Seguidores

Total de visualizações de página

sábado, 22 de junho de 2019

As Travessuras de Tonhola - O Time do Panela

O Panela era um crioulo divertido.
Ele organizava um time de futebol e ia jogar na zona rural nos finais de semana.
Daquela vez, pra completar o elenco Tonhola foi convidado.
Foram de pau-de-arara, naquele tempo podia, por uma estrada de chão muito esburacada. Já na saída o Panela avisou pra ninguém ficar com os pés sob a tábua do banco da frente e nem da que estava assentado, pois ela podia se quebrar.
Todos sabiam que o futebol de Tonhola não era lá essas coisas, mas, pra completar o time, vá lá!
A estrada era muito ruim que demoraram o dobro do tempo estimado.
Chegando lá o chefe do outro time, irritado, esbravejava com a demora, pois alguns de seus jogadores já ameaçavam debandar.
Feita a recepção, todos se trocaram por ali mesmo debaixo das árvores o jogo tomou seu rumo.
Final 0x0 pra decepção de toda a fanática torcida presente.
O jogo foi tão ruim que nem se deram pela categoria de Tonhola.
No outro dia o jogo foi anunciado na radio local como um senhor evento: "na fazenda tal nesse último final de semana foi realizado o sensacional jogo de futebol entre as equipes tal do bairro tal da cidade tal como equipe visitante contra a equipe local tal da fazenda tal no município de tal cidade e o jogo foi realizado no campo de terra batida daquela localidade e depois de noventa minutos de um belíssimo futebol muito disputado a peleja foi encerrada pelo competentíssimo juiz tal de tal cidade especialmente convidado para o singular evento mas que infelizmente para insatisfação da grande torcida presente sem a abertura de contagem pois foi sacramentado um empate em zero a zero simbolizando por si o tamanho da regularidade entre as equipes rivais por isso a diretoria da equipe citadina já avisou que haverá o jogo de volta e que portanto estão todos convidados a comparecer dia tal em tal horário no campo de futebol tal localizado no bairro de mesmo nome".

As Travessuras de Tonhola - Calça de Casimira

Uma vez Tonhola foi pescar num riacho com o tio e os dois primos.
O riacho desembocava num rio e o local que foram pescar era bem próximo do rio, dava para ouvir o barulho das águas nas pedras, era uma corredeira.
Hoje não existe mais, o local foi coberto por uma represa.
Pra se chegar no local de pesca tinha que passar por uma trilha bem fechada na mata com galhos que podiam arranhar. O tio ia na frente com um facão em punho cortando os galhos.
Os meninos vinham atrás levando os apetrechos com a tralha de pesca e os lanches e bebidas.
Tonhola não era muito chegado a pescarias, o trabalho que dava lhe cansava os neurônios antes mesmo do início da aventura.
Só que daquela vez um fato novo chamou-lhe a atenção. Ao passarem por um descampado no meio da trilha, um pasto com gado ao longe, o caminhar do tio era ouvido de uma forma diferente. Com os passos ritmados, o esfregar de uma perna na outra do tecido grosso de casimira da calça que ele usava fazia um barulho roc roc roc. Tonhola se segurava para não rir e os primos atrás perguntando o que era. Quando pararam numa sombra no final do pasto, já entrando na mata nas margens do riacho, Tonhola caiu em gargalhadas. Todos riram, mas ninguém nunca soube o motivo.

As Travessuras de Tonhola - Faca de ponta no balanço

Menino quando nasce sapeca e cresce sapeca apronta sempre alguma.
Certa vez Tonhola foi passear numa fazenda com Dona Rica.
Era uma fazenda antiga e sobre um gigante pé de jatobá tinha um balanço de cordas muito alto. O balanço eram duas cordas grossas e uma tábua larga e também grossa com dois furos laterais por onde a corda passava. A tábua era um assento que dava para duas crianças balançarem.
Um rapaz, ajudante na fazenda, ficava por ali cuidando do pomar.
Tonhola chupava umas laranjas descascando com uma faca afiada que lhe arrumaram.
O rapaz, pouco mais velho que Tonhola, se aproximou e perguntou se ele gostaria de brincar no balanço.
Claro! Respondeu, que criança não gosta né?
Sem saber o que fazer com a faca, levou junto e a colocou sobre a tábua e sentou em cima. O rapaz começou empurrando o balanço devagar e aos poucos foi aumentado a força e o menino indo cada vez mais alto.
Tonhola se divertiu e foi gostando mais e rindo alto e pedindo para empurrar cada vez mais alto e a empolgação foi tanta que ele se esqueceu da faca e a faca começou a balançar também e lá pelas tantas numa fatalidade sem explicação que só acontece com crianças sapecas a faca lhe fez com a ponta afiada um estrago na busanfa com um corte pequeno mas profundo que não chegou a sair sangue mas que provocou muita dor e o menino gritava e para para e para e o rapaz ficou muito assustado e tratou de dar logo o pé dali pensando com seus botões que merda era aquela que tinha feito e que aquilo ia acabar sobrando pra ele e que o belo do emprego que seu tio havia lhe conseguido com tanto empenho podia estar indo para as brecas e correu dali e ouviu de longe quando a avó do menino ao ouvir os berros conhecidos foi gritando acudir o neto e que se acalmou quando viu que o estrago não era tão grande assim mas que merecia cuidados e levou o moleque pra dentro e a dona da casa se culpando por ter arrumado aquela faca afiada ao moleque e ao mesmo tempo gritando pelo rapaz que havia se escafedido e também gritando mais alto ainda para ele ouvir você ainda me paga você vai ver quando o meu marido voltar do campo e aos poucos Tonhola foi se acalmando e parou de chorar e sua a avó improvisou um curativo e foram embora mas a cicatriz ficou registrada na busanfa.

As Travessuras de Tonhola - Tacho de doce de leite

Queimadura na barriga e na mão direita, mecha branca no cabelo até os quinze anos. Na fazenda.
Dona Rica era exímia doceira.
Certa vez ela foi convidada a ajudar uma amiga a fazer uns doces por encomenda num sítio.
Tonhola era pequeno ainda por volta dos três anos.
Não tinha crianças na casa.
Enquanto trabalhavam, improvisaram alguns brinquedos para o moleque ir se distraindo na varanda da sala, naquela época não tinha televisão, sobre os olhares atentos da avó, que sabia do neto que tinha, por isso não desgrudava o olho, era um pé no doce e outro no moleque, mas tudo bem ela pensou, ele até que estava comportado naquela manhã.
O doce principal era o de leite e pela quantidade tiveram que improvisar um tacho de cobre enorme na fornalha bruta de tijolos nos fundos, bem ao lado da área de serviço.
Colocaram a lenha no fogo para queimar e o leite caipira a ferver.
Uma estupenda colher de pau, que chamou a atenção do moleque Tonhola na chegada, seria usada no tacho para mexer o doce.
Lá pelas tantas, com o doce pronto, apurando brandamente no resquício de brasa que ainda restava na fornalha, as doceiras se deram por satisfeitas e se distraíram na cozinha com outros afazeres.
Enquanto isso, o menino Tonhola que àquela altura não se aquietava, dava voltas pelo sítio nas proximidades da casa e sua avó gritava, não se afaste muito, cuidado que aí tem formigas e blá, blá, blá, blá, blá, blá.
Tonhola contornou o bosque ralo nos fundos da casa e voltou dando de frente com aquele tacho cheio de doce de leite ainda quente. Deve ter pensado que não faria mal algum ele dar uma provadinha naquilo que devia de estar uma delícia e meteu a mão no doce. Pra quê! Foi um berro só, Dona Rica ouviu o grito e veio apavorada, quando viu do que se tratava gritou meudeus! e apavorada no caminho apanhou de uma toalha de rosto que estava pendurada num varal e já foi logo pegando no braço do moleque e com a força da sacudidela que deu um pedaço de doce quente foi na barriga do menino e outro pedaço não se sabe porque foi parar no couro cabeludo da cabeça e foi um deusnosacuda.

sábado, 15 de junho de 2019

As Travessuras de Tonhola - Camisa Volta ao Mundo

Naqueles anos, os primeiros escolares da vida de Tonhola, era novidade um tecido de nylon para camisas masculinas que acabara de ser lançado.
Tratava-se da camisa "volta ao mundo".
Dona Rica logo ao saber da novidade, providenciou algumas camisas para o neto, pois não queria saber de nada de ficar lavando e passando camisas todos os dias. Aquela era só lavar, botar para secar e já podia ir direto ao corpo, o tecido não amarrotava.
Não amarrotava, mas sujava.
Certo dia, alguns colegas de sala, mais ávidos que nosso amigo, viraram-lhe o cesto de lixo sobre a cabeça.
Aquele cesto, no final da aula, estava cheiro de pontas de lápis de várias cores e de sobras dos apontadores.
Tonhola foi limpar a sujeira e esfregou a mão sobre a camisa. No que tentou limpar, sujou totalmente a camisa, principalmente com grafite.
Ainda bem que a camisa era volta ao mundo.

As Travessuras de Tonhola - Motorista no Cortejo

Tonhola estava aprendendo a dirigir no automóvel do tio.
Que aliás, não tinha muita paciência como instrutor, mas quando ele ia ensinar o filho mais velho, também levava Tonhola para prestar atenção e aprender também.
Assim foi.
Alumas aulas depois, Tonhola já havia dirigido o carro sozinho algumas vezes, sempre com a supervisão do tio é claro. Aconteceu algo inusitado.
Um velório.
Fora uma senhora vizinha e amiga de Dona Rica que veio a falecer. Há tempos ela estava recolhida em tratamento por isso a meninada mais nova nem se deu por conta.
No dia do velório, um vizinho que tinha dois carros, solicitou que Tonhola fosse dirigindo um dos carros no cortejo levando alguns dos parentes e amigos. Tonhola tremeu nas bases com o convite. O tio soube do assunto e veio todo nervoso esbravejando com o sobrinho, achando que partira dele a ideia de conduzir o carro levando aqueles parentes e amigos da falecida.
Tem base! Ele nem queria ir. Deu de ombros.

As Travessuras de Tonhola - Rasteirinhas

Eram muitos os motivos que alguns alunos inventavam para faltar às aulas. No caso das meninas, ir calçando "pé de cachorro" (rasteirinhas) era apenas um deles pois sabiam que não era permitido, mesmo assim iam, pra serem barradas e voltar pra casa e dizer aos pais que não foram aceitas na escola.
Tonhola não era assim, ele ia pra aula de botina e nunca faltava, nem que estivesse doente.
Certa vez, duas meninas do turno da manhã, foram vistas pelo padre diretor saltando o muro. Pra quê? Aquilo deu um quiprocó danado.
O padre esperou o dia do hasteamento da bandeira e após o ato cívico, com a escola reunida, alunos e professores, pediu que todos se mantivessem em seus lugares.
O sermão foi longo, amplo, abrangente, nervoso. Mas ele não citou o nome das meninas.