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domingo, 2 de agosto de 2020

Fila

O sujeito chegou apressado,
viu o tamanho da fila e se apavorou.
Pegou a senha meio que sem querer;
quarenta na sua frente.
Tirou do bolso um bilhete
e confirmou o horário do ônibus;
menos de duas horas para sair.
O jeito é esperar, pensou.
Reparou um guri, o segundo da fila.
Reclamou qualquer coisa;
disseram-lhe da fila:
"segure sua senha e se aquiete".
A aflição lhe tomou de conta,
não se aguentou e foi até o guri::
"vinte paus pra trocar a senha".
O moleque se assustou.
Uma moça logo atrás,
ouviu e se adiantou:
"troco a minha por quinze".
O garoto não gostou
e disse: "tudo bem eu topo".
Pescoços foram espichados.
Alguns resmungos na fila.
O negócio foi fechado.
Ficou por isso mesmo,
ninguém foi prejudicado
por aquele ato indigesto
de corrupção pura.
O corrupto e o corruptor
se entenderam bem
para a indignação de todos
que engoliram quietos.
O sujeito foi atendido,
pagou suas contas e vazou.
O guri foi para o final da fila
sob condenatórios olhares
de grande parte da fila.
Onde se enquadra a moça
que tentou se corromper
corrompendo o corrupto?

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