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terça-feira, 14 de maio de 2013

De Servente a Empreendedor

O sujeito tinha o sangue quente. Por isso ele não parava em emprego nenhum. Já havia feito de tudo apesar de ainda jovem. Começou como servente de pedreiro, passou por diversos outros tipos de trabalhos e sempre voltava a ser servente de pedreiro toda vez que a coisa apertava. No último emprego o patrão reclamou porque ele chegou atrasado e aquilo foi a gota d'água. A bicicleta amanheceu com o pneu furado e ele teve que ir a pé pois não dava tempo de consertar e também a oficina só abria uma hora depois de sua entrada no serviço. Tentou se justificar o patrão ficou mais nervoso ainda e o jeito foi pedir demissão para não engrossar mais ainda o caldo. Perambulou por alguns dias batendo de obra em obra. Só não contava que àquela altura sua fama de estouradinho já se esparramara pelas obras. Quase sempre era algum funcionário que já trabalhava na obra que se lembrava dele e passava as coordenadas ao chefe que o mandava voltar de uma outra vez. Aquilo foi se tornando insuportável. De tanto bater de porta em porta e sempre dar com os burros n'água. Tomou uma decisão. Não mais trabalharia de peão de obra. Foi procurar outros ares. Vagou pelo centro da cidade atento às lojas abertas, aos transeuntes, aos vendedores ambulantes, a tudo. Aquilo durou alguns dias. Sem dinheiro, sem trabalho, já com o aluguel atrasado e devendo as refeições estava baixando um desespero. As refeições só não lhe foram cortadas porque a dona da pensão gostava dele. Dizia para continuarem porque ele sempre pagara, algumas vezes com atraso, mas sempre pagara e assim ela o bancou. Um dia, mais precisamente num final de semana, sentado num banco de praça, caiu a ficha, como num estalo, resolveu a também ser ambulante. Mas vender o quê? Pensou. E seguiu animado rumo à pensão matutando aquilo na cabeça. Não comentou com ninguém. De manhã, com a cabeça fresca, lembrou de um doce que aprendeu a fazer observando sua mãe e irmãs fazendo. Aquele tipo de doce não havia em lugar algum, não era vendido em bares ou lanchonetes. Era isso. Levantou decidido e pediu ajuda para a dona da pensão que prontamente se ofereceu para ajudá-lo no inicio. Fizeram. O doce foi um sucesso. Vendeu toda a bandeja em poucas horas no centro. Nem precisou andar muito. Com o dinheiro ganho, voltou pra pensão levando insumos para umas três quantidades da feita na primeira vez. Vendeu tudo de novo rapidinho. Aumentou os insumos novamente e uma bandeja já era pouco. A bicicleta já estava pequena para levar tudo, trocou por uma cargueira usada com garupeira que estava parada a dias naquela oficina do início. Providenciou umas caixas e com bandejas na frente a atrás na bicicleta passou a ser conhecido pelos comerciantes que já esperavam por aquela iguaria única. Sucesso total. Em algumas semanas já dava para pagar uma cozinheira para ajudar na preparação e embalagem. Não podia continuar daquele jeito improvisado. Conseguiu uma cômodo no centro onde era uma loja de bijuterias e estava fechado. Alugou direto com o dono que soubera do sucesso do doce. Não precisou documentos, bastava pagar em dia o aluguel. Providenciou imediatamente a instalação da cozinha tudo de acordo com as normas sanitárias que a simpática moça da prefeitura orientou. Nosso servente de obras não cabia em si de contente. Trabalhava de domingo a domingo, acordava de madrugada, preparava tudo, ajudava a fazer os doces e saia ele mesmo a vendê-los, depois conseguiu vendedores e espalhou o doce pela cidade. Abriu conta em banco, contratou mais funcionários. Uma de suas irmãs soube do sucesso e veio de mudança de outra cidade com um filho pequeno, o marido fora trabalhar noutra cidade e há seis meses não dava notícias. A coisa foi crescendo. A irmã assumiu a cozinha para surpresa dele, o filho era uma benção, um doce de criança. Uma empresa de granfinos o procurou sugerindo um marca ao doce e propondo assessoria, mal sabia ele o que era aquilo. Achou interessante. A irmã ficou ressabiada. Colocaram letreiro na loja, propaganda no rádio, no jornal e tudo mais. A coisa desandou. Ficou sabendo que uma empresa com mais estrutura havia lançado doce semelhante e produzia em série e mais barato que o dele e com embalagem mais trabalhada. Começou a perder alguns clientes, os primeiros foram os mercadinhos dos bairros, ele chegava e lá já estava o doce do concorrente. Durou pouco. Teve que fechar as portas para não piorar as coisas. Voltou a ser servente de obras. Só que na cidade que a irmã morava.

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