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quinta-feira, 3 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Futebol na Roça

Todos sabiam que Tonhola era um verdadeiro perna de pau em matéria de futebol, mas, fazia parte da turma e por isso não era deixado de lado. Sempre que podiam eles o chamavam, mesmo sabendo que no futebol ele só atrapalhava, mas era boa praça.

Marcaram um jogo de futebol numa fazenda próxima. Organizaram as equipes em duas modalidades, adulto e juvenil. Foram de caminhão, tipo pau de arara, naquele tempo era permitido. O caminhão já era preparado para aquele tipo de transporte e para acomodar os jogadores, eram colocadas tábuas de madeira grossas apoiadas nas grades da carroceria, de modo que dava para todos irem sentados. O organizador, antes de sair avisou, não coloquem as pernas embaixo da tábua da frente, porque se ela se quebrar vocês podem se machucar. E assim foram sem problemas. Lá chegando, o campo ficava ao lado de uma venda, numa bifurcação da estrada e já tinha muita gente aguardando o jogo começar. Não eram somente torcedores do local, o jogo tinha sido muito divulgado no rádio durante a semana, informando o evento e convocando os atletas, por isso tinha também muita gente da cidade. O time local já estava uniformizado batendo bola. Perguntaram onde estava o time juvenil e apontaram para os rapazes batendo bola no capim que eles chamavam de gramado dizendo que eram aqueles lá mesmos, todos uns marmanjos.

Foi o prazo dos meninos se trocarem embaixo de uma árvore e teve início o primeiro jogo do juvenil. Tonhola, é claro, ficou no banco de reservas. O jogo foi uma loucura, no time deles, todos corriam ao mesmo tempo atrás da bola e era chutão pra tudo quanto era lado, pra onde o nariz apontava. Tinha gente até descalço, a maioria estava de kichute e alguns tinham chuteiras com cravos e pregos à mostra. O juiz fora escolhido pelo time local, é claro, mas não teve como interferir no resultado, dada a qualidade dos elencos. O resultado final foi um zero a zero muito bem disputado. Ah! E todos os meninos que foram da cidade participaram, inclusive o Tonhola que entrou no final do jogo e ainda teve temo de dar dois balões, para não fugir à regra.

Antes do final do primeiro jogo, os dois times adultos já estavam preparados à beira do campo pressionando o juiz para dar cabo daquele lastimável espetáculo. Feito isso, imediatamente os times se postaram e teve início o jogo principal.

Ia me esquecendo de um detalhe: o perfil do campo de futebol não era totalmente um plano em linha reta, ficava num terreno inclinado de modo que um dos goleiros só enxergava a metade do outro, dada a topografia irregular.

O jogo foi muito disputado a cada jogada, as bolas divididas eram sempre de forma ríspida e o vigor dos atletas exigiu muito pulso do juiz. Para esse jogo o juiz também fora contratado pela equipe local, só que para valorizar o espetáculo o juiz era do quadro de árbitros da cidade e fora de uniforme e tudo. Até que também não interferiu no resultado. No final do primeiro tempo teve um quiprocó danado no meio do campo depois de uma jogada dura e desleal por parte de um jogador do time local que arrancou sangue na perna do camisa dez visitante, o craque do time. No ato, um dos zagueiros e líder organizador dos visitantes, foi tirar satisfações do agressor e empurra daqui e cospe dali e a torcida inflamada gritava lá de fora: - dá no olho! – quebra a perna dele! Teve gente da torcida entrando em campo para brigar. Para dar fim na confusão o juiz expulsou um de cada lado e finalizou o primeiro tempo ainda faltando alguns minutos e com o jogo sem a abertura do placar.

No intervalo ficava cada time de um lado para acalmar os ânimos, o time local em volta da venda e o time visitante do outro lado embaixo de um jatobá onde estacionaram o caminhão.

Passados os quinze minutos regulamentares do intervalo, o juiz foi ao meio de campo com os bandeirinhas, esses sim, eram gente do local, e apitou chamando os times para o reinício do jogo. Demoraram mais uns dez minutos para se instalarem. Iniciado o jogo, a disputa seguia igual ao primeiro tempo, muito dura. Num lance de sorte, após uma cobrança de escanteio, a bola sobrou quicando naquele capim irregular e o volante do time visitante acertou um petardo da intermediária e a bola saiu baixa e forte, passou por aquele bolorô de jogadores dentro da área que atrapalharam a visão do goleiro e foi morrer lá no canto da rede, para irritação total da torcida e do time local. Um a zero para os visitantes. Depois disso é que o jogo ficou duro mesmo. O time local buscava o empate a todo o custo, mas não tinha futebol para tal e quanto mais o tempo passava, mais eles apavoravam e mais balões davam. Alguns minutos aguentando a pressão, a bola foi ao mato e voltou furada. Naquela época a bola era de capotão, ou seja, de couro, com trinta e dois gomos costurados à mão com uma câmara de ar em seu interior. Apareceram com outra bola que estava no porta malas de um carro, era a última bola de reserva que tinham. Faltavam uns vinte minutos para o final da partida e o resultado seguia a favor dos visitantes quando o goleiro chamou os meninos que estavam por ali assistindo e, sem deixar que alguém da torcida percebesse, falou baixinho ao Tonhola: - procure um prego ou pedaço de arame. Os meninos passaram a procurar disfarçadamente e encontraram um daqueles pregos de cerca em "u" enferrujado e entregaram ao goleiro. Quando a bola foi lançada num mandiocal que ficava atrás do gol, o goleiro visitante saiu correndo buscar e voltou com ela furada. Chamou o juiz e disse que a bola tinha furado. Não tinha mais bola. O juiz teve que encerrar o jogo e o time visitante venceu por um a zero. Foi uma confusão dos diabos.

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