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sábado, 12 de março de 2016

As Travessuras de Tonhola - Casamento na Roça

As festas de casamento naquela época eram regradas com muita fartura.

Dona Rica fora convidada para o casamento da filha de um comerciante influente na cidade. A festa seria numa fazenda.

Alfredo se prontificou a levá-los e foram toda família felizes.

Ali deu gente com gosto. Já na estrada o movimento de carros era grande e a poeira cobria e sujava os cabelos e as roupas das damas e cavalheiros que se protegiam como podiam.

O casamento fora marcado para as onze horas da manhã. Depois, muita comida e bebida puxada por um saboroso churrasco era o prometido pelo anfitrião.

Só que esse casamento demorou um pouco mais que os outros a se realizar. O desajeitado do padre se atrasou. Geralmente quem se atrasa é a noiva, dessa vez foi o padre. O pai da noiva já estava ficando preocupado e quando já tomava providências para mandar buscar o celebrante, ele apontou na entrada da fazenda, de batina, sozinho conduzindo uma lambreta velha e fumacenta.

Celebrado o casamento teve início a melhor parte da festa. A festa, porque a fome já apertava.

Um sanfoneiro começou a tocar acompanhado por um baixinho com um chapéu de couro tocando um triângulo e um magrelo com um boné de político, mais alto que o sanfoneiro, tocando um daqueles tambores compridos. O baixinho parecia ter formiga no corpo e dançava o tempo todo, já o magrelo acompanhava a batida com o tambor e só mexia os pés.

Improvisaram uma tenda de lona onde o sanfoneiro e os músicos num dos cantos tocava. Pelo tamanho da tenda e a animação dos convidados, a dança ia longe e o arrasta-pé ia correr solto, apesar do sol que ardia alto.

Um garrafão de aguardente, de um famoso fabricante local, corria de mão em mão. Pra ninguém desanimar. Os que não bebiam passavam adiante.

Alfredo não bebia pinga. Só chope e cerveja e mesmo assim, muito pouco, só nos finais de semana ou em festas como aquela. E o chope ali também não faltaria, mesmo estando quente. Mas ele sabia que ali não podia beber muito pois teria que dirigir de volta. E para a meninada, muito guaraná, de garrafa pequena de vidro, carinhosamente apelidada de caçulinha. Naquela época não havia refrigerante em embalagens plásticas.

Já sobre a comida, aí sim, realmente a festa começou.

Ao lado da tenda onde os casais se dirigiram para a dança, foi montado um aparato de modo a tapar a visão da enorme mesa onde foram colocados os pratos. Era uma mesa em tábuas de madeira em cavaletes, com um forro de plástico com fotos de frutas e comidas. Sobre a mesa estavam dispostos uns panelões com comidas para todos os gostos. Panelas com vários tipos de carnes cozidas e assadas, uns macarrões grossos e deliciosos com muito queijo ralado por cima, arroz branco, arroz com linguiça, arroz com carne seca, arroz com suã. Meu Deus, quanta comida! E ainda tinha a carne assada nos enormes espetos que eram servidas no final da mesa. Uma fila foi organizada e cada um tomava de seu prato de plástico colorido e se servia a vontade. Que fartura.

Alguém gritou que os noivos iam dançar a valsa e de repente a fila em volta da mesa se esvaziou rapidamente e a criançada fez a festa dentro da festa. Dona Rica teve que acudir para os meninos não abusarem. Tonhola encheu o prato só com o macarrão e já saiam dali comendo em pé mesmo. Comeram e repetiram, até não se aguentarem mais. Aquela festa foi inesquecível e única.

Quando perceberam que a comilança já estava diminuindo, destamparam outra mesa menor, na varanda da casa com uma esplêndida diversidade de doces caseiros. Doces em pedaços, em calda, puxentos, de todos os tipos e sabores. É um abuso. O jeito foi improvisar e levar alguns para comer depois.

Depois daquela festa, os tempos mudaram.

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