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sábado, 30 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Generoso

Generoso era um mulato magro de quase dois metros de altura, que chegou a treinar no mesmo time de futebol do nosso amigo Tonhola.

O treinador já vinha trabalhando os meninos há algum tempo e observando os atletas que tinha em mãos com algumas experiências, só que ninguém se firmava no centro do ataque até que surgiu o Generoso. Esse era o seu apelido.

Esguio, da pele bem morena e do cabelo liso que a princípio pareceu todo desengonçado, sem nenhuma habilidade no trato com a bola, mas que aos poucos foi se revelando um artilheiro nato. As bolas altas eram o seu forte, tinha um ótimo tempo de bola e apesar da altura, tinha também boa impulsão, o que era coisa rara para aquele biotipo excêntrico, mas que, por outro lado, lhe dava uma vantagem enorme contra seus marcadores. Tinha treino em que ele metia quatro, cinco gols de cabeça em poucos minutos. Com os treinos e as orientações que recebia ele foi aprendendo aproveitar melhor as suas vantagens físicas e também evitar seus piores defeitos e dificuldades, por isso, evitava tentar dominar a bola e procurava bater de primeira, do jeito que ela vinha ele batia, daí o faro de gol e com isso veio a fama. A rapidez do raciocínio não dava tempo aos defensores de se prepararem. Saia cada gol esquisito de canela que só vendo. Claro que nem sempre ele acertava o gol, na maioria das vezes a bola ia pro mato, bem longe. Com ele era nos extremos, fazia gols impossíveis de se fazer e errava gols impossíveis de se errar também.

Uma vez num jogo amistoso ele tentou um gol de quadril. Isso mesmo, a bola foi rebatida pela defesa e quicou muito próxima ao seu corpo, não tinha tempo nem espaço para se virar e arrematar, de dentro da pequena área a poucos metros do gol, com o goleiro já caído, num lance de puro reflexo ele deu uma rebolada e com o quadril bateu na bola que entraria no gol não fosse um zagueiro bem colocado que tirou a bola com um chutão em cima da linha. Aquela bola não entrou, mas a jogada ficou marcada por todos que a viram.

Generoso também era conhecido entre os zagueiros por ter as canelas duras, o que incomodava muito seus marcadores. Na época não tinha chuteira de plástico, macias como as de hoje. As chuteiras eram artesanais, com cravos de plástico duros o bastante para serem presos aos solados com pregos. Com o desgaste do plástico dos cravos, pelo uso nos campos de terra, os pregos ficavam à mostra arrebentando com as canelas dos atacantes. Esse era mais um dos motivos para ele se livrar rápido da bola e escapar da fúria dos marcadores.

Por outro lado, Tonhola, como já vimos, em matéria de futebol, era um verdadeiro cabeça-de-bagre. Os treinadores que passaram pela infeliz experiência de tê-lo como integrante de seus elencos, não perderam tempo em orientá-lo a melhorar o seu futebol para fazer as jogadas da maneira certa.

Já Generoso, não era um craque, mas tinha controle de suas limitações e sabia o que fazer e na hora certa. Um artilheiro que fez muitos gols e abusava de seu porte físico, por isso seguiu a carreira jogando futebol amador e fez história como exímio cabeceador e artilheiro dos gols impossíveis.

Já nosso amigo Tonhola...

sexta-feira, 29 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Picolé de Cinquenta

Um vendedor de picolé ficou na memória da criançada.

Apelidaram-no de "picolé de cinqüenta". Até aí nada de anormal. Fora do normal era a reação do picolezeiro quando os meninos passavam e numa distância segura gritavam: - Picolé de cinquenta!

O homem virava o bicho, abandonava o carrinho e aos berros saia pelos cantos da rua à cata de algum objeto que pudesse ser atirado nos meninos levados que se debandavam em disparada fugindo.

quinta-feira, 28 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Balcão de Vidro

Numa tradicional loja de armarinhos da cidade trabalhavam três moças e mais o dono da loja. A loja tinha um balcão de madeira com algumas gavetas em sua parte superior com algumas repartições de madeira onde ficavam umas missangas, aqueles detalhes para enfeites de roupas ou para bijuterias. O tampo do balcão era de vidro sobre as gavetas para os clientes verem a variedade dos produtos.

Era vizinho da loja um senhor já sessentão, viúvo, agente da receita aposentado, magro, estatura mediana, que pintava os cabelos lisos e o bigode de preto e se achava o ó. Apesar da aparência extravagante, era muito simpático e estava sempre por ali a passar alguns minutos com a agradável companhia das vendedoras. O dono da loja não se importava, pois eram amigos de longa data, torciam pelo mesmo time de futebol, e no passado ele tinha uma certa admiração pela viúva, manter o amigo por perto lhe trazia boas recordações.

Certo dia, estavam todos bem animados, a prosa corria solta com muitos sorrisos, inclusive com a presença de alguns clientes que também participavam da conversa. Num rompante de entusiasmo o vizinho, encostado de costas no balcão, após uma piada que devia de ter sido muito da engraçada, firmou as mãos no balcão e num impulso jogou o corpo para cima e sentou no tampo de vidro sem se dar conta de que estava justamente em cima de uma das gavetas. Coitado. O vidro se quebrou e o estrago estava feito, no balcão e na buzanfa do menos avisado. Os cacos de vidro causaram estragos num lugar sensível, mesmo sendo pouca a carne na região, o sangue escorreu sujando sua calça cinza de tergal.

Justo nessa hora Tonhola se adentrava na loja para comprar uns carretéis de linha para soltar papagaios. Parado num mal-feito, o menino não via a hora de chegar na escola no outro dia e contar para a galera.

quarta-feira, 27 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chocolate Prestígio

Como vimos em episódios anteriores, bolachas Maria, suco de uva e jatobá foram alguns dos alimentos que arrebentaram com o delicado paladar de nosso amigo Tonhola em sua infância.

O chocolate Prestígio foi lançado no início dos anos sessenta e é sucesso até hoje.

Certa vez Tonhola pegou o dinheiro do lanche para a semana e comprou na mercearia que o Joacir trabalhava, o que conseguiu de barras de chocolate Prestígio, só que ele achou que precisava comer todas ao mesmo tempo. Tinha que dar merda. Por muitos anos ele ficou longe de comer chocolate com coco, só o cheiro já lhe causava embrulhos.

terça-feira, 26 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Presentes Para Todos

Alfredo conseguiu um emprego de aprendiz para o filho mais velho Aramis numa oficina mecânica para ele aprender o ofício. O dono da oficina era um amigo de infância de Alfredo e conhecia os meninos desde que nasceram.

Tonhola quando ficou sabendo sentiu um calafrio.

O amigo não aceitou que o menino, mesmo sendo aprendiz, trabalhasse sem receber e combinou com o pai que pagaria tantos dinheiros por mês para o menino trabalhar com ele no período da tarde. Assim foi feito.

Naquele tempo era um fato comum as famílias pedirem para os profissionais em varias profissões admitirem seus filhos como aprendizes sem remuneração, até digamos, darem conta do recado. Alfredo teve um primo que trabalhou um ano inteiro como aprendiz de mecânico quando menino, sem ser remunerado. Hoje ele não se arrepende, até agradece e chegou a ser reconhecido como um dos melhores mecânicos da cidade. Só que nem sempre foi assim, um patrão bom, muitos abusavam dos meninos e por isso foram criadas leis para protegê-los. Hoje é crime grave empregar menores.

No primeiro mês de Aramis no trabalho, correu tudo bem e ele correspondeu, quando chegou o primeiro pagamento, o menino surpreendeu a todos. Com o valor recebido de seu primeiro mês como aprendiz ele comprou presentes para todos da família, até para a avó e o primo Tonhola, apesar de achar que ele não merecia, mesmo assim, deu-lhe um par de meias, o irmão mais novo Aroldo, ganhou um calção de jogar futebol, a mãe um cinto de couro, o pai uma caixa de lenços e para a avó um chinelo de couro. Ainda sobrou alguns trocados para lanches na escola e também para outras guloseimas em suas idas ao cinema.

segunda-feira, 25 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - As Chaves da Loja

Com o passar do tempo o Joacir, que trabalhava na mercearia, foi ganhando a confiança do patrão e assumindo algumas responsabilidades, algumas até muito altas para sua pouca idade.

Num final de semana, o patrão teve um imprevisto e ligou orientando para que Joacir fechasse as portas da mercearia, os outros funcionários já tinham ido embora, era o início da tarde de sábado.

Como aquela era a primeira vez que Joacir trancava a mercearia sozinho, ele tomou todos os cuidados para seguir o ritual e não se esquecer de nada. Trancou as portas e janelas uma a uma, desligou a chave geral de energia elétrica e trancou a porta da frente, a principal, se certificando que tinha feito tudo de forma correta. Saiu dali com o peito erguido e cheio de satisfação, não foi direto para casa almoçar, passou antes na casa de Tonhola para, todo orgulhoso, contar que tinha trancado a mercearia pela primeira vez sozinho, tirou do bolso o molho de chaves e mostrou ao amigo. Conversa vai, conversa vem e se entusiasmaram com outro assunto e o responsável menino Joacir esqueceu as chaves no sofá que era daqueles com almofada para assento e outra separada para o encosto, de modo que no encontro entre elas cabia muito bem escondido um molho de chaves que deu muita canseira para ser encontrado. Antes de ir embora, cadê as chaves? Procura daqui e procura dali, Dona Rica percebeu e veio ao encontro saber o que estava acontecendo e reviraram a sala e o quarto de Tonhola, os dois ambientes que estiveram e nada de chaves, o menino começou a ficar desesperado, já imaginando a bronca do patrão, justo na primeira vez em que lhe pedia para executar tarefa tão importante, calma, acudiu Dona Rica, vamos procurar direito, se vocês só estiveram aqui e não entrou ninguém as chaves têm que estar por aqui, vamos arrastar o sofá e arrastaram o sofá grande e nada e arrastaram um dos sofás pequenos e nada e arrastaram o outro sofá pequeno e nada de chaves. Dono Rica disse para ele ir, ela ofereceu almoço, mas ele não quis, tinha perdido toda a fome, ela disse que ele podia ir embora que continuariam procurando, caso encontrassem, Tonhola levaria para ele. E assim foi feito. Descansaram. Mais tarde Dona Rica voltou sozinha e mexeu no sofá entre as almofadas e até se assustou com a quantidade de bugingangas que encontrou, mas como é possível? limpo esse sofá todos os dias, tinha carta de baralho amassada, figurinha de álbum, tampa de guaraná, pipoca, bilocas, bolas de ping-pong e outras coisinhas que ela tirou tudo e deixou aquele sofá limpinho, passou para o outro pequeno e idem, no segundo e último dos sofás, adivinhem o que ela encontrou entre outras coisitas? o molho de chaves da mercearia e gritou satisfeita: - achei Tonhola! achei as chaves! - corre aqui e leva lá para o Joacir. Que alívio!

domingo, 24 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Primeiras Paixões

Tonhola já em sua pré-adolescência teve algumas paixões.

Aquela visita que sua sala de aula fez à casa de uma das alunas que ele considerava sua namorada, foi uma das primeiras.

Depois teve uma garotinha que ele conheceu no curso preparatório para a admissão ginasial.

Naquela época os alunos que concluíam o primário, tinham que passar por uma prova que era o Exame de Admissão ao Ginásio. Tem base! Já pensou alunos de nove, dez, onze ou doze anos tendo a obrigação de fazer uma prova terrível para ser admitido e seguir nos estudos ingressando no ginásio. Um funil para ter o direito de continuar estudando. Ainda bem que isso acabou faz tempo. Não é de se admirar o Brasil ter tido sua primeira universidade no início do Século Vinte, o Perú teve a primeira da América do Sul quatrocentos anos antes.

Pois é, Dona Rica, precavida, inscreveu o neto num curso preparatório para esse exame, já prevendo futuras dores de cabeça e foi lá que ele conheceu e se encantou por essa garota, uma de suas primeiras paixões.

Essa garota não desgrudava de uma outra magrela e feia que usava óculos. Como as duas estavam sempre juntas e nosso amigo tinha muitos olhos para a garota do encanto, a companheira, dada a proximidade, achava que aqueles olhares eram também para ela e por isso passou a meio que corresponder aos olhares e se derretia toda para ele. Talvez por isso a garota do encanto, percebendo o interesse da amiga, não correspondeu do jeito que ele esperava. A paixão ficou por ali mesmo.

Mais tarde ele veio a saber que a garota do encanto casou-se muito jovem, ainda cursava o ginásio, com o filho de um fazendeiro.

Ah! Tonhola ingressou no ginásio.

sábado, 23 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cartão Postal de São Vicente

- O que foi vó?

- Preocupada meu filho, preocupada com sua mãe que não dá notícias. A última notícia dela foi aquele cartão postal de São Vicente ali em cima da cristaleira e mesmo assim foi só para mostrar que está viva. Só disse um oi curto e grosso. O Alfredo é que teve notícias de um viajante que a viu com um grupo de artesãos vendendo bugingangas numa praça da capital, mas isso foi bem antes do cartão postal da praia chegar. Depois disso, nunca mais. Hoje amanheci assim, com o coração apertado, quando isso acontece fico pensando que vai vir notícia ruim. Custava aquela ingrata enfiar a cabeça num orelhão e ligar a cobrar pra nos tranquilizar, mas não, parece que ela tem prazer em nos fazer sofrer e faz isso de propósito. Só me resta rezar e ficar torcendo para que esteja tudo bem. Passa. Sempre passa. Mesmo que não chegue nenhuma notícia. Essa semana vamos ficar mais atentos ao carteiro, talvez chegue outro cartão postal. E trate de se arrumar para a escola que você vai chegar atrasado.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Prima

Brincava Tonhola sozinho no quintal com seus carrinhos fabricados de litros usados de óleo de cozinha quando percebeu que alguém com voz feminina chamou por sua avó. Não deu importância e continuou a brincar. Alguns minutos depois ele foi até a cozinha tomar água e ouviu que a conversa estava boa e ia longe entre sua avó e a visita. Estranhamente não se importou e voltou aos carrinhos.

Um pouco mais tarde, sua avó o chamou da varanda, Tonhola venha conhecer nossa prima, lave as mãos no tanque. Quando o menino viu a prima distante de Dona Rica, lamentou por ter ficado tanto tempo brincando com carrinho de litro de óleo debaixo das mangueiras. A prima de Dona Rica era bem mais jovem que ela e estava com um vestido colorido assim meio curto, pouco acima dos joelhos com aquelas lindas pernas à mostra. O moleque engasgou e não conseguia desgrudar os olhos das pernas da ilustre visita. Sua avó percebeu e tentou afastar o moleque, em vão. Mesmo sujo de brincar na terra ele deu um jeito de se acomodar no sofá de frente para as duas enquanto elas continuavam a agradável conversa.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Os Dois se Afogando

Tonhola foi convidado por uma amiga de Dona Rica a passar o domingo num tradicional clube da cidade. Com eles iam também dois sobrinhos dela.

A piscina do clube era bem maior que a do clube campestre, que ele já conhecia e lhe avisaram para tomar cuidado. Dessa vez ele se certificou de que o calção de banho estava na sacola. Só que não chegou a nadar, se entreteve com outros afazeres.

A grade de ferro que separava a piscina era um pouco mais alta que ele, por alguns minutos ele ficou encostado na grade com a cabeça entre os tubos de aço que ele segurou com as duas mãos e ficou observando o movimento das pessoas na piscina e talvez pensando, porque raios não aprendi a nadar.

Nisso ele percebeu que um senhor, certamente o pai, trouxe dois meninos, tinham quase o mesmo tamanho e demonstravam não ter nenhuma intimidade com o lugar, como uma certa pessoa que a cena observava. Enquanto o pai se afastou um pouco para guardar as toalhas no vestiário, os dois meninos, ao mesmo tempo foram direto para a piscina e pularam na parte mais funda, ainda bem que foram vistos fazendo aquilo, eles ficaram se remexendo no fundo, sem saber nadar, um outro senhor de cabelos grisalhos que estava dentro da piscina, foi avisado por uma moça próxima a Tonhola que viu quando os meninos pularam. Um deles foi puxado pelos cabelos e o menino saiu chorando e assustado, pois havia engolido muita água, o outro foi tirado com a ajuda de outros rapazes que também viram e foram em socorro aos dois principiantes. Nisso o pai, quando voltou do vestiário, não encontrou os meninos e no meio daquela gente toda saiu louco procurando quando a mesma moça na grade mostrou com gestos onde eles estavam, o pai apavorado viu aquele alvoroço e tinham tirado da piscina funda seus dois filhos que estavam se afogando, nenhum deles sabia nadar, aquela era a primeira vez que iam ao clube pois ele acabara de adquirir a ação remido. Que merda!

Enquanto isso, alheios a tudo, a moça brincava com os sobrinhos numa outra piscina pequena e separada, exclusiva aos pequenos.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bunda de Fora

Tonhola foi num domingo passear com os amigos num clube da cidade. Era um clube campestre bastante badalado na época, hoje infelizmente está desativado.

Foram de Kombi. O menino foi colocado no banco de trás e as curvas e o chacoalhado do veículo no caminho o fez ficar mareadinho da silva. Tonto mesmo e também com o estômago embrulhado.

Nenhum brinquedo o apetecia, futebol nem pensar, ping-pong, sinuca, esmurrar a bola no pushing também não, ficou por ali a observar o movimento dominical no clube.

Os amigos o convidaram para cair na piscina, que estava tomada, com muita gente se divertindo. Bom, ele pensou, pelo menos a piscina acho que posso ir e também tem as meninas. E foi, pegou sua sacolinha e foi com os colegas ao vestiário para se trocar e surpresa, não tinha calção de banho em sua sacola, ou ele ou sua avó se esqueceram de colocar a sunga azul que ele tinha para nadar, mas pra tudo dá-se um jeito, um colega disse que tinha um calção de jogar futebol que talvez lhe servisse, vestiu, serviu e foram para a piscina, como o garoto Tonhola não é muito chegado em natação, como vimos antes, ele desceu calmamente pela escadinha de tubo cromado num dos cantos da piscina, no lado oposto da piscina também tinha uma dessas, só que os amigos o avisaram que a piscina era mais funda do outro lado, claro que ele foi pela escadinha mais próxima mesmo, brincaram um bom período, Tonhola a seu jeito, no raso, sem pular muito, com a água agitada pela quantidade de gente, batendo em sua barriga, que era o máximo de profundidade que ele arriscava, o que em nada ajudava em seu estado de mareamento, o estômago continuava embrulhado, e ainda tinha a preocupação com o calção, pra quem já era avexado, com um calção daqueles, improvisado, mais avexado ainda ficou, apareceu uma bola de plástico e ele entrou na brincadeira, a bola veio para seu lado e ele foi pular para alcançá-la e percebeu que algo aconteceu e teve que segurar o calção com uma das mãos, a presilha que suportava o calção se soltou na água, ele continuou sem graça a brincadeira, segurando o calção com uma das mãos, ora uma, ora outra, a bola ao seu alcance parou fora da piscina a uma distância que ele podia buscar se esticando um pouco sem sair de todo da água e quando foi tentar esticar o braço, ao dar o salto, na empolgação, achando que impressionava as meninas, o calção ficou para trás deixando a mostra toda aquela bunda branca, que vergonha, que vexame, depois daquilo ele não quis mais saber da brincadeira, todos riram e ele saiu da piscina pela escadinha mais rasa segurando o calção com uma das mãos em direção ao vestiário.

terça-feira, 19 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Mentira de Bang-bang

Apareceu entre os meninos da rua, um garoto de outra cidade que era parente de uma amiga de Dona Rica. Ela não tinha filhos e de vez em quando esse garoto vinha passar umas temporadas com ela. Eles já o tinham visto pelas redondezas, mas aquela foi a primeira vez que o forasteiro tentou se aproximar.

O menino, por ser de uma cidade maior, se achava o ó do borogodó. Muito metido para os garotos que se entreolhavam fulos da vida a cada tirada ou mesmo mentiras que o bestinha aprontava.

A pior delas foi a dos três saquinhos de ouro. O moleque devia ter assistido a um filme de bang-bang daqueles com índios, ferrovias, soldados da cavalaria, mocinhos e bandidos em volta de uma mina de ouro.

Pois não é que ele teve a petulância de dizer que tinha guardado em seu quarto três saquinhos de ouro.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Obra do Século

Teve início na cidade a construção da canalização de um dos principais córregos da cidade.

A canalização era encoberta, na época era permitido.

Por ser uma obra de grande porte e que envolvia muita movimentação de terra, era um fascínio para a molecada que adorava escalar aquelas montanhas enormes de terra mexida, para desespero dos operários da obra, criança em obra é um perigo. Tonhola não podia ficar de fora. Apesar de a obra ser praticamente do outro lado da cidade, a meninada dava um jeito de aparecer por lá. Num sábado foram em bando visitar a obra, por coincidência naquele dia uma equipe de reportagem estava por lá filmando, foram vistos quando subiram no morro para apreciar a vista panorâmica daquele enorme canteiro de obras. Um dos encarregados que acompanhava a equipe, quando viu os meninos, gritou a acenou de longe para que eles saíssem de lá, não podiam aparecer na filmagem, aquilo podia comprometer a imagem de organização do canteiro. Nenhum operário trabalhava na obra naquele horário. As máquinas estavam estacionadas num patamar, na beira do córrego, do lado contrário ao dos meninos. Mais que depressa os meninos meio que assustados atenderam ao pedido e desceram.

Depois desse ocorrido, alguma coisa deu errado e a obra empacou, andou por muito tempo em ritmo lento e por isso foi carinhosamente apelidada pela população de "obra de um século". Depois a obra que ficou pronta e deu origem a uma das mais belas avenidas da cidade.

As leis ambientais não permitem mais canalizações fechadas de córregos, somente a céu aberto.

domingo, 17 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Filme do Sabão em Pó

Uma marca de sabão em pó patrocinou uma sessão de cinema para os alunos da escola de Tonhola.

Foi uma sessão especial, no período da manhã, no horário das aulas. Uma verdadeira festa, os alunos foram entusiasmados, de ônibus e na entrada do cinema receberam balas e guloseimas também patrocinadas pela marca de sabão em pó.

Foi um filme de aventura que não foi lá essas coisas. Tanto é que ele não se lembra mais do filme.

Mas se lembra muito bem do ator principal, que na época era um garoto da mesma idade dele. Esse ator ainda está na ativa e já fez vários filmes, muitos deles de ação. Seu nome: Kurt Hussel. Norte-americano, começou no cinema com dez anos de idade e nunca mais parou.


sábado, 16 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Primo Ângelo

O primo Ângelo tocava o hino nacional no berrante. Era um artista, ninguém fazia aquilo, só ele.

Na vida, ele teve um desgosto muito grande que o fez encontrar alívio na bebida, tornou-se alcoólatra.

Levou uma vida errante até o fim.

Um dia, quando Alfredo foi tirar o carro na garagem para levar os meninos na escola, o primo Ângelo estava dormindo dentro do carro. Foi o maior susto. Não entenderam como ele conseguiu entrar no carro, o Alfredo olhou feio para o filho mais velho Aramis como se a culpa fosse dele não ter fechado o carro direito.

Ele era assim, sumia por muito tempo e depois aparecia todo sujo, sorridente, tocando seu berrante.

Alguns anos depois, numa noite de muito frio ele foi encontrado num posto de gasolina, morto. O berrante apagou.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cemitério dos Heróis

Na volta da viagem a Monte Alegre depois de feita a campanha e distribuídos os adesivos, a bandeirante Marilda pediu para visitarem o Cemitério dos Heróis, um monumento no caminho e próximo à estrada, pouco mais de um quilômetro.

É o Monumento aos Heróicos Retirantes da Laguna da Guerra do Paraguai.

As Travessuras de Tonhola - Botina Amarela

Tonhola ganhou um par de botinas da mesma loja onde trabalhava o Seu Chico Risada.

Dona Rica disse para que ele fosse lá escolher e experimentar a botina que já estava paga pelo tio Alfredo.

Claro, todos queriam que ele escolhesse uma da cor preta que serviria para ir tanto para a escola como à missa aos domingos, além de poder ser engraxada e com isso durar um pouco mais, ainda que o menino esteja em fase de crescimento e em pouco tempo o pé não caiba mais no calçado.

Enganaram-se.

O moleque se encantou com uma botina amarela daquelas de jeca tatu mesmo, com elástico e presilhas salientes para ajudar a calçar

Sua avó levou um susto quando viu, depois riu e deixou por isso mesmo, se era o gosto dele, fazer o quê?

O menino não cabia em si de ansiedade para chegar o domingo e poder estrear a botina nova no cinema com os amigos.

Os colegas riram e o coretaram, mas, satisfeito, ele dava de ombros e seguia todo todo com sua botina amarela, com as presilhas para fora se destacando sob a calça curta e o que é pior, as botinas de sola ainda chiavam a cada passo.

quinta-feira, 14 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Jogo de Argolas na Pecuária

A maior festa da cidade que se iniciava por aqueles tempos, atraia gente de toda a região. Para a maioria das pessoas quase tudo ali oferecido era novidade, o carrinho de trombada, o tiro ao alvo de chumbinho e de rolha dentre outras atrações, mas uma das que mais fazia sucesso com a garotada era a barraca do jogo de argolas.

Acertar as garrafas de refrigerante que ficavam dispostas no centro da barraca ao lado das prendas era o ponto alto do jogo. Tinha prenda pra tudo quanto era gosto, ursos de pelúcia de mais de metro, bolas plásticas coloridas de vários tamanhos, carrinhos de plástico e de madeira, refrigerantes, barras de chocolate, chicletes e outras guloseimas.

Acertava a argola e levava o prêmio.

A maioria se enganava direitinho. O jogo parecia muito fácil, poucos acertavam.

Tonhola torrou todo o dinheiro disponível para uma noite na pecuária só com as argolas de plástico e não acertou nenhuma. Novidade.

terça-feira, 12 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Badeirante Marilda

Na viagem que Tonhola fez à cidade vizinha para distribuição de adesivos, eles tiveram no fusca, a agradável companhia da bandeirante Marilda. Os três meninos foram apertados no banco de trás sem nenhuma reclamação, muito pelo contrário.

Marilda era uma morena de cabelos pretos e compridos de estatura mediana, não era magra nem gorda, simplesmente tinha tudo no lugar, era alguns anos mais velha que os meninos e de pronto caiu nas graças dos três pentelhos, com todos eles ela distribuía muita animação e simpatia.

Aquela viagem foi bem mais divertida que a primeira que fizeram, a do posto de abastecimento e serviços no entroncamento da estrada onde foram somente homens.

Alguns anos mais tarde Tonhola ficou sabendo que o pai de Marilda era bancário e fora transferido para outra cidade, nunca mais tiveram notícias dela.

segunda-feira, 11 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chapéu de Escoteiro

Tonhola ganhou de presente um chapéu de escoteiro.

Era um chapéu usado, já um pouco surrado, com as largas abas caindo tipo o do Santos Dumont, mas que ainda dava um caldo. Tonhola agradeceu o presente e gostou, mesmo não sendo muito de usar, guardou o chapéu e zelou dele por algum tempo.

Um dia um amigo da turma do futebol na roça pediu um boné emprestado para uma pescaria, Tonhola não tinha nenhum boné em bom estado mas se lembrou do chapéu. Pra quê? O amigo colocou o chapéu que encaixou em sua cabeça feito uma luva e foi pescar.

Nunca mais Tonhola viu aquele chapéu de lebre cor cáqui, de escoteiro, ainda em bom estado de conservação, que certamente duraria muitos anos protegido numa caixa de papelão.

domingo, 10 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Brincando na Água da Chuva

Essa chuva de granizo trouxe à tona um outro episódio passado alguns anos antes, quando Tonhola ainda não estava na escola.

A rua de Dona Rica ainda não era asfaltada e quando chovia forte o volume de água formava uma enxurrada que fazia verdadeiras crateras nas laterais da rua. Assim que a chuva passava, a água seguia escorrendo rua abaixo, a meninada saia de suas casas e ia brincar naquela água barrenta para desespero das mães, entravam nas crateras, sentiam a água passando por suas pernas, era perigoso, podiam se machucar, mas não estavam preocupados com isso naquela idade, eles só queriam saber de brincar na água suja.

sábado, 9 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Chuva de Granizo

Era novembro. Caia a tarde e o céu estava sendo assustadoramente coberto por umas nuvens muito escuras anunciando que chuva forte estava para cair em minutos.

Alguns meninos brincavam com Tonhola no quintal e Dona Rica saiu na porta da cozinha e gritou, já pra suas casas, não estão vendo o toró que vai cair, pra dentro Tonhola e nada de chuveiro agora, espere a chuva passar.

E choveu.

Uma chuva muito forte, com ventos assustadores, parecendo querer arrancar as telhas de barro da casa, caiu por um longo período até a noite se mostrar por completo. Choveu granizo e Tonhola brincava com as pedrinhas que escorriam pra dentro da varanda da área de serviço. Como estará o telhado do galinheiro? se perguntava fazendo o sinal da cruz a assustada Dona Rica. Tonhola não estava nem aí, passado o medo dos relâmpagos e trovões ele só queria saber de brincar com as pedrinhas de gelo do tamanho de suas bilocas que caíam no piso da varanda da área de serviço.

sexta-feira, 8 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Disparo do Cavalo

Num domingo, Tonhola foi com Leopoldo e Joacir passear numa chácara perto da cidade, dava para ir a pé de tão perto. Foram de caminhonete com outros garotos, amigos de Leopoldo. Entre eles, duas garotas, uma delas era prima de Leopoldo e morava noutra cidade, a outra era uma amiga que a acompanhava.

A prima de Leopoldo era gordinha e queria que queria andar a cavalo, desde que subiu na carroceria da caminhonete, ela não falou em outra coisa.

Na chácara tinha um cavalo, um pangaré que passava os dias tranquilo pastando, sem muito esforço, o chão era pequeno e por isso seus serviços eram raramente solicitados.

Assim que chegaram, foram buscar o pangaré para a menina cavalgar, agora imaginem só, um pangaré que vivia naquela maciota diária, como que ficou, com aquele alvoroço de gente agitada à sua volta, o bicho ficou todo agitado também e não podia ser diferente, mas conseguiram arreá-lo e depois foi uma luta para a menina montá-lo, gordinha e pesada, ela não tinha altura suficiente e trouxeram uma cadeira de madeira para ela subir, na primeira tentativa não deu certo, o pangaré não ficava quieto e seguraram a menina para ela não cair, tentaram de novo segurando mais firme o coitado do pangaré, até que deu certo, ufa, a menina conseguiu montar e o bicho sentiu o peso da amazona, aquilo não estava certo, assim que soltaram a rédea na mão da menina, o pangaré se sentiu solto, deu um relincho tipo como se tivesse atendendo a um grito de aiôusilver e saiu em disparada com a menina em cima e o cavalo corria e era menina gordinha pra lá e era menina gordinha pra cá e o pangaré corria em disparada alucinada e o corpo da menina era atirado para um lado e para o outro no arreio surrado mas ela com as mãos firmes na rédea por um verdadeiro milagre de um deus separado que protege as crianças e as meninas gordinhas que montam em cavalos estranhos a menina não caiu para um alívio muito grande da moçada que de longe observava apreensiva e já começava a preparar o motor da caminhonete para sair correndo direto para o hospital mais próximo porque naquela época ainda não tinha pronto socorro na cidade, ufa de novo, respiremos, por sorte, nada aconteceu, o pangaré cansou com o excesso de peso que carregava aliado à sua má preparação física e voltou bufando e com a língua de fora e trouxe a assustada menina de volta sã e salva. Aquela deve ter sentido dores no corpo todo por muitos dias e certamente não mais ia querer saber de cavalgadas.

quinta-feira, 7 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - A Travessia do Trator

Tonhola foi até a casa do tourinho Erasmo para brincar. A casa dele ficava a algumas quadras de distância, uma boa caminhada.

No caminho tinha uma oficina mecânica que consertava veículos grandes, caminhões e tratores. Estavam desembarcando um trator de esteiras na oficina e Tonhola parou, do outro lado da rua, para observar a operação.

Enquanto isso ele se lembrou de um fato quando ainda era pequeno e sua avó foi passear com o filho Álvaro numa fazenda, o menino Alfredo estava com ele e o Aramís ainda nem tinha nascido. Tinha na fazenda um trator de esteira muito antigo, apresentando ferrugens e vazamentos de óleo em algumas partes do motor. Um operador estava preparando o trator para sair e os meninos se aproximaram, conversaram com o operador e por ele foram orientados a ficarem mais afastados quando ele fosse sair com o trator em movimento, o bicho demorou a funcionar, depois de algumas tentativas ele funcionou com um barulho muito alto e dava alguns tiros no escapamento assustando os meninos, o operador riu nos primeiros tiros, deu uma manobra radical virando o trator no próprio eixo e saiu pela estrada, os meninos foram atrás numa distância segura; pouco adiante a estrada passava por um córrego que tinha uma pontezinha de madeira daquelas que suportava somente um carro de passeio por vez, ficaram intrigados de como o trator passaria ali, observaram de longe; o operador desviou o trator e passou ao lado da ponte atravessando o córrego, que não tinha muita água, sua passagem deixou um caminho de terra que durou algum tempo até a água encher um poço e voltar a completar o seu curso, nesse tempo, os meninos atravessaram o córrego por essa passagem de terra sobre o córrego sem tocar na água, aquilo ficou na memória de Tonhola e veio à tona ao ver o desembarque daquele trator, aliás, muito mais novo e maior do que atravessou o córrego sem passar pela frágil ponte de madeira de sua infância.

quarta-feira, 6 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Cabras

Certa vez Tonhola foi com os primos Aramís e Aroldo passar uma semana, durante as férias escolares do início do ano, numa fazenda que era de um primo de Dona Rica.

O primo mesmo não estaria na fazenda, o gerente, que tinha assuntos a realizar na cidade, fora orientado a avisar Dona Rica para preparar os meninos que ele passaria para pegá-los no outro dia bem cedinho e que no início da outra semana os traria de volta.

Dona Rica estava muito apreensiva em permitir, mas seu filho Alfredo deu a palavra final permitindo que os filhos fossem, o que facilitou para Tonhola também ir.

A fazenda era distante meio dia de viagem, numa caminhonete com capota de lona, os meninos foram na carroceria porque naquele tempo era permitido.

Chegaram debaixo de um tempo chuvoso.

Acomodados, não tinha mais crianças na casa. Só um casal de idosos que tomava de conta. O gerente, que levou os meninos morava em outra casa, mais distante e não tinha filhos, era somente ele e a mulher, que aliás, quase nunca saia de casa.

A fazenda era de criação de gado. Tinha um curral enorme, muito bem feito com mourões de madeira e cabos de aço no lugar das tábuas convencionais. Os cabos estavam novinhos, devia ser um curral novo.

Além do gado na fazenda também tinha uma criação de cavalos e de cabras, muitas cabras.

Num dia também chuvoso, caia uma garoinha fina o bastante para não desanimar os meninos que saíram bem cedinho e foram por uma estradinha sinuosa caminhando até uma barragem, orientados pelo caseiro, é só seguir direto que vocês chegam na barragem, mas não demorem, voltem antes do almoço, recomendou.

No caminho os meninos ficaram espantados com a quantidade de cabras.

De longe viram o gerente a cavalo cuidando de algumas que pariram naquela manhã. Ele veio até os meninos e disse que estavam esperando que muitas delas parissem por aqueles dias. Dito e feito. Na volta para casa passaram por outras em trabalho de parto e ficaram de longe. Era muita cabra parindo.

Choveu praticamente todos os dias em que estiveram na fazenda e pariram cabras também em todos os dias.

Chegado o dia da volta, um imprevisto fez o gerente levá-los até a estrada de terra que passava pela fazenda e eles voltaram de ônibus. Viagem que também foi uma diversão, estrada de terra, muita chuva e atravessaram o rio numa balsa, ficaram com muito medo quando o ônibus foi descer a rampa do barranco escorregadio para entrar na balsa, eles não queriam sair do ônibus, mas o motorista, depois de estacionar na balsa, convidou todos a sair e ficar do lado de fora do ônibus durante a travessia, por segurança, mesmo debaixo de uma garoa fria.

terça-feira, 5 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - O Violão

Dona Rica inventou de dar um violão ao neto.

Certo dia bateu em sua porta um vendedor ambulante com alguns instrumentos musicais e de acordo com o vendedor, estavam com os precinhos da hora, muito convidativos. Dona Rica se encantou com uma cítara, um instrumento de cordas lindo e delicado, mas que ela achou que não se encaixava com os padrões de organização do neto. Preferiu um violão.

Ela até imaginou o neto concentrado num banquinho dedilhando aquelas cordas. Era muito bom para ser verdade, pensou com seus botões. Mesmo sabendo que poderia dar com os burros n'água, resolveu tentar, pediu ao vendedor que aguardasse, foi até o quarto e numa caixa de sapatos no guarda-roupas, separou o dinheiro e comprou o instrumento.

Quando Tonhola chegou da escola, viu o violão no sofá e ficou todo entusiasmado. É seu, disse a avó, pode começar a treinar. Só que isso é uma outra história.

segunda-feira, 4 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Torneio nos Três Coqueiros

Findo o campeonato de futebol infanto-juvenil, os meninos foram convidados por uns garotos que conheceram durante o campeonato, a participarem de um torneio que eles organizavam todo ano num campinho próximo ao Beira-Bosta, conhecido como Três Coqueiros.

O campo era parcialmente coberto com uma grama rala, era nivelado e menor que o do Beira-Bosta. Ficava numa esquina, e bem de frente tinha uma venda, num prédio muito antigo, daqueles com vigas e colunas salientes em madeira de aroeira com paredes de adobe e o telhado em quatro águas com aquelas telhas coloniais que eram feitas uma a uma. Uma construção baixa e feia que deve de estar lá até hoje. Era o dono da venda que fornecia os refrigerantes para o torneio.

Antes do início fora tudo combinado, o vencedor ganharia tantos litros de refrigerantes, pagos pelo time perdedor. O refrigerante de litro acabava de ser lançado na cidade em garrafas retornáveis de vidro.

Para esse torneio Tonhola foi convidado, não por sua categoria como jogador, mas porque sua participação era imprescindível na hora de pagar os refrigerantes, caso perdessem.

Só que daquela vez, para surpresa deles próprios, saíram vencedores e até o Tonhola jogou.

Se empanturraram de tanto refrigerante.

domingo, 3 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Treino no Campo de Terra

Ia começar na cidade um campeonato de futebol nas categorias infantil e infanto-juvenil. Os meninos se alvoroçaram: - eu vou jogar no time tal; e eu no tal; lá perto de casa estão organizando no bairro o time tal e vocês vão ver, os treinos serão no terrão, aquele campinho de terra próximo ao córrego, tem um bocado de moleque bom de bola que os pais vieram trabalhar na usina e moram no bairro, o time promete, ainda não foi definido o nome, mas será definido antes de se confirmar o início do campeonato.

Tonhola ouviu e ficou atento a tudo que os meninos diziam quando souberam do campeonato, só que nenhum dos times o convidou. Também!

Só que o menino não se fez de rogado. Poderia ser de zagueiro, volante, atacante, o que fosse, a não ser de goleiro ou lateral, em qualquer outra posição ele treinaria, daquele campeonato é que ele não ficaria de fora.

Leopoldo foi convocado para a associação esportiva, um dos times mais tradicionais e antigos da cidade e principal organizador do campeonato, o Joacir e os demais colegas já tinham confirmado presença em algum dos demais times previamente cadastrados.

Ainda faltava o Tonhola e o corajoso do time que o aceitasse.

Sobrou o time do terrão. Tonhola ficou sabendo que o treinador era de fora e assim não era tão exigente com a garotada no início dos treinamentos. Procurado, não durou muito a conversa e o garoto foi inscrito elenco.

Confirmaram o Tonhola como quarto-zagueiro na ficha de inscrição.

O primeiro treino seria num sábado a tarde.

Naquela época não havia coletes para separar a molecada, era um time com e outro sem camisas. Tonhola fora escalado num time sem camisas para o treino inaugural, para o treinador conhecer o potencial que tinha em mãos. O treino começou até que bem, com muita correria, os meninos querendo se mostrar ao treinador, menos Tonhola, ele não tava nem aí para isso, só queria dar chutão pra onde o nariz apontasse, onde fosse que estivesse no campo, até que num desses chutes ele estava meio que de lado e não viu um dos garotos se aproximando para disputar a bola, no que ela veio meio que do escanteio ele foi encher o pé e o menino entrou na frente, tocou a bola primeiro, mas claro, não deu tempo e o quarto-zagueiro Tonhola acertou-lhe um chute nas costas pela altura do rim que fez o moleque se estatalar no chão clamando de dor e buscando o fôlego com falta de ar; foi um corre corre, o treinador apitou forte interrompendo o treino e veio socorrer o menino atingido; ainda bem que tudo não passou de um susto, o moleque se restabeleceu bem, não deu conta mais de seguir no treino, mas já tinha seu lugar assegurando. Já o nosso zagueiro foi convidado a aguardar o restante do treino do lado de fora cedendo o lugar a outro garoto que aguardava a vez de ser chamado.

Não chamaram mais o pobre Tonhola para treinar, sua participação no tão esperado campeonato não passou daqueles poucos minutos do primeiro treino no campo de terra batida.

sábado, 2 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Pastel no Café da Manhã

Naquela época, as aulas de educação física eram duas vezes por semana com início às seis da manhã, o início das aulas era as sete horas.

A molecada começava a malhar uma hora antes do sinal tocar para o início das aulas em sala, por isso tinham que madrugar duas vezes por semana para os exercícios físicos.

Acabada a aula de educação física, os meninos tinham alguns minutos para se refrescarem até o início das aulas. Dava tempo de ir até um bar próximo, que abria às seis da manhã, para tomar um café da manhã. O que não era o costume de Tonhola pois ele levava o lanche de casa, preparado com capricho por sua avó. Mas um dia, um dos colegas de sala o convidou para comer um pastel quentinho feito na hora. Aquilo era novidade para o nosso amigo, pastel com café? Ele não conhecia, mas, curioso, aceitou o convite e foi e comeu e gostou e elogiou, muito bom um pastel de carne quentinho com café ao raiar do sol.

sexta-feira, 1 de abril de 2016

As Travessuras de Tonhola - Bar Quitandinha

Uma outra situação aconteceu com o nosso amigo Tonhola, em condições semelhantes, só que dessa vez não era com sorvete, com café.

Foi no Bar Quitandinha.

O Quitandinha era um bar minúsculo, um retângulo de um metro e meio de largura e comprido de fundo que só cabia o balcão e o pessoal ficava em pé sem bancos pois não tinha espaço.

O Quitandinha, como o nome dizia, servia café e lanches, quitandas.

Certa vez, Tonhola, por impulso, depois de comer um bolo de chocolate com refrigerante, se apossou de uma daquelas colherzinhas de café que estava dando sopa sobre o balcão. De súbito ele colocou uma no bolso e foi pra casa.

Alguns dias se passaram. O filho de Dona Rica, o Alfredo, foi até a casa dela no final do expediente numa de suas visitas rotineiras e viu sobre a mesa a dita colherzinha. Quis saber de onde era e Dona Rica chamou o neto que veio todo avexado e explicou a situação tim tim por tim tim. Mas o Alfredo ficou muito bravo, fez o moleque ir no outro dia bem cedo devolver a colherzinha, pedir desculpas e explicar que havia levado por engano, onde já se viu, o dono do Quitandinha era conhecido dele.

A colherzinha foi devolvida.

A lição foi entendida.