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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Torre da Catedral

A igreja da matriz tinha somente uma torre alta, contígua à nave.

A torre tinha uma escada interna estreita, mal dava para uma pessoa se equilibrar, era de concreto e até o terceiro piso, tinha laje, também de concreto que formava um patamar, dali para cima não tinha mais patamar, eram somente os degraus presos na paredes laterais que iam contornando as entranhas da torre e a escada seguia até o topo, onde ficava o sino, alguns metros acima do telhado da igreja. Alguns anos depois ele soube que os outros patamares foram feitos, mas não voltou lá para conferir.

Pouco antes do meio da altura da torre, uma portinhola se abria em direção ao telhado da nave, um pranchão de madeira fora colocado, para permitir acesso até o telhado. Os meninos subiam até lá por puro atrevimento, para mostrar que eram corajosos e também para se divertirem. Você não tem coragem, provocavam, até que num belo dia, nosso amigo se encheu de brios e subiu pela escada contornando o perímetro da torre. Subiu se agarrando às paredes, feito lagartixa, até a portinhola que dava acesso ao pranchão; lá chegando, foi outra etapa cruel, mas, para quem já havia chegado até ali, o jeito foi alcançar o telhado, o que de pé, nem pensar, foi de gatão, firme no pranchão de madeira, sem olhar para o chão, enquanto alguns dos colegas o aguardavam do outro lado, já sobre o telhado com a proteção da platibanda em alvenaria que o contorna, vamos, coragem, você consegue, incentivavam e ele seguiu, mansamente, passo por passo arrastando os joelhos pela prancha até que conseguiu superar a travessia que devia ter uns quatro metros e pouco de distância e mais que o dobro disso de altura. Os meninos comemoraram o sucesso do colega, deram uma olhada panorâmica lá de cima, admiraram a exuberância da praça que se abria à frente da igreja e voltaram. Aí é que o bicho pegou: quem disse que Tonhola tinha coragem de voltar, o menino travou do outro lado e se tremia todo e não conseguia encarar a prancha de volta, todos os meninos atravessaram e ficaram aguardando por ele que não saia do lugar, até que um dos meninos, mais experiente, voltou andando e conseguiu trazê-lo também engatinhando sobre a prancha. Depois ainda tinha a escadinha estreita com vãos sem laje até alcançar o primeiro patamar com laje de piso; foi um sacrifício, os degraus da escada além de serem estreitos, eram independentes e cravados na parede da torre, o menino se tremia todo, mas conseguiu. Que alívio pisar sobre aquela laje, o mundo renascera para ele ali naquele momento. Enquanto isso, entre os colegas ele seguia fazendo e espalhando a sua fama.

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