamente veio com álcool para aliviar um pouco a dor dos meninos.

&Tvl

terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - As Pernas da Professora de Catecismo

Chegara a hora do catecismo. Meio que a contragosto Tonhola foi numa tarde com a avó conferir o que o aguardava. Conheceram o lugar onde seriam dadas as aulas, uma sala pequena que ficava ao lado da sacristia, para uns dez, doze alunos e também ficaram sabendo que tinha mais meninos que meninas.

No primeiro dia de aula, Tonhola lá estava firme e forte. Não conheceu nenhum dos outros alunos, nenhum estudava na sua escola. Foram orientados pelo sacristão a esperarem sentados, quietos, na sala porque a professora já estava chegando.

A espera não durou muito e entrou apressadamente sala a dentro o padre conduzindo a professora. Quando ela entrou na sala, um mundo novo deslumbrou na cabeça do nosso herói. O padre tinha um sotaque estranho e falava de forma muito enérgica, era muito carrancudo, com aquela assustadora batina preta até o chão, um contraste com o vestidinho da professora. Com uma voz grossa e firme daquelas de impor respeito, ele fez a apresentação da professora e também uma rápida noção do que eles iriam aprender no catecismo e também sobre o tempo que duraria e que não podiam chegar atrasados e da importância que aquilo tinha para o resto da vida deles e blá, blá, blá, blá, blá, blá... do que o padre falou ele depois só se lembrava mesmo que a moça era vizinha da paróquia, não dava para prestar atenção na voz grossa do padre, seus sentidos estavam todos ligados na professora.

A moça era uma morena muito jovem, devia ter uns dezesseis, dezessete anos e assim meio que cheinha mas com uma harmonia singela que causava. Trajava um vestidinho curto estampado colorido, pouco acima dos joelhos, de um tecido leve que balançava ao vento mostrando uns mundos que meninos daquela idade não estavam muito acostumados a ver e que, pelo menos no caso de Tonhola, depois de conhecer aquelas pernas da professora, passaram com muito entusiasmo a admirar.

É claro que dali não sairia um bom católico. Como um aluno com pensamentos impuros desde o primeiro dia do catecismo poderia aprender sobre a fé, os sacramentos e os mandamentos da igreja que o acompanhariam por toda a vida? Não deu outra.

Passadas algumas semanas, Tonhola ainda não conseguia puxar sozinho o Pai Nosso nem a Ave Maria, mas, mesmo assim, ele adorava as aulas de catecismo. Ali ele começou a ver um outro lado, em pecado, de como a vida podia ser bela.

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segunda-feira, 1 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Entregador de Panfletos

No bairro de Dona Rica tinha uma venda dessas antigas tipo um empório que vende de um tudo, bar, mercearia, papelaria, roupas e tudo mais, o dono se chama Ambrósio e com o negócio melhorando ele pensou em aumentar o leque de mercadorias e passou também a vender calçados de diversos modelos, inclusive uma sandália de borracha que estava fazendo muito sucesso na televisão, por isso resolveu fazer alguns panfletos, aconselhado que foi pelo pessoal fornecedor, dito e feito, ele não era chegado àquele tipo de propaganda, mas, daquela vez, achou que valia a pena, encomendou tantos danados, e quando recebeu da gráfica aqueles lindos panfletos coloridos com o nome da revenda, ficou entusiasmado, alguns fregueses assíduos na loja presenciaram a alegria do Seu Ambrósio, que precisava encontrar alguém que distribuísse pelo bairro os tais panfletos, sugeriram o neto de Dona Rica, que ficava o dia inteiro aprontando mesmo, lá do canto, outro freguês assíduo, Jeová, o bêbado, bradou, isso não vai dar certo, hic, esse hic é o soluço do bêbado, Seu Ambrósio deu com a mão para o lado do bêbado, como quem diz, você não sabe de nada, fica quieto no seu canto e mandou chamar o menino, que veio prontamente, louco por uns trocados, claro, com o consentimento de sua avó, entendeu tudo direitinho, ajeitou os panfletos numa espécie de embornal de couro que Seu Ambrósio arrumou e saiu pela rua alegre distribuindo os panfletos já no final da manhã, após o almoço, mal fez o quilo e saiu apressado para cumprir a missão, passados pouco mais de uma hora, sob aquele sol de rachar mamona, o menino se cansou, era muito panfleto pensou, precisava dar um jeito de aliviar aquilo mais rápido, chegou numa esquina e sem pensar pegou pouco mais da metade dos panfletos na sacola e atirou no bueiro que era do tipo boca de lobo, antes deu uma olhada para os lados pra ver se ninguém presenciara, tudo limpo pensou, só que não estava limpo era nada, justamente naquele momento Seu Ambrósio estava no ônibus que passava do outro lado da rua, era hora de ir ao centro para as tarefas bancárias do dia, que azar deu o menino, sem perceber ele seguiu distribuindo os panfletos que faltavam, também passou a deixar mais de um nas caixas do correio das casas e também nos para-brisas dos carros estacionados de modo que em poucos minutos os panfletos acabaram, daí caiu a ficha, não podia voltar logo para o Seu Ambrósio não desconfiar, ele sabia que por ali tinha um campinho de terra batida e os meninos ficavam batendo bola, foi, se aconchegou sob a sombra de uma sete copas e esperou o tempo passar, dada a hora, foi comunicar a conclusão da tarefa, mal se aproximou da venda e Seu Ambrósio já o esperava do lado de fora e aos berros o recebeu, Tonhola seu moleque safado, dê cá essa sacola e casca fora daqui antes que eu perca a paciência mais ainda e lhe dê umas boas lambadas, e meu pagamento perguntou o assustado menino, que pagamento que nada, onde já se viu atirar os panfletos no bueiro, eu vi seu moleque, vaza daqui, vaza, que não tem pagamento nenhum e não me amole mais, lá no mesmo canto da venda o bêbado Jeová, bradou, hic, eu disse que não ia dar certo, e você fique quieto ai no seu canto, finalizou o episódio o chateado Seu Ambrósio.