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segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Juarildo, o soldador

- Bom dia chefe, como foi o final de semana? Perguntou o encarregado de montagens, Lucimar, com jeito de quem quer agradar.
- Bem. O que temos para hoje? Respondeu o chefe, carrancudo.
- Bom, o material para iniciar o barracão da marmoraria ficou retido na barreira, parece que deu um probleminha de excesso de peso na carreta, mas já está sendo resolvido pela transportadora, com isso vou colocar o pessoal pra adiantar as tesouras do galpão do distrito; o pessoal do corte dos arremates continua normalmente. Ah! O Juarildo, soldador, mandou recado que não veio trabalhar porque a mãe dele faleceu ontem.
- Que pena. Tá bom, deixa eu organizar esses papéis aqui e qualquer coisa te chamo. Até mais.
Enquanto o chefe separava os papéis sobre a mesa, pensou: que pena a pobre mãe do Juarildo, coitado, trabalha conosco há tantos anos, ele deve estar arrasado, um bom rapaz, falta ao serviço uma vez ou outra, mas é um bom trabalhador, solteiro ainda, tem uns quarenta e poucos anos mas aparenta ter bem mais, gosta de uma cangibrina, nunca nos negou uma viagem para trabalhar no trecho, sempre disposto a ir onde quer que fosse, já rodou esse Brasil afora conosco, é isso mesmo, vamos lhe prestar essa solidariedade, ele merece.
Bateu a mão na mesa, se levantou e foi até a porta.
- Oh! Lucimar!
- Sim chefe.
- Vem cá, estive pensando melhor e como o material vai atrasar e a equipe está meio que de bobeira, vamos ao velório. Pegue o pessoal e vá no caminhão até a casa dele, vamos prestar esse último ato de fé cristã e amizade.
- É pra já! Um dos meninos é vizinho dele e sabe o endereço.
Desligadas as máquinas, guardadas as ferramentas, se ajeitaram no caminhão que saiu em pouco prazo. A casa do dito cujo ficava um pouco distante, num bairro de periferia, era uma casa simples e não tinha muros e nem cercas fechando o quintal, algumas tabocas ralas de bambu amarradas com arame farpado enferrujado definiam o limite do lote. De longe dava para ver os fundos da casa e a cobertura improvisada que definia a área de serviço. Assim que o caminhão dobrou a esquina viram uma senhora debaixo dessa pequena cobertura, a se proteger do sol forte, com o tanque de lavar abarrotado, dando duro na lavagem de roupas. Era a pobre e miúda senhora mãe do infeliz.
- Mas não é possível! O que deu nesse sujeito? Resmungou o encarregado, danado da vida.
Encostaram o caminhão, ninguém desceu, só o encarregado, pra não assustar a coitada. Ele se apresentou e disse que estavam ali para buscar o Juarildo, ela confirmou que era mesmo a mãe dele e quase sem tirar os olhos da esfregação das roupas com sabão de bola, disse soltando os cachorros pelas ventas que aquele ingrato não tinha voltado para casa no final de semana e que ao mesmo tempo ela estava muito preocupada, que apesar daquele jeito desmiolado dele, um atitude sem propósito como aquela não era do seu feitio, onde já se viu? nem para mandar um recado sequer, como é que podia? um marmanjo com aquela idade, ainda deixar uma pobre e velha mãe com o coração apertado, encasquetada daquele jeito, não tinha cabimento tamanho desaforo. O encarregado ouviu tudo caladinho, desejou-lhe um bom dia, muita saúde, longos anos de vida, pediu mil desculpas pelo incômodo, agradeceu humildemente e voltou ao caminhão. O pessoal na carroceria, às gargalhadas, já sabia onde ele devia estar. Se rumaram para lá e não deu outra, encontraram o pé-de-cana num bar de ponta de rua, jogando sinuca, bêbado como um gambá, com um baita de um hematoma na testa, todo sujo, com a cara de quem tinha passado o fim de semana invernado na manguaça.
- Filho da mãe! Deixa quieto, vamos embora avisar o chefe. Ordenou o encarregado.

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