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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Dona Siridônia

Dona Siridônia era daquelas idosas
que não perdia um velório.
Viúva, aposentada,
abandonada há anos pelos
filhos e netos, todos longe,
perdidos na distância.
Cada velório era um consolo.
Em todos ia direto ao defunto,
admirava os adereços,
a palidez da pele retocada,
comentava falando baixinho:
"a gravata ficou torta,
tem algodão no nariz e no ouvido,
que terno bonito, deve valer uma fortuna,
que desperdício num defunto,
sapatos também, novinhos e brilhando,
essa urna é de primeira, encomendada".
Rezava, rezava muito.
Consolava os familiares,
como se da família fosse.
"Mas que enterro bonito!"
Fora os velórios,
Dona Siridônia perambulava pelas ruas
como se lugar para ir tivesse.
Num daqueles dias com o sol de rachar
Dona Siridônia passou mal e caiu na rua,
chamaram a ambulância
e levaram-na direto ao pronto-socorro.
Em vão.
Dona Siridônia partiu dessa para melhor.
Sem parentes próximos,
a prefeitura tomou as providências.
Não teve velório.

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