Seguidores

Total de visualizações de página

sábado, 10 de setembro de 2016

As Travessuras de Tonhola - Traque de Salão

Dona Rica não gostava nenhum pouco daquela febre de fogos de artifício durante o período das festas juninas.
A meninada se reunia no final da tarde e soltava fogos de artifício na rua. A maioria era daqueles de se atirar ao chão e ouvir o estalinho. Eram chamados de traques de salão.
Alguns dos meninos, geralmente os maiores e mais atentados, soltavam as bombinhas de diversos tamanhos. Umas pareciam um palito e eram facilmente atiradas para estourarem antes de cair ao chão. Também eram as mais baratas vendidas em caixinhas.
As mais robustas, entortavam latinhas de molho de tomate, litros de óleo de cozinha e até galões de tinta vazios. Eram um perigo, fora o estrondo que era ensurdecedor.
Tonhola insistiu com a avó para que lhe arrumasse algum dinheiro para comprar uma caixinha das bombinhas mais fracas, do tipo palito, ou traques.
- De jeito nenhum! Respondeu rispidamente a avó.
E continuou aos resmungos: - Onde já se viu! Só me faltava essa, você comprar essas bombinhas e se misturar com essa molecada da rua assustando todo mundo. Nem pensar.
Mas, como avó é avó, acabou cedendo e alguns trocados foram liberados, depois de muita insistência e explicações do neto de que os traques eram fraquinhos e só faziam estalos, não ofereciam perigo algum.
Foi o moleque à venda com os trocados que lhe renderam uma caixinha de traques, do tipo palito e ainda alguns pacotinhos de estalos de salão.
Voltou todo contente às pressas para se juntar aos garotos e suas façanhas.
Encontrou os colegas concentrados em uma volta no meio da rua. Aproximou-se também curioso e um dos garotos estava preparando uma bombinha das maiores e sobre ela ia apoiar uma lata vazia de biscoitos. Era uma lata quadrada, bem maior que os litros de óleo que geralmente usavam. Tudo pronto, todos se afastaram e o fogo foi riscado. Tapados os ouvidos, o estrondo foi forte, mas a altura que a lata subiu foi decepcionante, somente alguns metros. Correram para ver e a lata ficou toda estufada, deformada pela potência da bombinha com o fundo todo arredondado.
Passado o susto, Tonhola exibiu orgulhoso aos colegas a caixinha de traques que trouxera. Rapidamente ele acabou com os estalos de salão, atirando aos pés dos colegas que saltavam aos risos.
Quando chegou a vez dos traques, poucos meninos ainda soltavam bombinhas. Tonhola riscou fogo no primeiro palito e o atirou para o alto e, como esperado, ele estourou antes de chegar ao chão e assim foi outro e mais outro. No entusiasmo e com o apoio dos colegas, cada vez ele atirava mais alto os traques até que numa dessas atiradas, o palito foi levado pelo vento que soprava mais forte e foi cair justamente no pescoço de um garoto menor que apenas assistia ao espetáculo se divertindo da calçada.
Final de festa.
O estrago até que foi pouco no pescoço do menino, apenas uma pequena mancha de queimadura. Mas o susto e o chororô foi grande. O menino foi correndo aos berros para sua casa e os demais se debandaram. Tonhola fechou a caixinha com os poucos traques que ainda lhe restavam e se mandou para casa e ficou quietinho no seu canto tentando disfarçar o espiritamento em que estava para a avó.
Passou o horário do jantar e avó percebeu o menino concentrado diante da televisão e pensou que ele devia de ter se cansado com a brincadeira e deixou que estar.
Mais tarde toca a campainha. O coração de Tonhola disparou e com a avó na cozinha, foi o menino abrir a porta.
- Chame sua avó! Falou forte o pai do garoto com o menino atingido seguro pela mão. Nem foi preciso chamar, ao ouvir a aflição do pai, Dona Rica foi ter com o vizinho, ainda enxugando as mãos no pano de prato.
- Dona Rica, olhe só o que seu neto aprontou no pescoço de meu filho. Por pouco não machuca mais grave. E se tivesse atingido o olho? Ser queimado com bombinha na rua, tem base? Só trouxe ele aqui para a senhora ver com seus próprios olhos a mancha de queimadura que ficou aqui no pescoço dele, olhe só, e também porque sabia que seu neto não ia lhe falar nada. Espero que isso sirva de lição e que não mais aconteça.
O queixo de Dona Rica foi ao chão.
Pediu mil desculpas, se ofereceu para cuidar da queimadura, no que foi recusado, a queimadura não foi tão grave.
- Que vergonha! Sinto muitíssimo, com o Tonhola isso não mais ocorrerá. Garanto!
Tonhola, de orelhas murchas, acompanhava tudo ali do lado. Nada podia fazer. Foi sem querer tentou explicar em vão e ainda levou um breque de fica quieto em seu canto.
Aquela foi a única vez que Tonhola comprou bombinhas.