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quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Tonhola

Conheci Tonhola numa pescaria. Fui com uns amigos pescar no Rio Paranã no interior de Goiás, perto do belo salto do Itiquira. Estávamos em dois carros e nos perdemos na ida, passamos por umas várias vezes no mesmo lugar, "... eu acho que já vi aquela porteira...", dizia um dos tontos que garantia saber o lugar; depois de algumas horas circulando, finalmente descemos a tralha na beira do rio que não era muito grande e ficava num lugar fechado e escuro de mata alta. Iniciada a pesca tomamos um susto quando surgiu do meio do mato dois sujeitos miúdos e sujos de carvão até os rostos, um deles com um chapéu bem surrado de feltro e abas curtas e aquele cigarro típico de palha no canto da boca, "...b´tarde...", chegaram com um palavreado arrastado muito mais do que o meu e de olho grande em nossa bebida, oferecemos cerveja eles pediram pinga e cedemos a garrafa em amizade, depois de uma talagada cada um soltaram mais a língua e nos disseram que eram mineiros ali bem de pertinho e trabalhavam numa carvoaria na fazenda e viram quando dávamos voltas sem saber para onde ir, não disseram nada, mas garanto que deram rizadas por estarmos perdidos. O passeio foi inesquecível: fez um frio danado durante a madrugada e tivemos que improvisar uma fogueira para aguentar amanhecer; um senhor de nossa turma ficou só de calção e botas de borrachas, entrou no rio e foi "pescar de loca", pelos meus filhinhos, que loucura, naquela água fria e escura o cara ia tateando a mão no barranco retirando peixes das locas; depois deixaram umas "pindas" armadas e uma delas lá no meio da madrugada me fisga um filhote de jacaré, vocês nem imaginam o susto que tomamos e a barulheira que o bicho fez na água até conseguir se livrar do anzol; um de nossos amigos bebeu tanto que desmaiou sobre o capim e ali amanheceu todo molhado pelo sereno e a pinga era tanta que nem o frio o importunou, ele levou uma espingarda muito antiga e não chegou a usá-la, ainda bem; lá pelas tantas a cerveja foi ficando pouca e um gritou bravo, eu avisei que era para comprar mais, vocês teimaram comigo; eu mesmo, comecei a fazer de conta que estava bebendo logo depois que saiu um arroz de beira de rio que só quem pesca sabe o que é aquilo, aliás nossos amigos carvoeiros nem quiseram saber do arroz, só da pinga, tomaram mais alguns goles, contaram mais algumas mentiras e se foram no meio da mata e da noite. O sujeito do chapéu quis saber a nossa graça, que coisa aquele jeito de falar, contamos nossa graça e ele se apresentou simplesmente por Tonhola. Aquele apelido de Antônio, nome de meu pai, que eu nunca ouvira, ficou gravado e agora o adoto para dar nome a um garoto adolescente que tem muitos casos para contar. Não vi mais meus amigos daquela pescaria e mesmo não lembrando os nomes de muitos deles sempre os terei na lembrança.