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domingo, 7 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Um Litro de Bilocas

A senhora que morava em frente à casa de Dona Rica, a que era muito estranha, morava sozinha e nunca abria as janelas de madeira da casa que davam de frente para a rua, a mesma que jogou a bola de vôlei na fornalha, se chamava Dalva. Uma vez ela transformou a pequena sala que tinha na casa e que dava para o alpendre, também pequeno, em quarto de aluguel. Certamente para melhorar as rendas. Seu primeiro inquilino foi um sujeito moreno e estranho, que ficava sempre por ali, a observar o movimento da rua e da molecada a brincar. Parecia que fora orientado para vigiar a casa, dos perigos da molecada. Sujeitinho mais estranho, os meninos o evitavam.

Naquela época estava na moda entre os garotos colecionarem bilocas, quanto mais bilocas tinham, mais poderes. Jogavam, cada um levava seu estoque e passavam horas jogando; ou de casinha, cinco buracos, quatro nas extremidades de um quadrado riscado no chão e um exatamente no meio do quadrado, o jogo era acertar as casinhas com as bilocas; ou no urte, uma biloca era colocada num ponto, geralmente ao pé de uma parede ou muro e os meninos ficavam a uma certa distância, cada um jogava sua biloca mirando no urte, o que acertasse primeiro, ficava com as bilocas que tinham sido atiradas e iam se acumulando em volta do urte. Tonhola era dos que tinha menos bilocas. O que tinha mais e era também o mais velho da turma, se chamava Alex e mais tarde foi para a aeronáutica na capital, era irmão de outro amigo da mesma idade de Tonhola e que veremos em outros episódios.

Um dia, nosso amigo não fora muito feliz no jogo com o urte e perdeu quase todas as bilocas, sobraram algumas no fundo do litro de óleo de cozinha, que na época era retangular e por ser de lata e portanto resistente, servia para armazenar as bilocas. O sujeito estava observando e ouviu a gozação dos meninos no final do jogo em cima do derrotado Tonhola, ele não perdeu a chance e se aproximou, depois de ver que os outros meninos iam se afastando. Foi se chegando de forma muito meiga do garoto e perguntou se ele não gostaria de ganhar um litro daqueles cheinho de bilocas, tinha até das brancas de leite e também daquelas maiores, as preferidas. Os olhinhos inocentes do menino se antenaram: - Claro que queria, cadê elas? Perguntou apressado. - Estão ali no meu quarto, quer ir lá para ver? - Quero. E foram, o malando conduziu o menino pela mão, aquilo, esse ato melindroso, chamou a atenção de Alex, o que tinha a maior quantidade de bilocas, que voltou para ver o que estava acontecendo, prevendo que aquilo não podia ser coisa boa pois ninguém entrava lá. Foi quando Tonhola, que já estava entrando na sala improvisada de quarto do sujeito, viu aquele piso estranho com ladrilhos em tabuleiro preto e branco e bem conservados pois não eram usados e até ele chegou a ver as bilocas, parado na soleira da porta de madeira entreaberta, realmente elas estavam lá. Quando o sujeito tentou se aproximar mais ainda do menino Alex, que vinha chegando, percebeu e gritou lá de fora: - Tonhola! O que você está fazendo aí? O menino se assustou com o grito e saiu correndo de lá, o sujeitinho, também se assustou, é claro, e, aquilo não ficou por rogado. O sujeito mal encarado se mudou rapidinho dali e nunca mais foi visto.

Tonhola não contou a ninguém. Passou o tempo, Alex foi para a capital e ficou por lá. Nunca mais se viram.

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